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Fotografia/crítica
"Co2" foca Bruxelas com olhar subjetivo
Mostra na Faap reúne trabalho de 19
fotógrafos europeus e de artista belga
EDER CHIODETTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O exercício de traduzir
uma determinada cidade em imagens pode, por vezes, superar a mera
afirmação do aparentemente
visível e ensejar uma abordagem mais subjetiva, na qual
ocorre uma espécie de diluição
do fotógrafo perante o cenário
resultante de forças políticas,
econômicas e culturais que determinam um território.
É o que ocorre em boa medida na mostra fotográfica "Co2
Bruxelas ao Infinito", inaugurada neste último sábado no
Museu de Arte Brasileira da
Faap (Fundação Armando Álvares Penteado), em São Paulo.
Organizada pelo Espaço Fotográfico Contretype, com sede
em Bruxelas (Bélgica), a mostra
é o resultado do trabalho de 19
fotógrafos europeus selecionados por uma comissão para
uma bolsa-residência na cidade
em diferentes períodos - de
2000, ano em que Bruxelas foi
denominada a capital cultural
européia, a 2005.
A mostra fotográfica divide o
espaço do mesmo salão expositivo com a exposição de 90 trabalhos do artista plástico belga
Jean-Michel Folon (1934-2005), na qual predominam
aquarelas feitas a partir dos
anos 70. As duas exposições foram abrigadas sob o título "O
Olhar da Testemunha".
Tradição documental
Na exposição "Co2 Bruxelas
ao Infinito", a maioria dos fotógrafos parte da abordagem claramente documental, na qual
predomina a fotografia de rua
celebrizada pela escola francesa que tem em nomes como Eugene Atget, Henri Cartier-Bresson e Robert Doisneau alguns dos seus maiores ícones.
Mas não se trata mais de buscar a beleza dos pequenos gestos e a percepção do surreal inscrito no cotidiano de quem passa pela rua, assim como preconizou essa geração.
Esse grupo de novos fotógrafos europeus, ao mesmo tempo
em que preserva a tradição formal de um modo de olhar o
mundo, contamina essa herança com uma forte carga de novas informações, esteticamente questionadora e politicamente refinada.
Contraponto
Esse olhar baseado numa
tradição européia de destacar o
óbvio com determinado estranhamento e esvaziamento das
emoções encontra um interessante contraponto na mostra
"Sutil Violento", que será inaugurada amanhã no Itaú Cultural, inserida no 1º Fórum Latino-Americano de Fotografia de São Paulo.
Nessa exposição, que tem como fio condutor a questão da
violência como sintoma das assimetrias causadas na sociedade justamente por conta da luta
de poder e da imposição do status econômico, os trabalhos se
detêm mais às fissuras ocasionadas pela luta de classes e menos à livre fruição do artista
diante da paisagem.
Para se opor a idéia de uma
sociedade aparentemente em
equilíbrio, na mostra em cartaz
na Faap o fotógrafo Sébastien
Reuzé registra o céu carregado
de nuvens escuras sobre as
quais cria, ora por manipulação, ora por justaposição de reflexos de vitrines, alguns orifícios que dão a idéia de uma
ameaçadora invasão de óvnis
em Bruxelas.
O desequilíbrio surge, simbolicamente, como uma questão
externa ao corpo social, o que
diverge completamente da
mostra do Itaú Cultural, em
que o perigo está sempre localizado no nosso semelhante.
A série "O Erro Monumental", de Alain Géronnez, que
ironiza a inserção dos monumentos no espaço urbano, é outro bom momento da mostra
que exibe os ensaios fotográficos agrupados por autor.
Tal opção curatorial destaca-se por preservar a integridade
das autorias em detrimento de
uma aposta menos conservadora de estabelecer ligações
mais instigantes, embaralhando os pontos de vista.
O OLHAR DA TESTEMUNHA
Curadores:
Jean-Louis Godefroid ("Co2
Bruxelas ao Infinito") e Paola
Folon (Jean-Michel Folon)
Quando:
de terça a sexta, das 10h às 20h,
sábados e domingos, das 13h às
17h; até 11/11
Onde:
Museu de Arte Brasileira da
Faap (r. Alagoas, 903, Higienópolis, tel. 0/xx/11/3662-7198)
Quanto:
entrada franca
Avaliação:
bom
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