São Paulo, sexta-feira, 01 de outubro de 2010

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cinema

CRÍTICA DRAMA

Xavier Dolan cria retrato narcisista da adolescência

Longa "Eu Matei Minha Mãe" narra conflitos familiares do jovem diretor

RICARDO CALIL
CRÍTICO DA FOLHA

Não faltará quem enxergue em "Eu Matei Minha Mãe" um exercício de narcisismo, histeria e ciclotimia. Mais difícil será perceber que esse é o mérito do filme.
O longa de estreia do canadense Xavier Dolan é eficaz em seu retrato da adolescência justamente por conseguir não só captar mas incorporar esses estados tão juvenis.
Dolan tinha 19 anos quando decidiu escrever, dirigir e protagonizar esse filme autobiográfico sobre sua conturbada relação com a mãe.
A soma da baixa idade com a sanha autoral chamou a atenção para o jovem cineasta e lhe rendeu nada menos que três prêmios no Festival de Cannes de 2009.
No filme, ele interpreta Hubert Minel, garoto homossexual de 17 anos que humilha regularmente a mãe pelos motivos mais banais: as migalhas de pão que insistem em ficar no canto de sua boca, uma roupa fora de moda ou a decoração da casa. Seu drama é típico: ser incapaz de gostar da mãe, de conviver com ela -e, ainda assim, saber que é impossível deixar de amá-la.
Isso deságua em raiva, frustração, culpa, mágoa -sentimentos mostrados por Dolan com crueza.
A imaturidade do adolescente impregna o cineasta. Dolan é um artista verde, ainda muito ansioso para demonstrar que domina todo o arsenal do "filme de arte", os silêncios, as palavras escritas na tela, os diálogos naturalistas, as sequências surreais.
O egocentrismo de Dolan joga a favor do filme, faz dele um retrato justo de uma época da vida. "Eu Matei..." não é um filme sobre a adolescência, e sim um filme adolescente. A dúvida é o que ele vai fazer quando crescer.

EU MATEI MINHA MÃE

DIREÇÃO Xavier Dolan
PRODUÇÃO Canadá, 2009
COM Anne Dorval, Suzanne Clément, Xavier Dolan
ONDE Belas Artes e Frei Caneca
CLASSIFICAÇÃO 16 anos
AVALIAÇÃO bom


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