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São Paulo, sexta-feira, 01 de agosto de 2003

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MÚSICA

Ministro Gilberto Gil abre "Agosto Negro", mês de shows, debates e eventos dedicados ao gênero em São Paulo

Festival quer rimar hip hop com política

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

Em sua segunda edição, o festival paulistano "Agosto Negro" leva a cultura hip hop a um patamar inédito de exposição e interação com a política cultural.
A intensa programação (leia ao lado) começa hoje com um debate em que estarão presentes representantes do hip hop (os rappers Thaíde e Xis, o DJ Eugênio Lima e o dançarino Marcelinho Backspin), mas também a prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, e o ministro da Cultura, Gilberto Gil.
Antes do debate, Thaíde lerá para Gil um protocolo de intenções com propostas para uma atuação conjunta entre o movimento hip hop e o Ministério da Cultura.
"Quando participei do "Black August" de Cuba, não esperava que dali a pouco o ministro da Cultura do Brasil ia ser um negro, nem que seria o Gilberto Gil", admira-se o rapper Xis.
Ele define, no entanto, o documento e o encontro como mais simbólicos que efetivos. "Ainda acho que é pouco, tudo é pouco. Mas é um começo."
O festival prosseguirá durante todo o mês com shows, festas, debates, workshops, campeonato de DJs, apresentações teatrais ligadas ao hip hop e uma mostra do Cinema Feijoada, braço cinematográfico do novo movimento negro local. Foi idealizado pela Coordenadoria de Juventude da Prefeitura, que não precisa o montante investido em 2003.
Sob curadoria de Thaíde, dezenas de grupos estabelecidos de rap farão apresentações gratuitas com convidados da nova safra e de outros Estados, em mais de 30 pontos dispersos pela cidade.
Shows coletivos acontecerão no centro de São Paulo, na praça da República e na av. São João, mas a maior parte da programação se concentra em bairros das periferias da cidade.

Racionais
Ausência evidente no "Agosto Negro" é dos Racionais MC's. Explica o coordenador de Juventude, Alexandre Youssef: "Não há problema algum com eles. Só não conseguimos adequá-los ao formato imaginado, de convidados com mesmo padrão de tamanho e fama. É difícil fazer shows dos Racionais em praça aberta".
Com o subtítulo "Hip Hop Salva", o festival sublinha a intenção de fazer com que o movimento seja usado como vetor de inclusão social e controle da violência.
"Um grupo como os Racionais faz o papel do violentamente pacífico. Seu discurso tem uma capacidade de comunicação direta com o público-alvo. E o discurso que elegemos é o da não-violência", afirma Youssef. Segundo ele, a Prefeitura ainda não dispõe de dados estatísticos que demonstrem tal efeito pacificador.
Um dos redatores do protocolo, o DJ Alex Cecci fala das metas do movimento, seja no contato com o MinC ou no "Agosto Negro":
"Queremos desmistificar idéias de bandidagem, marginalidade, gueto. Esse público-alvo é muito suscetível, vai na onda do seu herói no palco. Nosso dever é propagar mensagens positivas, de não-violência. O hip hop é uma ferramenta, uma porta de entrada".
Para redigir o documento que Gil recebe hoje de Thaíde, abrindo o "Agosto Negro", a comunidade hip hop elegeu um conselho de 32 pessoas. O grupo propõe formar uma comissão com cinco de seus membros e um representante do MinC, que ajudaria a definir projetos federais de disseminação do hip hop como veículo de inclusão sócio-cultural e racial.


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