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Para sua primeira individual, artista criou esculturas com couro de vaca e lã de carneiro em que trata de história da arte, memória da infância
e problemas sociais
Keila Alaver cria Sagradas Famílias contemporâneas
CELSO FIORAVANTE
da Reportagem Local
Atração e repulsa. Idílio e violência. Entre essas e outras dicotomias, caminha Keila Alaver, 27,
que apresenta alguns desses seus
passos recentes a partir de hoje na
galeria Luisa Strina.
São esculturas construídas com
couro de vaca comprado no meio
de seu processo de curtimento,
ainda úmidos, o que possibilita
sua moldagem, realizada em bonecas e manequins. Os cabelos são
de lã de carneiro.
Keila tenta conferir-lhes uma conotação social, relacioná-los com
a violência das ruas e o abandono
da infância, mas o estético se sobrepõe ao ético com facilidade.
Diante deles, prevalece o que é forma e desaparece aquilo que é fato.
Keila cria cenas contemporâneas
idílicas e trágicas, que se desenvolvem geralmente em torno de uma
bacia ou tina, criando assim um
ambiente pastoril e ascético, mas
que revela ainda situações de domínio, autoritarismo e perversão
frequentes na infância.
Segundo a artista, a sala de banho promove um contato mais íntimo entre os personagens, mais
do que em torno de uma mesa ou
de uma cama. "Isso possibilita
uma proximidade maior entre
eles, mais intimidade", disse.
As tinas, porém, funcionam como manjedouras, em torno das
quais se agrupam essas Sagradas
Famílias contemporâneas (leia
texto ao lado).
A referência maior da artista,
porém, é a sua própria obra e suas
memórias. A recriação de imagens
coletivas e íntimas entre crianças,
por exemplo, remete aos primeiros trabalhos da artista: "light boxes", em que manipulava fotografias suas e de amigos.
Mesmo as cenas familiares, que
haviam sumido nos trabalhos da
mostra Panorama (fragmentos de
corpos em "berços cirúrgicos"),
ano passado no MAM, ou nos trabalhos autobiográficos da mostra
coletiva "Forma Perversa", voltam agora na figura de dois gêmeos, criados a partir da lembrança de dois primos da artista.
Suas novas esculturas são corpos
dilacerados e impassíveis, insensíveis à dor do corte e à ineficiência
de suturas, que apenas revelam
seus pequenos corpos vazios.
O contexto social defendido por
Keila pode ser visto nos materiais
usados. Suas crianças-frankenstein -compostas por pedaços de
animais- refletem a violência de
uma sociedade que animaliza seus
homens, retira deles o que é íntimo e lhes concede apenas a pele
dura, onde possam carregar suas
marcas e cicatrizes.
Mostra: Keila Alaver (cinco grupos de esculturas realizadas em
couro e lã de carneiro)
Onde: galeria Luisa Strina (r. Padre João Manuel, 974A, tel.
011/280-2471, Jardins)
Vernissage: hoje, às 19h
Quando: de segunda a sexta, das
10h às 20h; sábado, das 10h às 14h
Quanto: US$ 3.000 (cada grupo)
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