São Paulo, Segunda-feira, 01 de Novembro de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TEATRO
Sete companhias ocupam salas onde funcionava a administração da Funarte, no centro de São Paulo
Arena abriga movimento de resistência

ROGÉRIO EDUARDO ALVES
da Redação

O teatro paulista está em guerra. Sete companhias teatrais da cidade estão preparando uma ação de guerrilha. São sete peças curtas, de até 60 minutos, encenadas no segundo andar do prédio que abriga o Teatro de Arena Eugênio Kusnet, antes ocupado pela administração da Funarte.
Mais que um ciclo, o ocupArena é um movimento de resistência, que "não se resume a um teatro agressivo. Pode estar em algo profundamente humano, delicado, que emocione", explica Marcelo Fonseca (de "A Filosofia na Alcova"), ator, diretor de teatro e do festival.
O convite para a ocupação partiu da própria Funarte. O coordenador regional do órgão, José Silveira, conta que seu presidente lançou o desafio de incrementar a atividade no Arena.
Convidou, então, Fonseca , "representante contemporâneo do teatro paulista". Silveira diz acreditar no potencial inovador de Fonseca para essa ação emergencial, que prepara o terreno para um projeto ambicioso para o começo de 2000, o Arena com-Vida. É uma "loucura para tomar o Arena", diz o coordenador.
Segundo Fonseca, a urgência da ocupação deveu-se a ameaças de tombamento do segundo andar do Arena, uma vez que foi um local onde se realizaram históricos debates. "Pois vamos fazer história, agora, com teatro", comenta.
Para o diretor, "sem incentivo governamental, sem subsídio e sem o apoio da mídia, o teatro paulista não-comercial está cada vez mais restrito a pequenas salas, com espetáculos de pouco público". Por isso, "o projeto para o ano 2000 é estar vivo agora fazendo teatro", completa.
O ocupArena não recebe nenhum incentivo financeiro da Funarte, que está cuidando de toda a infra-estrutura do novo espaço. Mesmo assim, resolveu cobrar apenas R$ 1,999 pelo ingresso.
O que é, também, uma forma de criticar o governo. "Terão de inventar uma moeda nova para termos troco", afirma o diretor, que oferecerá ao milésimo espectador uma entrada gratuita.
No ciclo, serão encenadas sete peças entre 8 de novembro e 18 de dezembro.
A única ainda inédita nos palcos paulistas é o "Exercício Aeróbico para Padre e Banda nº 1 Opus 1999", de Marquês de Sade, dirigida por Marcelo Fonseca, com Carolina Gonzales e Caco Mattos.
A peça procura "devolver o que estão nos fazendo, em cena, por meio da arte", diz Fonseca. O diretor pretende satirizar a figura do padre Marcelo Rossi e a enxurrada de propaganda religiosa que invadiu a mídia.
A grande celebração do teatro paulista será no último dia do ciclo. Em 18 de dezembro serão encenadas todas as peças em sequência, o que deve atravessar a madrugada. Tudo com entrada franca. O diretor também garante que as pessoas poderão comer e beber à vontade nas apresentações.
O movimento procura apenas fazer teatro. "Quero ser respeitado de igual para igual", diz Fonseca, e completa "quanto mais apertar, mais vamos para a ofensiva".


Texto Anterior: Livro: Rose Marie Muraro solta seus demônios
Próximo Texto: Vídeo/Lançamentos - "Oito Milímetros": Mãos ao alto
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.