São Paulo, sábado, 01 de outubro de 2005

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FESTIVAL DO RIO

Evento exibe "Além do Azul" e "O Homem-Urso"

Herzog ousa em documentário e perde impacto com "fantasia"

PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA

Werner Herzog andava sumido. Um dos nomes mais importantes do cinema alemão nos tempos em que esse ainda dava sinais de vida, o diretor reaparece no Festival do Rio com dois filmes: "O Homem-Urso" e "Além do Azul".
"Além do Azul" (prêmio da crítica em Veneza) apresenta-se como um filme mais ousado. O próprio Herzog o define como uma "fantasia de ficção científica", que mistura imagens de arquivo, monólogos de um ator e depoimentos. Mas o documentário "O Homem-Urso", na verdade, caminha por um terreno mais perigoso. Há nele uma mistura de atração e oposição entre o cineasta e seu "objeto" -que, para complicar, é um homem que já morreu.
Herzog se apaixonou pelo farto material filmado por Timothy Treadwell, biólogo amador que passou 13 verões acampado em uma reserva ecológica do Alasca, desarmado, tomando para si a missão de defender os ursos selvagens da região. Missão suicida, dada a notória agressividade da espécie. Treadwell passou a usar uma câmera portátil, o que gerou mais de cem horas de gravação. No verão de 2003, ele e sua namorada, Amie, foram mortos e literalmente devorados por um urso.
A voz de Herzog narra o filme e conduz as entrevistas. Mas a maior parte do material usado foi colhido por Treadwell, detalhe que aproxima o documentário de filmes como "Na Captura dos Friedman" e "Tarnation", que só foram possíveis com a banalização das câmeras digitais portáteis.
O que Herzog mais valoriza em Treadwell são as imagens que ele captou na natureza e que, na opinião do cineasta, "nenhum produtor de Hollywood seria capaz de conseguir". Mas Treadwell passou a manter com a câmera uma relação obsessiva, gravando um diário íntimo e repetindo seus depoimentos com pequenas variações de ângulo ou de texto.
O documentário é construído a partir da tensão entre Herzog e o material manipulado. Às vezes, fica a impressão de desprezo por Treadwell, que se dilui quando Herzog se recusa a tratar o personagem de forma condescendente e diz, sinceramente, o que pensa dele e da relação com a natureza.
Uma crítica que surge diluída e sem o mesmo impacto em "Além do Azul", denúncia bem-humorada e de fundo ecológico à forma como a humanidade trata a Terra. A narração de um homem (Brad Dourif) que diz vir de outra galáxia se alterna a imagens de astronautas no espaço e depoimentos de cientistas, ao som da música onipresente de Ernst Reijseger.
O filme até guarda uma visão original, mas nem se comprara ao impacto de "O Homem-Urso".


Além do Azul
Quando:
hoje, às 12h, no Estação Botafogo 1; amanhã, às 13h30 e às 20h30, no Estação Ipanema 2; e segunda, às 19h30, no Estação Barra Point 1 (mais em www.festivaldorio.com.br)

O Homem-Urso
Quando:
hoje, às 21h30, no Estação Botafogo 1; e segunda, às 14h e às 19h, no São Luiz


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