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crítica
Filme sobre Capote reflete crise criativa
CRÍTICO DA FOLHA
A crise de originalidade por que passam os
roteiristas de Hollywood já andava evidente na
proliferação de ficções "baseadas em fatos reais". E torna-se ainda mais gritante
quando acontece a dupla
produção de uma mesma
história, mesmo sem se tratar de uma refilmagem.
Alguns espectadores vão
se confundir diante de "Confidencial", com a velha impressão de "já vi essa história
antes". Pois esse filme, produzido no ano passado, narra
o mesmo recorte biográfico
já mostrado em "Capote",
realizado um ano antes.
Ambos se detêm sobre a
personalidade peculiar do
escritor Truman Capote e
acompanham seu processo
de investigação do assassinato de três integrantes de uma
família no interior do Kansas
que está na origem da reportagem "A Sangue Frio".
Os longas buscam transmitir ao público uma impressão de veracidade seja
por tomarem por base dois
trabalhos de biógrafos distintos -feitos com o habitual
rigor dos norte-americanos
na área-, seja pelo sofisticado trabalho de direção de arte, fiel na representação dos
universos distintos pelos
quais transitou Capote, do
esnobismo nova-iorquino ao
provincianismo da cidade interiorana do Kansas.
E ainda funcionam como
veículo para atores exibirem
excelentes performances na
encarnação de um tipo conhecido por sua singularidade física e comportamental.
Dado o acúmulo de qualidades, o que resta ao espectador? Ora, é no exercício de
comparação que se encontra
um dos interesses de "Confidencial". Mas não se trata de
contrastar as obras para extrair da disputa conclusões
como "a mais fiel".
Trata-se antes de contrastar para se certificar o quanto a expectativa de veracidade se torna limitadora dos
significados de uma obra de
arte. Em "Confidencial", vemos a lição de casa do verismo seguida à risca, digna de
elogios, com um ator incorporando seu personagem no
sentido espiritista do termo
e o relato preciso do envolvimento emocional do escritor
com Perry Smith, um dos assassinos.
Tais rigores de reconstituição, por sua vez, esvaziam
o filme de ambigüidades e de
riquezas simbólicas. E as
transferem para "Capote",
onde se enxerga com evidência a indagação ética por trás
do percurso do escritor e
seus dilemas pessoais provocados pelo choque com a violência e pela vida tacanha dos
personagens do interior.
Ou seja, mesmo nos filmes
baseados em fatos reais, alguns podem ser mais verdadeiros do que outros.
(CSC)
CONFIDENCIAL
Direção: Douglas McGrath
Produção: EUA, 2006
Com: Toby Jones, Daniel Craig
Quando: estréia hoje nos cines
Bombril, Jardim Sul e circuito
Avaliação: regular
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