São Paulo, segunda-feira, 01 de novembro de 2004
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CINEMA Cidade encerra filmagens do filme "Solo Dios Sabe" Longa-metragem une México e Brasil em cenários de São Paulo
TEREZA NOVAES DA REPORTAGEM LOCAL Uma garota brasileira e um rapaz mexicano selam com sua história de amor uma parceria cinematográfica entre os dois países. O idílio internacional é o mote da co-produção México-Brasil "Solo Dios Sabe", de Carlos Bolado, cujas filmagens se encerram nesta semana em São Paulo. O longa é um "road movie" que parte de San Diego, nos EUA, cruza a fronteira mexicana em Tijuana, passa pela Cidade do México e desembarca no Brasil. Dolores (Alice Braga, de "Cidade de Deus") e Damián (Diego Luna, de "E Sua Mãe Também") se conhecem numa festa em Tijuana, no México, de onde ele deve partir para a capital. Na mesma noite, o carro de Dolores é arrombado, e seu passaporte desaparece. Para conseguir outro documento, ela precisa ir até a Cidade do México e aproveita a carona de Damián. Durante a viagem de 2.000 km, que inclui a travessia de uma região desértica, onde a temperatura pode chegar a 50oC, tem início o romance entre os dois. Quando chegam ao destino, duas descobertas acabam afastando o casal. A avó de Dolores, fotógrafa como ela, morreu, e Damián revela ter forjado o sumiço do passaporte da moça. Ela viaja para São Paulo e passa a viver na cidade, no apartamento que herdou da avó. Apaixonado, Damián vai atrás dela. As seqüências paulistanas começaram a ser filmadas em outubro (devem acabar na próxima sexta) e usaram como locação um apartamento no bairro de Higienópolis e cartões-postais, sobretudo do centro, como os viadutos Santa Ifigênia e do Chá e as praças da Sé e Ramos. As escolhas desses lugares foram feitas pelo diretor (e roteirista) Bolado, que se encantou com os prédios da região central. "Não tinha visto o centro de São Paulo em muitos filmes, mas gostei muito da forma como ele aparece em "São Paulo S/A", de Person. Gosto da idéia de os espaços urbanos dialogarem com os personagens; e o centro é o coração da cidade", diz Bolado, que co-dirigiu, com BZ Goldberg e Justine Shapiro, o documentário indicado ao Oscar "Promessas de um Novo Mundo", de 2001. Mexicano radicado nos EUA, Bolado conheceu a produtora brasileira Sara Silveira no festival de Sundance em 1999, quando ela promovia "Ação entre Amigos", de Beto Brant, e ele, "Baixo Califórnia - O Limite do Tempo". O encontro gerou o embrião da parceria que tinha como objetivo não apenas reunir os profissionais mas também aproximar a cultura dos dois países. O plano foi executado à risca, no jogo de paralelismo que alinhava o enredo. A história de amor é permeada por elementos religiosos e pela questão das metrópoles-São Paulo e Cidade do México- e suas idiossincrasias. "Acho que me sairia melhor numa grande cidade fora do México do que em uma cidadezinha perdida nas montanhas do meu próprio país. As questões urbanas causam uma identificação, há muitas similaridades entre os bairros, entre as pessoas", diz. Nessa construção de realidades paralelas, a religiosidade figura como elemento determinante. A morte da avó desperta o lado espiritual da protagonista, até então dissimulado por um senso pragmático. A "revelação" é que ela, assim como suas antepassadas, detém poderes mediúnicos. Dolores descobre ser filha de Oxum, deusa ligada à procriação e aos rios. Bolado, que já havia se debruçado sobre a santería cubana, investigou o candomblé através dos livros de Pierre Verger. "Procurei evitar tratar o tema como exotismo. O filme parte de histórias e não do candomblé." O desfecho da trama acontece durante uma procissão de Bom Jesus dos Navegantes, em Salvador, cidade que desafia o imaginário do diretor desde a infância. "Meu pai gostava muito de literatura brasileira, em especial de Jorge Amado, de quem leu todos os livros. Li quando era criança "Capitães de Areia" e "Gabriela"." Nos próximos meses, o filme entra em pós-produção -a edição deve ser feita pelo diretor (que tem extenso currículo como montador) em São Paulo. O lançamento está previsto para setembro de 2005. Texto Anterior: Música: Movimento com punks atípicos diz que votará em Bush amanhã Índice |
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