São Paulo, sábado, 01 de julho de 2000


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"OFENSAS PESSOAIS"
"Rei" dos dramas de tribunal compõe passatempo honesto

RODOLFO LUCENA
EDITOR DE INFORMÁTICA

Chega às livrarias mais um livro de Scott Turow, o rei dos dramas envolvendo advogados, juízes e outros servidores da lei. Turow provavelmente não vende tanto quanto John Grisham, outro especialista em advogados-heróis, mas solidificou-se como um dos pilares do gênero.
Suas histórias normalmente têm substância, consistência. Os personagens são fortes; a trama envolve o leitor, que consegue uma diversão honesta, sem grandes sobressaltos.
Não é diferente com "Ofensas Pessoais", mais recente trabalho de Turow, um advogado de 51 anos que ainda hoje milita na profissão, apesar de seu milionário sucesso na literatura.
O personagem principal é um advogado corrupto, que foi descoberto por investigadores federais e passou a ser usado como delator e principal esteio de uma operação para desbaratar uma rede de juízes também corruptos.
Mas quem dá condições de a história existir não é o criminoso, e sim o perseguidor. O promotor Stan Sennett é um vingador. Quer a sociedade limpa dos embustes, das negociatas, especialmente no terreno sagrado da Justiça. Não chega ao ponto de querer ser júri, juiz e carrasco, mas é implacável na perseguição de provas que levem a condenações.
Ele é o manipulador, o operador de marionetes. Ele chega mesmo a montar um mundo de faz-de-conta, de falsos processos, para pegar sua presa.
No olho do furacão está Robbie Feaver, o advogado corrupto que dança para a música executada por Sennett. Nas tramas paralelas, destacam-se os dramas pessoais do advogado e seu relacionamento com a agente do FBI cuja missão é "colar" nele.
Tudo muito envolvente, mas longe de ser emocionante como "Acima de Qualquer Suspeita" e "O Ônus da Prova", os melhores trabalhos de Turow. Ambos viraram filmes de sucesso, trajetória que poderá ser seguida também por "Ofensas Pessoais": os direitos de adaptação para o cinema foram comprados por Dustin Hoffman, que deverá incorporar Feaver.
O filme certamente vai procurar fugir do clima meio morno da narrativa, que tem sempre um tom de distanciamento. A causa dessa certa frieza é o fato de a história ser narrada por um dos personagens -o advogado de Feaver, que faz um relato linear, desde o momento em que é contratado até a conclusão da empreitada.
Apesar do tom relatorial que às vezes impregna o curso da história, a força de alguns personagens toma conta da cena.
Robin Feaver, a estrela, é corrupto, sim, porque tem um "caixa dois" e distribui propinas a juízes e funcionários de tribunais para garantir sucesso. Mas também é honestíssimo em sua fidelidade ao sócio no escritório advocatício.
Ele é conhecido como conquistador, mas também é carinhoso e incansável no cuidado de sua mulher, vítima de uma fatal doença degenerativa.
Mesmo Evon Miller, a agente do FBI que vira o "carrapato" do informante, trabalhando no escritório e grudando nele para evitar traição ou erro, foge do estereótipo do agente federal de óculos escuros e expressão impenetrável de jogador de pôquer.
Na verdade, ela tenta se manter nesse padrão, mas acaba se modificando em função do dia-a-dia com Feaver, das tensões de sua vida de mentirinha.
Noves fora, a história não é um thriller, uma sequência de ações que impeça o leitor de largar o livro. Mas não maltrata a inteligência do público e é boa que chegue para garantir o passar do tempo com satisfação.


Ofensas Pessoais     Autor: Scott Turow Tradução: Alves Callado Editora: Record Quanto: R$ 30 (434 págs.)




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