São Paulo, segunda-feira, 01 de outubro de 2007

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Fotografia/crítica

"Co2" foca Bruxelas com olhar subjetivo

Mostra na Faap reúne trabalho de 19 fotógrafos europeus e de artista belga

EDER CHIODETTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O exercício de traduzir uma determinada cidade em imagens pode, por vezes, superar a mera afirmação do aparentemente visível e ensejar uma abordagem mais subjetiva, na qual ocorre uma espécie de diluição do fotógrafo perante o cenário resultante de forças políticas, econômicas e culturais que determinam um território.
É o que ocorre em boa medida na mostra fotográfica "Co2 Bruxelas ao Infinito", inaugurada neste último sábado no Museu de Arte Brasileira da Faap (Fundação Armando Álvares Penteado), em São Paulo.
Organizada pelo Espaço Fotográfico Contretype, com sede em Bruxelas (Bélgica), a mostra é o resultado do trabalho de 19 fotógrafos europeus selecionados por uma comissão para uma bolsa-residência na cidade em diferentes períodos - de 2000, ano em que Bruxelas foi denominada a capital cultural européia, a 2005.
A mostra fotográfica divide o espaço do mesmo salão expositivo com a exposição de 90 trabalhos do artista plástico belga Jean-Michel Folon (1934-2005), na qual predominam aquarelas feitas a partir dos anos 70. As duas exposições foram abrigadas sob o título "O Olhar da Testemunha".

Tradição documental
Na exposição "Co2 Bruxelas ao Infinito", a maioria dos fotógrafos parte da abordagem claramente documental, na qual predomina a fotografia de rua celebrizada pela escola francesa que tem em nomes como Eugene Atget, Henri Cartier-Bresson e Robert Doisneau alguns dos seus maiores ícones.
Mas não se trata mais de buscar a beleza dos pequenos gestos e a percepção do surreal inscrito no cotidiano de quem passa pela rua, assim como preconizou essa geração. Esse grupo de novos fotógrafos europeus, ao mesmo tempo em que preserva a tradição formal de um modo de olhar o mundo, contamina essa herança com uma forte carga de novas informações, esteticamente questionadora e politicamente refinada.

Contraponto
Esse olhar baseado numa tradição européia de destacar o óbvio com determinado estranhamento e esvaziamento das emoções encontra um interessante contraponto na mostra "Sutil Violento", que será inaugurada amanhã no Itaú Cultural, inserida no 1º Fórum Latino-Americano de Fotografia de São Paulo.
Nessa exposição, que tem como fio condutor a questão da violência como sintoma das assimetrias causadas na sociedade justamente por conta da luta de poder e da imposição do status econômico, os trabalhos se detêm mais às fissuras ocasionadas pela luta de classes e menos à livre fruição do artista diante da paisagem.
Para se opor a idéia de uma sociedade aparentemente em equilíbrio, na mostra em cartaz na Faap o fotógrafo Sébastien Reuzé registra o céu carregado de nuvens escuras sobre as quais cria, ora por manipulação, ora por justaposição de reflexos de vitrines, alguns orifícios que dão a idéia de uma ameaçadora invasão de óvnis em Bruxelas.
O desequilíbrio surge, simbolicamente, como uma questão externa ao corpo social, o que diverge completamente da mostra do Itaú Cultural, em que o perigo está sempre localizado no nosso semelhante.
A série "O Erro Monumental", de Alain Géronnez, que ironiza a inserção dos monumentos no espaço urbano, é outro bom momento da mostra que exibe os ensaios fotográficos agrupados por autor.
Tal opção curatorial destaca-se por preservar a integridade das autorias em detrimento de uma aposta menos conservadora de estabelecer ligações mais instigantes, embaralhando os pontos de vista.


O OLHAR DA TESTEMUNHA
Curadores:

Jean-Louis Godefroid ("Co2 Bruxelas ao Infinito") e Paola Folon (Jean-Michel Folon)
Quando: de terça a sexta, das 10h às 20h, sábados e domingos, das 13h às 17h; até 11/11
Onde: Museu de Arte Brasileira da Faap (r. Alagoas, 903, Higienópolis, tel. 0/xx/11/3662-7198)
Quanto: entrada franca
Avaliação: bom


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