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Favela do Rio é cenário de "Hulk"
Filme terá cenas rodadas no morro Tavares Bastos, o mesmo de "Tropa de Elite" e "Vidas Opostas'
Filmagens movimentam o comércio e dão emprego a moradores; americano diz que visual do local "valeria milhões em Los Angeles"
RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO
Esbarrando pelos estreitos
becos da favela Tavares Bastos
em soldados do Exército que
vão ao Haiti e impressionados
com a vista da Baía de Guanabara, os dublês e a equipe de
produção do filme "Incrível
Hulk" inspecionaram terça-feira as locações do filme no Rio,
acompanhados pela Folha.
"Sabe a história desta favela? É
a mais segura que existe", explicou um produtor a um colega norte-americano que chegara naquele dia.
Referia-se à presença desde
2000 no mesmo morro do Bope (Batalhão de Operações Especiais). A tropa de elite da PM
adaptou como sua sede o esqueleto de prédio que servia de
local de desmanche, endolação
de drogas e reuniões do CV
(Comando Vermelho). A chegada do Bope e suas incursões
expulsaram o tráfico do morro.
Desde então, a Tavares Bastos se transformou em favela
"artificial", cenário de filmes,
novelas e treinamento militar.
Lá treinam o Bope, a Força Nacional de Segurança e o Exército. E já filmaram a novela "Vidas Opostas", os filmes "Tropa
de Elite", "Maré" e "174", e videoclipes. Seus moradores viraram figurantes, elenco de
apoio e até atores.
"Dá serviço para todos: mototáxi, botequim, as casas que
se alugam. Muita gente sem
emprego espera um filme para
ganhar R$ 45 por dia como figurante", conta Alessandro
Maciel, morador que foi ator
em "174".
A Tavares Bastos tem o seu
Juvenal, papel de Antônio Fagundes na novela "Duas Caras": o "prefeito" informal da
favela chama-se major Vargas,
50, 15 anos de Bope.
Ele faz o meio-campo entre
cineastas e a comunidade e
"autorizou" a filmagem de
"Hulk", mediante contrapartidas. Exigiu que usem mão-de-obra local, comprem comida e
materiais lá dentro e em rodízio, para não privilegiar ninguém. Cerca de 40 casas receberam benfeitorias, e os moradores, de R$ 100 a R$ 300 pelas
gravações, que começam segunda ou terça-feira e devem
durar até dez dias.
Vargas diz que consegue recursos e benefícios para a favela, mas cobra dos moradores
respeito à área de preservação
ambiental, que paguem luz, tenham relógio de energia em casa e hidrômetro -"o Estado está aí, trago a fiscalização e os faço cumprir a lei", diz. "Como é
que eles sabem de quem é a
luz?", questionou o americano
chefe dos dublês, John Stoneham Jr., apontando o emaranhado de fios de eletricidade.
A produção de "Hulk" fez
obras e pinturas no local. Reforçou lajes e paredes, fez pontes, caixas d'água falsas e plantou antenas parabólicas cenográficas. Na pedra onde Brian
Jagersky -dublê de Edward
Norton (Bruce Banner, o homem que vira Hulk)- vai escorregar por dez metros, parte
da vegetação foi cortada.
"É surpreendente. A cada vez
que viemos aqui muda o cenário, o ritmo de construções dos
moradores é muito rápido", comentou o francês Cyril Raffaelli, coreógrafo das cenas de
ação de "Hulk" e de "Duro de
Matar 4". "Não tem problema,
há muitos lugares bons para filmar, só precisamos nos adaptar", comenta Stoneham Jr.,
maravilhado com o visual da
favela. "É fantástico. Em Los
Angeles, isso valeria milhões."
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