São Paulo, quinta-feira, 01 de novembro de 2007

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Favela do Rio é cenário de "Hulk"

Filme terá cenas rodadas no morro Tavares Bastos, o mesmo de "Tropa de Elite" e "Vidas Opostas'

Filmagens movimentam o comércio e dão emprego a moradores; americano diz que visual do local "valeria milhões em Los Angeles"

RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO

Esbarrando pelos estreitos becos da favela Tavares Bastos em soldados do Exército que vão ao Haiti e impressionados com a vista da Baía de Guanabara, os dublês e a equipe de produção do filme "Incrível Hulk" inspecionaram terça-feira as locações do filme no Rio, acompanhados pela Folha. "Sabe a história desta favela? É a mais segura que existe", explicou um produtor a um colega norte-americano que chegara naquele dia.
Referia-se à presença desde 2000 no mesmo morro do Bope (Batalhão de Operações Especiais). A tropa de elite da PM adaptou como sua sede o esqueleto de prédio que servia de local de desmanche, endolação de drogas e reuniões do CV (Comando Vermelho). A chegada do Bope e suas incursões expulsaram o tráfico do morro.
Desde então, a Tavares Bastos se transformou em favela "artificial", cenário de filmes, novelas e treinamento militar. Lá treinam o Bope, a Força Nacional de Segurança e o Exército. E já filmaram a novela "Vidas Opostas", os filmes "Tropa de Elite", "Maré" e "174", e videoclipes. Seus moradores viraram figurantes, elenco de apoio e até atores.
"Dá serviço para todos: mototáxi, botequim, as casas que se alugam. Muita gente sem emprego espera um filme para ganhar R$ 45 por dia como figurante", conta Alessandro Maciel, morador que foi ator em "174".
A Tavares Bastos tem o seu Juvenal, papel de Antônio Fagundes na novela "Duas Caras": o "prefeito" informal da favela chama-se major Vargas, 50, 15 anos de Bope.
Ele faz o meio-campo entre cineastas e a comunidade e "autorizou" a filmagem de "Hulk", mediante contrapartidas. Exigiu que usem mão-de-obra local, comprem comida e materiais lá dentro e em rodízio, para não privilegiar ninguém. Cerca de 40 casas receberam benfeitorias, e os moradores, de R$ 100 a R$ 300 pelas gravações, que começam segunda ou terça-feira e devem durar até dez dias.
Vargas diz que consegue recursos e benefícios para a favela, mas cobra dos moradores respeito à área de preservação ambiental, que paguem luz, tenham relógio de energia em casa e hidrômetro -"o Estado está aí, trago a fiscalização e os faço cumprir a lei", diz. "Como é que eles sabem de quem é a luz?", questionou o americano chefe dos dublês, John Stoneham Jr., apontando o emaranhado de fios de eletricidade.
A produção de "Hulk" fez obras e pinturas no local. Reforçou lajes e paredes, fez pontes, caixas d'água falsas e plantou antenas parabólicas cenográficas. Na pedra onde Brian Jagersky -dublê de Edward Norton (Bruce Banner, o homem que vira Hulk)- vai escorregar por dez metros, parte da vegetação foi cortada.
"É surpreendente. A cada vez que viemos aqui muda o cenário, o ritmo de construções dos moradores é muito rápido", comentou o francês Cyril Raffaelli, coreógrafo das cenas de ação de "Hulk" e de "Duro de Matar 4". "Não tem problema, há muitos lugares bons para filmar, só precisamos nos adaptar", comenta Stoneham Jr., maravilhado com o visual da favela. "É fantástico. Em Los Angeles, isso valeria milhões."


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