São Paulo, segunda-feira, 01 de setembro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Pauleira

Metallica lança nono disco, "Death Magnetic", de volta ao thrash metal dos anos 80; o guitarrista Kirk Hammet fala sobre as brigas e o momento atual 'de inspiração'

Helmut Fohringer - 5.jul.07/Efe
Kirk Hammet, guitarrista do Metallica, em ação em Viena

JOSÉ FLÁVIO JÚNIOR
ENVIADO ESPECIAL A LONDRES

Menos de 24 horas após encerrar o festival de Leeds para 60 mil pessoas, o guitarrista Kirk Hammet espera pela imprensa num quarto do hotel Claridge's, um dos mais sofisticados de Londres.
Com lançamento mundial no próximo dia 12, "Death Magnetic" justifica o empenho da gravadora Universal em promovê-lo. O nono álbum de estúdio do Metallica tem tudo para alcançar boas vendas nesta atual fase negra do mercado fonográfico, uma vez que resgata a sonoridade thrash metal que deu fama ao grupo nos anos 80.
Hammet respondeu sobre o que aconteceu com a banda depois das traumáticas gravações de "St. Anger", sobre o fim da longa parceria com o produtor Bob Rock (e o início de uma com Rick Rubin) e seu papel apaziguador na formação. Leia a seguir os principais trechos da entrevista.

 

FOLHA - Agora que já se passaram cinco anos desde o lançamento de "St. Anger", como você vê esse álbum na discografia do Metallica?
KIRK HAMMET -
Acho que é o álbum que precisávamos fazer para chegar ao ponto em que estamos agora, para voltarmos a ser uma banda. Era uma situação em que estávamos nos destruindo. Fizemos o melhor que conseguimos naquelas circunstâncias. Agora estamos ótimos, inspirados. A grande diferença é que, durante o processo do "St. Anger", éramos três caras e o [produtor] Bob Rock tocando baixo. Não éramos o Metallica. Quando o Rob [o baixista Robert Trujillo] entrou na banda, depois da gravação do "St. Anger", levou um tempo para nos acostumarmos com a nova situação, acharmos nossa química e descobrirmos o papel dele na banda. Começamos a escrever as músicas do "Death Magnetic" e percebemos que ele era parte da família. Então, neste novo álbum, finalmente soamos como uma banda outra vez.

FOLHA - Na turnê do "St. Anger", muitas vezes vocês tocavam só duas músicas do disco. Depois que o lançaram, perceberam que era ruim?
HAMMET -
Não, eu nunca disse isso. Acho que ele é um grande disco, fantástico. Sei que tem muita gente que discorda de mim, mas acho que algumas músicas são demais. "Frantic" é tão boa quanto qualquer canção que já escrevemos.

FOLHA - Você pode descrever como é um dia no estúdio com Bob Rock e outro com Rick Rubin?
HAMMET -
Isso é praticamente a diferença entre a noite e o dia. Bob Rock é o tipo do cara que domina o estúdio. É o primeiro a chegar, o último a sair. Rick Rubin nos colocou no caminho para a essência da banda. Ele nos deixou por nossa conta. Isso resultou numa visão pura do Metallica, menos diluída por um membro de fora. Quando tínhamos discussões com Rubin, o interessante era o fato de ele não ser músico. Só conseguia interferir com coisas simples. Falava "isso funciona" ou "isso não funciona", usando apenas a intuição. Para mim, foi ótimo, quase uma revelação. Não houve muita intelectualização da música.

FOLHA - O disco novo tem um clima bem thrash metal dos anos 80. E isso também dá para sentir no disco dos irmãos Cavalera...
HAMMET -
Acabei de ver um show deles, por sinal.

FOLHA - Você acha que talvez possamos estar vivendo o começo de um revival dessa sonoridade?
HAMMET -
É totalmente possível. O thrash metal oitentista está influenciando muita gente. Tem bandas, como Lamb of God, Tivium e Shadows Fall, que emulam aquele som. E essa é uma geração novíssima de bandas. Dá para ver de duas formas: achar que essa onda nunca desapareceu ou que as pessoas estão fazendo um revival para retornar àquela essência. Essa essência sobre a qual tanto falo está fincada nos anos 80. É impossível negar.

FOLHA - Rick Rubin chegou a estimular a banda a soar mais vintage?
HAMMET -
Não usaria a palavra vintage porque isso indica algo velho e que sempre será velho. O que fizemos foi pegar alguns elementos do nosso som dos anos 80 e aplicá-los ao que estamos fazendo no presente. Isso nos permitiu criar algo moderno e novo. Não acho que esse álbum soe vintage. Isso foi a única coisa que não quisemos fazer: um disco vintage.

FOLHA - No documentário "Some Kind of Monster", você parece ser o mais centrado. Como consegue manter a sanidade no meio das brigas entre [o baterista] Lars [Ulrich] e [o vocalista] James [Hetfield]?
HAMMET -
Eu também brigo muito com eles. Algumas vezes, fico pensando por que ainda faço isso. É a dinâmica das nossas personalidades que nos coloca nessas situações, mesmo quando a química musical está legal. Sou um cara que consegue ver tudo de uma maneira bem clara. Estou sempre tentando fazer com que as coisas não cheguem longe demais.

FOLHA - Você pode falar da importância de Robert Trujillo, já que esse é o primeiro disco que ele grava com o Metallica?
HAMMET -
Robert é ótimo. Ele completou aquele espaço que estava faltando e que vínhamos procurando desde que Cliff Burton morreu. Jason Newsted ficou na banda por 14 anos, mas não acho que ele tenha desempenhado o papel que queríamos completamente. Já o Rob é um grande músico, um grande compositor, superpositivo e energético, com uma atitude que nos inspira.

FOLHA - Você tem lembranças das suas passagens pelo Brasil?
HAMMET -
Sempre adoro ir para o Brasil. As pessoas são calorosas, o país é lindo. Amo bossa nova, Tom Jobim, João Gilberto. E adoraria ir para o Brasil para surfar, pois isso nunca tive tempo de fazer. As mulheres são bonitas, a comida é maravilhosa. Estaremos em turnê pelos próximos dois anos e vou torcer para que a América do Sul esteja no calendário.


O jornalista JOSÉ FLÁVIO JÚNIOR viajou a convite da gravadora


Texto Anterior: Mônica Bergamo
Próximo Texto: Crítica: Banda volta ao passado em cacetadas
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.