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Sesc expõe Lygia Clark ausente da 29ª Bienal
"Caminhando" foi pivô de conflitos entre curadores e família da artista
Peça em que público recorta fita de papel é uma das principais de mostra que começa hoje no Sesc Vila Mariana
SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO
Grande ausência da atual
Bienal de São Paulo, a obra
"Caminhando", de Lygia
Clark, é o trabalho central de
uma exposição que começa
hoje no Sesc Vila Mariana.
Clark estava na lista de artistas da 29ª Bienal com a reedição da performance de
1963 em que o público recorta uma fita de papel, desdobrando as formas da escultura "Unidade Tripartida", de
Max Bill, num experimento
tridimensional e efêmero.
Logo antes do lançamento
oficial da lista de artistas, os
curadores da mostra anunciaram a saída de Clark, alegando divergências com a família da autora, que cuida de
seu espólio na associação O
Mundo de Lygia Clark.
Segundo Moacir dos Anjos
e Agnaldo Farias, os herdeiros da artista morta em 1988
cobraram R$ 45 mil, valor
considerado "escandaloso e
incompatível", para liberar a
exposição do trabalho.
Também fizeram, segundo
os curadores, exigências como determinar onde seria
comprado o papel para a
obra e escolher quem escreveria sobre ela no catálogo.
"Acho o fim da picada, o
fim do mundo, uma traição à
memória da artista", disse
Farias antes da Bienal, comentando a ausência de
Clark da mostra. "Essa obra
tinha de estar lá, não é uma
tristeza, é um escândalo."
Dos Anjos falou sobre o caso num dos debates antes da
Bienal. "Havia um descompasso entre o que a obra exigia e exigências da família da
artista", disse. "É evidente
que isso faz falta, mas é uma
ausência que pela própria
ausência se faz presente."
PRESENÇA FÍSICA
No sentido físico, "Caminhando" poderá ser visto e
experimentado por visitantes do Sesc Vila Mariana nos
próximos dois meses, na
mostra "Por Aqui, Formas
Tornaram-se Atitudes", com
curadoria de Josué Mattos.
"Cheguei antes da Bienal
com esse projeto", conta
Mattos à Folha. "Mas ele se
realizou depois da Bienal."
Ele diz que pagou à família
"o valor pedido por eles, um
valor completamente normal". "Não foi pago nada de
excessivo", afirma. "Não foi
um problema pagar isso."
Embora não tenha revelado valores, Mattos diz que
equivale ao que a família costuma exigir por exposições
de médio porte e que foi menos de "metade da metade"
do valor cobrado da Bienal.
Também disse que o papel
usado na mostra é "um papel
qualquer, bobina de caixa
eletrônico", comprado no
largo da Batata, em SP.
Mattos acrescentou que o
projeto de sua mostra foi elaborado nos últimos dez anos.
Ele estudava na Sorbonne e
conheceu Álvaro Clark, filho
da artista, em Paris, quando
a família procurou um pesquisador para analisar obras
da artista da época em que
ela viveu na capital francesa.
Procurado pela Folha por
telefone e por e-mail, Álvaro
Clark, filho da artista, disse
que não iria comentar o caso.
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