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Crítica
Corpo e alma andam juntos em Murakami
DA REPORTAGEM LOCAL
E, porém, ele escreve!
Após percorrer dez
km ao dia, seis dias
por semana, e nos intervalos
praticar um pouco de natação e
ciclismo, Haruki Murakami
(1949) ainda encontra tempo
para falar das provas de longa
distância de que participou em
Nova York, em Boston, na Grécia ou no Japão.
Mas o que conta em "Do que
Eu Falo Quando Eu Falo de
Corrida" é justamente como se
tornou um escritor-atleta -ou
como correr, para ele, é ao mesmo tempo "um exercício e uma
metáfora" do ofício literário.
É claro que a literatura já foi
comparada a coisas bem mais
nobres: à arquitetura em Balzac, à música em Thomas
Mann ou a ela mesma.
Mas Murakami dá passadas
em outra raia -e faz isso bem!
Seu público-alvo, que o
transformou em best-seller,
sempre foram os mais jovens, e
esta obra não descuida deles.
Diz adorar se deslocar ao som
de Red Hot Chili Peppers,
Gorillaz e Beck, mas -os anos
pesam!- se vira bem com Eric
Clapton e Rolling Stones.
E nada como um bom par de
tênis Mizuno, por mais que tenha tentado outras marcas.
No entanto, correr é também
um modo de se posicionar
diante da existência. Um fundista não compete com ninguém, diz, mas contra seu próprio tempo, assim como o escritor luta contra a folha (ou tela)
em branco. Ambos devoram a
solidão como alimento diário.
Além disso, escrever e correr
são atividades humildes, quase
ascéticas, pela escassez de matéria-prima de que necessitam
(embora um tênis Mizuno não
saia assim tão barato).
"Do que Eu Falo..." é uma
narrativa de formação, em que
corpo e alma caminham juntos,
entre uma passada aqui e uma
página ali.
(MARCOS FLAMÍNIO PERES)
DO QUE EU FALO QUANDO EU
FALO DE CORRIDA (versão em
inglês)
Autor: Haruki Murakami
Editora: Vintage Books
Quanto: R$ 19,42 (180 págs.)
Avaliação: bom
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