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Vik Muniz lança livro e é tema de mostras
"Reflex" reúne memórias e reflexões sobre a arte; livro foi escrito pelo artista em inglês em 2005 e agora ganha versão brasileira
Artista paulistano tem suas fotografias nos principais museus do mundo
TEREZA NOVAES
DA REPORTAGEM LOCAL
Ele está no topo do mundo. O
artista paulistano Vik Muniz,
45, tem obras nos principais
museus de arte contemporânea
do planeta e colecionadores
ávidos por suas fotos, que reproduzem meticulosos desenhos feitos a partir de matérias-primas como chocolate,
poeira, brinquedos e sucata.
Muniz divide agora suas conquistas no livro "Reflex, Vik
Muniz de A a Z" (Cosacnaify,
187 págs., R$ 85). Misto de memórias e reflexões sobre a arte,
o livro foi escrito originalmente
em inglês e lançado em 2005
nos EUA, onde ele vive.
Obras do artista poderão ser
vistas em duas mostras em São
Paulo: uma será inaugurada hoje, no Paço das Artes, e outra,
no próximo sábado, na galeria
Fortes Vilaça, que o representa
no Brasil. Suas fotografias -cada imagem ganha 12 tiragens-
são comercializadas por valores entre US$ 5.000 e US$ 30
mil (R$ 9.500 e R$ 57 mil).
"Ele é um fenômeno", afirma
Marcia Fortes, diretora da galeria. "Hoje a oscilação é muito
grande. Ele está em alta há dez
anos. Seu sucesso é estrondoso
e seu currículo, muito sério."
Em entrevista, ele rebate os
críticos que consideram sua arte comercial. "A única arte não-comercial é a que não vende, eu
vendo meus trabalhos." Leia a
seguir os principais trechos.
FOLHA - "Reflex" foi escrito em inglês e só agora ganha uma versão
em português. Como foi o processo?
VIK MUNIZ - Passei metade da
minha vida nos EUA, então escrever em inglês é muito natural para mim. Mas acho que estava procurando uma voz para
começar o livro, porque queria
que ele fosse, ao mesmo tempo,
bastante pessoal e universal,
que pudesse comunicar coisas
sobre fotografia que acumulei
nesses anos. A voz pessoal eu já
tinha, mas essa voz um pouco
fora de mim, mais isolada, apareceu em inglês pela primeira
vez. Tentei traduzir com uma
tradutora, mas no fim tive que
reescrever em português. A
versão em português foi um
pouco mais difícil, estava meio
enferrujado e também pelo fato
de ser uma tradução. Escrever é
mais fácil que traduzir.
FOLHA - Quais conselhos daria a
um jovem artista?
MUNIZ - O livro é uma compilação desses conselhos. Mas acho
que a mensagem é: se eu consegui, qualquer um consegue. Tudo é possível. É só não parar.
FOLHA - Há muitas citações no livro. Quais foram os autores que
mais o influenciaram?
MUNIZ - O livro tem muitas citações para ter a mesma dinâmica das fotos. Sou muito saudosista, quando alguém fala algo interessante, eu guardo.
Adoro [Jorge Luis] Borges, porque lida com o que é real e o que
não é. Gosto muito de humor,
[Mark] Twain me inspira. Fora
disso, adoro clássicos como
"Ilha do Tesouro" e "Moby
Dick". Quando era pequeno
morava no [bairro paulistano]
Jaraguá, minha mãe não me colocava no caratê, então tinha
muito tempo para ler.
FOLHA - Qual é sua opinião sobre o
mercado de arte hoje?
MUNIZ - Não posso falar melhor. A arte voltou a ser encarada como forma de investimentos. Tem um lado positivo, que
permite ao artista viver melhor, não trabalhar só para sobreviver. Mas por outro, tem a
"commodificação" da arte,
comprar para depois vender.
Em toda minha carreira, nunca
vi o mercado tão aquecido.
FOLHA - Você acha que há um descompasso entre crítica e público em
relação ao seu trabalho?
MUNIZ - O artista faz metade
do trabalho e o público faz o
resto. Existe muita pretensão e
elitismo, e muita gente usa a arte como uma barreira que separa quem sabe e quem não sabe.
Acho uma bobagem. É uma espécie de esquema que exclui.
Tem gente que não interage
com a arte por inibição, por medo de entrar numa galeria. Da
mesma forma, há quem não leia
um livro de arte pela maneira
como é escrito, porque começa
a citar Adorno e Baudrillard.
Não dá para falar o que é? Tem
que usar tanta referência?
FOLHA - Há um preconceito com a
arte comercial?
MUNIZ - É lógico. Para mim, a
única arte não-comercial é
aquela que não vende. Sou um
artista comercial, vendo meus
trabalhos. Tem essa idéia de
que aquilo que não vende é
mais valioso, em termos intelectuais. Artistas como Mike
Kelley e Paul McCarthy só fazem trabalho com nojeira, com
meleca. Não é para vender e
acaba vendendo. Um trabalho
do Kelley custa US$ 500 mil,
mais comercial que isso eu não
conheço. Queria ver alguém me
chocar fazendo um vaso de flores ou uma marina e ainda assim adicionar alguma coisa.
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