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"OFENSAS PESSOAIS"
"Rei" dos dramas de tribunal compõe passatempo honesto
RODOLFO LUCENA
EDITOR DE INFORMÁTICA
Chega às livrarias mais um
livro de Scott Turow, o rei
dos dramas envolvendo advogados, juízes e outros servidores da
lei. Turow provavelmente não
vende tanto quanto John Grisham, outro especialista em advogados-heróis, mas solidificou-se
como um dos pilares do gênero.
Suas histórias normalmente
têm substância, consistência. Os
personagens são fortes; a trama
envolve o leitor, que consegue
uma diversão honesta, sem grandes sobressaltos.
Não é diferente com "Ofensas
Pessoais", mais recente trabalho
de Turow, um advogado de 51
anos que ainda hoje milita na profissão, apesar de seu milionário
sucesso na literatura.
O personagem principal é um
advogado corrupto, que foi descoberto por investigadores federais e passou a ser usado como delator e principal esteio de uma
operação para desbaratar uma rede de juízes também corruptos.
Mas quem dá condições de a
história existir não é o criminoso,
e sim o perseguidor. O promotor
Stan Sennett é um vingador. Quer
a sociedade limpa dos embustes,
das negociatas, especialmente no
terreno sagrado da Justiça. Não
chega ao ponto de querer ser júri,
juiz e carrasco, mas é implacável
na perseguição de provas que levem a condenações.
Ele é o manipulador, o operador
de marionetes. Ele chega mesmo
a montar um mundo de faz-de-conta, de falsos processos, para
pegar sua presa.
No olho do furacão está Robbie
Feaver, o advogado corrupto que
dança para a música executada
por Sennett. Nas tramas paralelas,
destacam-se os dramas pessoais
do advogado e seu relacionamento com a agente do FBI cuja missão é "colar" nele.
Tudo muito envolvente, mas
longe de ser emocionante como
"Acima de Qualquer Suspeita" e
"O Ônus da Prova", os melhores
trabalhos de Turow. Ambos viraram filmes de sucesso, trajetória
que poderá ser seguida também
por "Ofensas Pessoais": os direitos de adaptação para o cinema
foram comprados por Dustin
Hoffman, que deverá incorporar
Feaver.
O filme certamente vai procurar
fugir do clima meio morno da
narrativa, que tem sempre um
tom de distanciamento. A causa
dessa certa frieza é o fato de a história ser narrada por um dos personagens -o advogado de Feaver, que faz um relato linear, desde o momento em que é contratado até a conclusão da empreitada.
Apesar do tom relatorial que às
vezes impregna o curso da história, a força de alguns personagens
toma conta da cena.
Robin Feaver, a estrela, é corrupto, sim, porque tem um "caixa
dois" e distribui propinas a juízes
e funcionários de tribunais para
garantir sucesso. Mas também é
honestíssimo em sua fidelidade
ao sócio no escritório advocatício.
Ele é conhecido como conquistador, mas também é carinhoso e
incansável no cuidado de sua mulher, vítima de uma fatal doença
degenerativa.
Mesmo Evon Miller, a agente do
FBI que vira o "carrapato" do informante, trabalhando no escritório e grudando nele para evitar
traição ou erro, foge do estereótipo do agente federal de óculos escuros e expressão impenetrável
de jogador de pôquer.
Na verdade, ela tenta se manter
nesse padrão, mas acaba se modificando em função do dia-a-dia
com Feaver, das tensões de sua vida de mentirinha.
Noves fora, a história não é um
thriller, uma sequência de ações
que impeça o leitor de largar o livro. Mas não maltrata a inteligência do público e é boa que chegue
para garantir o passar do tempo
com satisfação.
Ofensas Pessoais
Autor: Scott Turow
Tradução: Alves Callado
Editora: Record
Quanto: R$ 30 (434 págs.)
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