São Paulo, domingo, 01 de outubro de 2006

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Artista espanhola "pesa" a cidade de SP

DA REPORTAGEM LOCAL

Quanto pesa a cidade de São Paulo, só em material de construção? A delirante questão foi um dos desafios enfrentados pela artista espanhola Lara Almárcegui, uma das dez convidadas a participar de uma residência artística, no Brasil, com o intuito de preparar novos trabalhos para a 27ª Bienal de SP.
Durante dois meses, Almárcegui, 33, morou no edifício Lutetia, que pertence à Faap, na praça Patriarca, e, lá, arquitetou a maior parte das obras que irá expor na Bienal. A mais surpreendente delas é a resposta para a questão inicial deste texto: 1.224.497.942 toneladas, número que estará estampado numa das paredes da mostra.
No ano passado, em Dijon (França), a artista "pesou" o centro histórico da cidade, contando edifício por edifício e observando quais materiais os compunham, para chegar ao resultado de 1,5 toneladas.
"Depois que passei a viver em São Paulo, todos os meus projetos anteriores pareceram sem graça. Aqui tudo é um desafio imenso, tudo é muito mais complexo", diz a artista. Para "pesar" São Paulo, Almárcegui teve a ajuda de dois engenheiros, um estudante de arquitetura e outro de geologia. "Parti de dados do site da prefeitura que diz quantos metros quadrados construídos existem em cada distrito, nos edifícios verticais, horizontais, coletivos e comerciais. Dependendo da área, em bairros mais antigos, sabíamos que havia mais concreto por edificação", diz a artista, que levou em conta os 31 km2 de favelas e os 22 km de ruas.
A espanhola apresenta ainda uma publicação sobre terrenos baldios, que conta a história de cada um deles, como o espaço contíguo ao Teatro Oficina. "Há dezenas de terrenos vazios, mas selecionei 36, em geral os mais polêmicos."
Além de Almárcegui, outros cinco artistas viveram em SP: o peruano Armando Andrade Tudela, o austríaco Florian Punhösl, o italiano Francesco Jodice, a mexicana Minerva Cuevas e o japonês Shimabuku. Três outros artistas, o colombiano Alberto Baraya, a eslovena Marjetica Potrc e a canadense Susan Turcot, em Rio Branco (Acre), enquanto o africano do Benin Meschac Gaba, no Recife. Tudela, o que mais tempo permaneceu na cidade (três meses), apresentará trabalhos que abordam construções modernas, como a casa de vidro de Lina Bo Bardi, e duas casas construídas por Flávio de Carvalho.
Já um dos trabalhos de Shimabuku é um vídeo sobre repentistas no centro da cidade. A visível disparidade social do país é comentário constante entre os residentes. "O conflito entre pobreza e riqueza é muito chocante", diz Tudela. Jodice, que realizou um filme sobre a cidade, irá exibi-lo em dois locais, na abertura da Bienal. "No espaço elitista do prédio de Niemeyer e na caixa democrática de um canal brasileiro [TV Cultura], como uma forma de expressar uma manifesto político sobre acesso e compreensão da arte contemporânea hoje", diz o italiano. (FCY)


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