São Paulo, quinta-feira, 01 de setembro de 2011

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DEPOIMENTO

Naquele dia tenebroso eu senti, de fato, a dor de uma catástrofe

EDGARD ALVES
DE SÃO PAULO

Foi um dia tenebroso e, quando aquelas imagens retornam à minha cabeça, fico arrepiado.
Alertado por colegas que tinham ouvido pelo rádio o início do incêndio, saí direto de casa para o local.
Quando cheguei, o prédio em chamas, gritos, muitos gritos. Lembro de uma voz desesperada: "Estão pulando".
Caos, sirenes da polícia, bombeiros e ambulâncias, mais barulho de helicópteros.
Consegui um telefone público e avisei a Redação que já estava na cobertura.
Repórteres sempre tinham fichas de telefone no bolso.
Após também ter acompanhado a catástrofe do Andraus, dois anos antes, naquele dia fiquei convencido de que, se havia heróis no mundo, eles eram bombeiros.
Os caras entravam naquele inferno para tentar alguma coisa, muitos voltavam carregados, desmaiados.
Um PM voltou cambaleando. Tirou a toalha que cobria o rosto, imediatamente o reconheci: Luís Faustino Pires, campeão sul-americano dos pesos-pesados, que tinha no cartel um combate contra George Foreman, uma derrota, mas nos bons tempos de Foreman.
Com uma colega do Grupo Folha, consegui convencer um funcionário do prédio ao lado, entramos e subimos até o último andar.
Aí eu senti, de fato, a dor de uma catástrofe: corpos carbonizados sobre o parapeito de uma ala do Joelma e, no outro telhado, não alcançado diretamente pelo fogo, corpos de vítimas de asfixia, aproximadamente 30.
Minha colega entrou em parafuso, discursou contra políticos, autoridades, militares. Os bombeiros a levaram ao andar abaixo, para que se recuperasse.
Pouco depois, quebravam telhas para retirar dezenas de cidadãos que tentaram escapar por lá, sem êxito.
Hoje me pedem para escrever sobre aquele dia triste. Resisto, mas não recuso. Afinal, apesar dos novos tempos, sou um jornalista que sempre teve ficha de telefone no bolso.


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