São Paulo, domingo, 01 de outubro de 2006

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BIA ABRAMO

Leveza às sete, densidade demais às oito


Em "Páginas da Vida" o imperativo do botox pasteuriza, quando não deforma, as expressões


BIA ABRAMO
COLUNISTA DA FOLHA

"PÁGINAS DA VIDA" está com índices de audiência em curva descendente; "Cobras e Lagartos", ascendente. O horário eleitoral é apontado como explicação mais provável, mas, talvez, comparando tramas e desempenho, existam outras razões.
Há, no horário das sete, uma movimentação maior, menos cenas edificantes, mais humor. Embora os vilões sejam um tantinho caricatos e o roteiro escorregue com uma certa freqüência, a leveza e o nonsense têm produzido melhores resultados.
Já no Leblon imaginário de Manoel Carlos, a hipercorreção política de alguns personagens, a intensidade excessiva de outros, a generosidade hipócrita do milionário e seu centro cultural de belas-artes empurram a novela para uma densidade monótona. Além disso, enquanto em uma se observa a emergência de bons atores novos, na outra se testemunha o ocaso melancólico de atores maduros. Para começo de conversa, em "Páginas da Vida" o imperativo do botox, digital ou químico, pasteuriza, quando não deforma, as expressões.
A fogosidade explícita, declaratória das personagens femininas mais maduras é quase sempre constrangedora de tão postiça e parece "sair" à revelia da natureza da maioria das intérpretes à exceção, talvez, de Natália do Vale, como se fossem arrancadas a tapas.
E há o fator Regina Duarte... Levante a mão quem não tem medo de Regina Duarte, com seu sorriso hierático, sua expressão sempre compreensiva, seu pescoço inclinado de pessoa boa, sua naturalidade milimetricamente calculada... Junte-se isso à inominável chatice de sua Helena, cujas falas sempre têm um mesmo subtexto, que diz "eu sou uma mulher bem resolvida", e a canastrice de seus "amores", José Mayer e Marcos Paulo, e o núcleo central da novela fica incapaz de mobilizar quaisquer emoções.
Lília Cabral ia muito bem, como a mulher fria e pragmática, mas sua humanização pelas decepções sexuais e o medo da filha fantasma estão acabando com a graça de sua interpretação.
Enquanto isso, a novela das sete oferece beleza mais genuína e surpresas cá e lá. Daniel de Oliveira, claro, que já tinha mostrado sua potência em "Cazuza", mas também Cléo Pires e Carolina Dieckman vêm se destacando como jovens bons atores. E há Lázaro Ramos, que confere uma vivacidade muito divertida ao seu personagem Foguinho.

biabramo.tv@uol.com.br


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