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Holandês se inspira no "inferno" paulistano
EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL
Recorrente candidato ao Nobel
de Literatura, o escritor Cees
Nooteboom, 72, é conhecido como "holandês voador". Autor de
novelas, contos, diários de aventuras, ele tirar das muitas viagens
que faz a inspiração para os livros
que escreve. Como é o caso de seu
mais recente romance, "Lost Paradise", história protagonizada
por duas brasileiras, de São Paulo.
""A História Seguinte", que foi
lançado no Brasil, começa em Lisboa e termina perto de Belém do
Pará. Até hoje tenho anotações de
uma viagem que fiz a Manaus",
recorda-se Nooteboom, em entrevista à Folha.
O livro acabou de ser lançado na
Holanda e na Alemanha. No Brasil, onde o autor já lançou "Rituais", "Caminhos para Santiago"
e "A História Seguinte", pela Nova Fronteira, e "Dia de Finados",
pela Companhia das Letras, ainda
não há previsão de lançamento.
Em "Lost Paradise" [paraíso
perdido, uma referência ao clássico do século 17, escrito pelo poeta
inglês John Milton], Nooteboom
conta a história de Alma e Almut,
duas jovens paulistanas, moradoras dos Jardins, netas de alemães e
estudantes de artes plásticas, que
partem numa viagem para Austrália, onde Alma tenta se livrar
do trauma de ter sido violentada.
O ataque acontece num dia em
que Alma se perde, de carro, na
favela de Paraisópolis.
Na Austrália, as duas se viram
com empregos temporários. Alma mergulha no mundo onírico
de um artista plástico aborígene,
onde esquece o passado e encontra a liberdade. "O paraíso parece
ser a Austrália, enquanto São Paulo, o inferno", diz a crítica do jornal holandês "Trouw".
Para escrever "Lost Paradise",
Nooteboom recorreu não só às
anotações das viagens que fez ao
país -as primeiras, no fim dos
anos 60, e a última delas em janeiro último, quando o escritor esteve em São Paulo para ver a exposição do artista plástico alemão Jürgen Partenheimer, com quem está fazendo um livro-, como também a dicas de uma brasileira.
"Tenho uma amiga querida, a
pintora Cristina Barroso, que é de
São Paulo, mas vive na Alemanha.
Dela, pude saber alguns detalhes,
como nomes de ruas, de flores,
pássaros etc.", conta Nooteboom.
Das vindas ao país, Nooteboom
tirou também a inspiração para a
personalidade de suas personagens: Alma, diz ele, é pensativa,
um pouco temperamental; Almut, forte e grandiloqüente.
"Ela diz: "Tenho sempre uma escola de samba inteira atrás de
mim'", conta o autor.
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