São Paulo, sábado, 01 de outubro de 2005

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MÚSICA

Premiação da MTV adota caráter didático, privilegia shows e faz referências à corrupção na política brasileira

CPM 22 e Pitty vencem em VMB irônico

Flávio Florido/Folha Imagem
A cantora Pitty, que venceu como "ídolo"; baiana diz que não se imagina modelo para ninguém


BRUNO YUTAKA SAITO
THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

No ano em que a MTV prometia dar mais atenção à música do que às celebridades, o 11º Vídeo Music Brasil, anteontem, adquiriu ares de resgate de credibilidade e busca pela ética. Ao mesmo tempo em que ensaiou críticas ao caráter "fake", de aparências, do pop, teve como grandes destaques artistas "autênticos", como a banda CPM 22 (escolha da audiência, clipe de rock e "guitarrista dos sonhos") e a cantora Pitty (ídolo do ano e "cantora dos sonhos").
A cerimônia toda foi uma espécie de resposta à antiga fama de que, nas premiações do canal, tudo seria jogo de cartas marcadas.
Esse clima ambíguo de provocação guiou a noite, já no primeiro prêmio. Na categoria clipe de MPB, venceu o rapper Marcelo D2. "Não sei o que tô fazendo aqui. Odeio MPB. MPB pra mim é samba", disse D2. Ao fazer sua autocrítica (e auto-sátira), o canal justificava seus ganhadores.
Durante a cerimônia, o apresentador Selton Mello brincava com o jogo de ilusões. Teatro que se completava com os atores que circulavam pelo Credicard Hall fantasiados de personagens como Hulk, Tim Maia, Zacarias etc.
Ao fazer a opção por dois músicos de gêneros diferentes, interpretando canções que lhes eram pouco familiares, para a entrega dos prêmios, a MTV descartava a fórmula dos anos anteriores, em que celebridades extramusicais apresentavam os vencedores. Dava, sim, mais espaço à música.
Mas foi justamente nessa escolha que o circo pop caía por terra -ou era essa a intenção? Como levar a sério Wanessa Camargo e Felipe Dylon em versões roqueiras, cantando Raul Seixas, por exemplo? "Foi uma oportunidade única. Maneiro", disse Dylon. "Fiquei maravilhada, achei lindo!", completou Camargo. Ou então, a "descoberta" de Champignon, após "duelar" com Elza Soares num rap, antes de apresentar o vencedor de clipe de música eletrônica [Marcelinho da Lua]: "O samba com a eletrônica é uma fusão revolucionária".

Gerações diferentes
Enquanto vinhetas com o Massacration, a banda dos humoristas do "Hermes & Renato", explicava, à base de caricaturas, a função de cada membro de uma banda de rock, a baiana Pitty ensaiava cara de surpresa ao vencer na categoria "ídolo". "Claro que eu não sabia [da homenagem]", afirmou. "Nunca me imaginei como modelo de ninguém."
Foi um VMB, portanto, em que, na superfície, os novos ganharam dos velhos. "Deus olhou para nós, até que enfim", bradava Badauí, vocalista do CPM 22. Já o veterano Ira! venceu em "melhor performance ao vivo", nova categoria que justifica a existência dos inúmeros "acústicos" e discos ao vivo da emissora. "É o nosso primeiro prêmio [em toda a história do VMB]. Parece que estamos começando agora", disse o guitarrista Edgard Scandurra.
Se até certo momento a autocrítica era apenas velada, foi Selton Mello quem deu a largada para as brincadeiras com o Brasil do mensalão, sugerindo a "CPI do VMB". Ele mesmo apresentou o vencedor de melhor diretor [levou o Autoramas, que também ganhou em melhor edição e melhor clipe independente]. Mello concorria com o clipe do Ira! A partir daí, foi só política -bem a calhar para o caráter didático da noite. João Gordo, com Zeca Pagodinho, cantou sambas: "Paulo Maluf é coisa nossa/ A corrupção é coisa nossa". Já no fim, o Titãs tocou a nova "Vossa Excelência", inspirada por roubalheiras. "Políticos, lavem bem as carinhas que a gente tá de olho em vocês", disse Mello. Se em todos os anos, o VMB é uma triste e fiel vitrine do pop brasileiro, nesta edição o canal foi especialmente revelador ao soltar uma grande risada.


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