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Artista espanhola "pesa" a cidade de SP
DA REPORTAGEM LOCAL
Quanto pesa a cidade de São
Paulo, só em material de construção? A delirante questão foi
um dos desafios enfrentados
pela artista espanhola Lara Almárcegui, uma das dez convidadas a participar de uma residência artística, no Brasil, com
o intuito de preparar novos trabalhos para a 27ª Bienal de SP.
Durante dois meses, Almárcegui, 33, morou no edifício Lutetia, que pertence à Faap, na
praça Patriarca, e, lá, arquitetou a maior parte das obras que
irá expor na Bienal. A mais surpreendente delas é a resposta
para a questão inicial deste texto: 1.224.497.942 toneladas,
número que estará estampado
numa das paredes da mostra.
No ano passado, em Dijon
(França), a artista "pesou" o
centro histórico da cidade, contando edifício por edifício e observando quais materiais os
compunham, para chegar ao
resultado de 1,5 toneladas.
"Depois que passei a viver em
São Paulo, todos os meus projetos anteriores pareceram sem
graça. Aqui tudo é um desafio
imenso, tudo é muito mais
complexo", diz a artista. Para
"pesar" São Paulo, Almárcegui
teve a ajuda de dois engenheiros, um estudante de arquitetura e outro de geologia. "Parti de
dados do site da prefeitura que
diz quantos metros quadrados
construídos existem em cada
distrito, nos edifícios verticais,
horizontais, coletivos e comerciais. Dependendo da área, em
bairros mais antigos, sabíamos
que havia mais concreto por
edificação", diz a artista, que levou em conta os 31 km2 de favelas e os 22 km de ruas.
A espanhola apresenta ainda
uma publicação sobre terrenos
baldios, que conta a história de
cada um deles, como o espaço
contíguo ao Teatro Oficina.
"Há dezenas de terrenos vazios, mas selecionei 36, em geral os mais polêmicos."
Além de Almárcegui, outros
cinco artistas viveram em SP: o
peruano Armando Andrade
Tudela, o austríaco Florian Punhösl, o italiano Francesco Jodice, a mexicana Minerva Cuevas e o japonês Shimabuku.
Três outros artistas, o colombiano Alberto Baraya, a eslovena Marjetica Potrc e a canadense Susan Turcot, em Rio
Branco (Acre), enquanto o africano do Benin Meschac Gaba,
no Recife. Tudela, o que mais
tempo permaneceu na cidade
(três meses), apresentará trabalhos que abordam construções modernas, como a casa de
vidro de Lina Bo Bardi, e duas
casas construídas por Flávio de
Carvalho.
Já um dos trabalhos de Shimabuku é um vídeo sobre repentistas no centro da cidade.
A visível disparidade social do
país é comentário constante
entre os residentes. "O conflito
entre pobreza e riqueza é muito chocante", diz Tudela. Jodice, que realizou um filme sobre
a cidade, irá exibi-lo em dois locais, na abertura da Bienal. "No
espaço elitista do prédio de
Niemeyer e na caixa democrática de um canal brasileiro [TV
Cultura], como uma forma de
expressar uma manifesto político sobre acesso e compreensão da arte contemporânea hoje", diz o italiano.
(FCY)
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