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MÚSICA
Premiação da MTV adota caráter didático, privilegia shows e faz referências à corrupção na política brasileira
CPM 22 e Pitty vencem em VMB irônico
Flávio Florido/Folha Imagem
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A cantora Pitty, que venceu como "ídolo"; baiana diz que não se imagina modelo para ninguém |
BRUNO YUTAKA SAITO
THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL
No ano em que a MTV prometia
dar mais atenção à música do que
às celebridades, o 11º Vídeo Music
Brasil, anteontem, adquiriu ares
de resgate de credibilidade e busca pela ética. Ao mesmo tempo
em que ensaiou críticas ao caráter
"fake", de aparências, do pop, teve como grandes destaques artistas "autênticos", como a banda
CPM 22 (escolha da audiência,
clipe de rock e "guitarrista dos sonhos") e a cantora Pitty (ídolo do
ano e "cantora dos sonhos").
A cerimônia toda foi uma espécie de resposta à antiga fama de
que, nas premiações do canal, tudo seria jogo de cartas marcadas.
Esse clima ambíguo de provocação guiou a noite, já no primeiro prêmio. Na categoria clipe
de MPB, venceu o rapper Marcelo
D2. "Não sei o que tô fazendo
aqui. Odeio MPB. MPB pra mim é
samba", disse D2. Ao fazer sua autocrítica (e auto-sátira), o canal
justificava seus ganhadores.
Durante a cerimônia, o apresentador Selton Mello brincava com
o jogo de ilusões. Teatro que se
completava com os atores que circulavam pelo Credicard Hall fantasiados de personagens como
Hulk, Tim Maia, Zacarias etc.
Ao fazer a opção por dois músicos de gêneros diferentes, interpretando canções que lhes eram
pouco familiares, para a entrega
dos prêmios, a MTV descartava a
fórmula dos anos anteriores, em
que celebridades extramusicais
apresentavam os vencedores. Dava, sim, mais espaço à música.
Mas foi justamente nessa escolha que o circo pop caía por terra
-ou era essa a intenção? Como
levar a sério Wanessa Camargo e
Felipe Dylon em versões roqueiras, cantando Raul Seixas, por
exemplo? "Foi uma oportunidade
única. Maneiro", disse Dylon. "Fiquei maravilhada, achei lindo!",
completou Camargo. Ou então, a
"descoberta" de Champignon,
após "duelar" com Elza Soares
num rap, antes de apresentar o
vencedor de clipe de música eletrônica [Marcelinho da Lua]: "O
samba com a eletrônica é uma fusão revolucionária".
Gerações diferentes
Enquanto vinhetas com o Massacration, a banda dos humoristas do "Hermes & Renato", explicava, à base de caricaturas, a função de cada membro de uma banda de rock, a baiana Pitty ensaiava
cara de surpresa ao vencer na categoria "ídolo". "Claro que eu não
sabia [da homenagem]", afirmou.
"Nunca me imaginei como modelo de ninguém."
Foi um VMB, portanto, em que,
na superfície, os novos ganharam
dos velhos. "Deus olhou para nós,
até que enfim", bradava Badauí,
vocalista do CPM 22. Já o veterano Ira! venceu em "melhor performance ao vivo", nova categoria
que justifica a existência dos inúmeros "acústicos" e discos ao vivo da emissora. "É o nosso primeiro prêmio [em toda a história
do VMB]. Parece que estamos começando agora", disse o guitarrista Edgard Scandurra.
Se até certo momento a autocrítica era apenas velada, foi Selton
Mello quem deu a largada para as
brincadeiras com o Brasil do
mensalão, sugerindo a "CPI do
VMB". Ele mesmo apresentou o
vencedor de melhor diretor [levou o Autoramas, que também
ganhou em melhor edição e melhor clipe independente]. Mello
concorria com o clipe do Ira! A
partir daí, foi só política -bem a
calhar para o caráter didático da
noite. João Gordo, com Zeca Pagodinho, cantou sambas: "Paulo
Maluf é coisa nossa/ A corrupção
é coisa nossa". Já no fim, o Titãs
tocou a nova "Vossa Excelência",
inspirada por roubalheiras. "Políticos, lavem bem as carinhas que a
gente tá de olho em vocês", disse
Mello. Se em todos os anos, o
VMB é uma triste e fiel vitrine do
pop brasileiro, nesta edição o canal foi especialmente revelador ao
soltar uma grande risada.
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