São Paulo, sábado, 1 de agosto de 1998

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LIVRO - LANÇAMENTOS
Pitágoras inspira arquiinimigo de Bond

AMIR LABAKI
de Nova York

Se Pierce Brosnan foi fundamental para o relançamento da franquia James Bond nos cinemas, Raymond Benson não tem sido menos importante para a retomada da série nas livrarias.
"The Facts of Death" (Os Fatos da Morte), recém-lançado na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos, é seu segundo romance em dois anos.
Benson reinventou 007 em livro ao combinar o estilo mais descritivo e psicológico de Ian Fleming à estrutura fragmentada do James Bond das telas do cinema. Encontrada a fórmula para superar o desafio literário, restava a questão política.
James Bond nasceu como um típico herói do mundo bipolarizado da Guerra Fria. Ultrapassada a partir da revolução democrática ocorrida no Leste Europeu, em 1989, como salvar o agente 007 da aposentadoria?
A sacada para reposicionar Bond no multipolar mundo contemporâneo tem sido envolvê-lo numa querela regional, com potencial explosivo, em alguma ex-colônia britânica.
No romance de estréia de Benson, "Zero Minus Ten", lançado no ano passado, não se poderia perder a oportunidade histórica da devolução, pelos ingleses, do controle sobre Hong Kong para a China.
Mediterrâneo
Com notável senso diplomático, Benson aponta agora para a tensa situação na ilha de Chipre, em pleno Mar Mediterrâneo. Ex-jóia da coroa britânica, independente desde 1960, Chipre vive há 25 anos cindida entre a minoria de origem turca (200.000 pessoas) ao nordeste e a maioria grega (650.000) no restante da ilha.
Tropas da ONU, com forte presença inglesa, tentam evitar nova escalada de violência étnica, enquanto turcos defendem a autonomia para seu enclave e gregos exigem pronta retirada.
Nesse cenário, desenvolve-se o essencial de "The Facts of Death". O supervilão da vez, Konstantine Romanos, organiza sua Decada (a mais nova sucessora da Spectre) a partir de princípios filosóficos emprestados de Pitágoras.
Seu arsenal não é menos sofisticado, ainda que muito mais atual: armas biológicas, transportadas pelo mundo disfarçadas pelo comércio de esperma.
Pausa melancólica
Romanos alia-se a uma organização de extrema-direita dos Estados Unidos, permitindo ao americano Benson escrever surreais páginas de 007 em ação na inóspita Austin, Texas.
Bond conta com o apoio de um veterano da série, o agente aposentado da CIA Felix Leiter, bastante combalido pelos anos de atividade.
O reencontro entre Bond e Leiter desacelera a trama numa pausa melancólica que remete aos melhores momentos de Ian Fleming.
Benson volta a honrar o patriarca ao estabelecer a mais humana e cordial relação recente entre Bond e M, seu chefe no serviço britânico de inteligência.
Na literatura como no cinema, o cargo é agora ocupado por uma mulher. Batizada Barbara Mawdsley, M tem finalmente ampliada sua participação no enredo, ao apaixonar-se por um charmoso político de trágico destino.
Enquanto salva o mundo e tenta se manter vivo, 007 como sempre dirige os melhores carros e farta-se na mesa e na cama.
Sua parceira grega, a agente Niki Mirakos, supera a caricatura de praxe. Ainda mais interessantes na trama são duas vilãs bissexuais, Hera e Melina, que parecem escritas sob medida para Ellen DeGeneres e Anne Heche repetirem na telas o romance das ruas. Seria o primeiro verdadeiro teste ao carisma de Pierce Brosnan como James Bond.

Livro: The Facts of Death Autor: Raymond Benson
Lançamento: G.P.Putnam's Sons, 264 págs
Encomendas pela Internet: www.amazon.com


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