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GUILHERME WISNIK
Megacidade de curto prazo
Continuamos condenados ao imediatismo mesquinho sempre que uma proposta de visão estratégica se anuncia
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NA RECENTE inauguração da
Cidade da Arquitetura e do
Patrimônio, o presidente da
França, Nicolas Sarkozy, declarou a
intenção de recolocar a arquitetura
no centro das escolhas políticas.
Até aí, nenhuma surpresa, já que a
construção de monumentos simbólicos foi o carro-chefe da administração François Mitterrand. Sarkozy, no entanto, fez referência à necessidade de criar um plano global
para ordenar o crescimento de Paris
nas próximas décadas, baseado em
políticas de transporte público e habitação, integrando suas periferias.
Ao que parece, o "novo Napoleão",
como já é chamado, desnorteia a esquerda francesa canibalizando os
seus valores. É que ele sabe muito
bem que o crescimento sustentável
das grandes cidades está no centro
da agenda política contemporânea.
Enquanto isso, no Brasil, os ministérios das Cidades e da Cultura continuam enfraquecidos, e a recém-criada Secretaria de Planejamento
de Longo Prazo se dissolve num
simples peteleco da bancada peemedebista do Senado, barganhando
cargos. Os fatos falam por si: continuamos condenados ao imediatismo mais mesquinho sempre que
uma proposta de visão estratégica se
anuncia. É o velho costume patrimonialista herdado do Brasil Colônia, reeditado e modernizado.
Por outro lado, a própria idéia de
criação da secretaria parece ser também um sintoma do mesmo estigma, ao isolar em uma pasta os projetos de maior alcance. Acaso seriam
as questões tratadas pelos outros
ministérios, como Planejamento ou
Minas e Energia, problemas de curto ou médio prazo?
Não adianta reclamarmos do mau
gosto dos especuladores imobiliários que constroem prédios neoclássicos nem de sua avidez por lucro,
que determina o crescimento urbano predatório de cidades como São
Paulo. É necessário, antes, que as
equipes de técnicos-pensadores responsáveis por estabelecer planos
coerentes para as cidades (trabalhando nos órgãos públicos de planejamento, transporte e habitação)
tenham autonomia de projeto, não
ficando atreladas a mandatos políticos e metas imediatistas e "espetaculares". É necessário, também, que
órgãos como o Instituto de Arquitetos do Brasil reassumam o papel de
defender um planejamento de caráter sistêmico para as metrópoles. Ou
será que precisaremos esperar que
alguma ONG bem-intencionada venha fazer esse papel?
Em recente entrevista ao "Estado
de S. Paulo", o arquiteto mexicano
Ricardo Legorreta manifestou opiniões semelhantes. "A arquitetura
como benefício coletivo vai se impor", diz ele. E, para justificar o seu
otimismo, cita as conquistas da nossa lei Cidade Limpa e os recentes
avanços urbanísticos e sociais colombianos. Mas o maior exemplo é
Nova York, cidade que tem o metro
quadrado mais caro do mundo e, no
entanto, não deixa de abrigar o florista, o café, a farmácia ou o mercadinho de bairro, além de configurar os térreos de muitos arranha-céus
como galerias públicas.
Portanto a pergunta é inevitável:
estaremos condenados a viver em
terras arrasadas pelo mau gosto e
pela especulação imobiliária?
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