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Crítica/erudito
Osusp abre programa com Villa-Lobos e Guarnieri
ARTHUR NESTROVSKI
ARTICULISTA DA FOLHA
As últimas notas talvez
tenham sido as melhores da noite: um espetacular "fortissimo", ribombando
para fechar as "Bachianas Brasileiras nº 8" de Villa-Lobos
(1887-1959). Fechavam também o arco iniciado com o "pianissimo" de "La Valse", de Ravel (1875-1937), que abriu o programa da Osusp, anteontem, na Sala São Paulo.
Entre uma e outra ficavam o
"Choro" para violino e orquestra de Camargo Guarnieri
(1907-93) e uma "Suíte Tom
Jobim" do arranjador da
Osusp, Adail Fernandes (1958).
A solista do "Choro" foi Elisa
Fukuda, expressiva e serena
como sempre. E foi bonito vê-la, também grande professora,
acolhida com o espírito da USP.
Assim como foi bonito ver
Fábio Caramuru, que há anos
vem tocando e gravando a música de Tom Jobim (1927-94),
como solista da sinfônica da
universidade onde defendeu
um mestrado sobre o maestro.
Num seminário de pós-graduação, não seria fácil defender
a "Suíte" de Adail Fernandes:
tudo o que na bossa nova é mínimo e íntimo, tudo o que é
triagem, aqui se permite virar
multiplicativo e expansivo.
Mas não era um seminário, era
um concerto, regido com brio
por Carlos Moreno; e só quem
estivesse disposto a aceitar a
rachmaninovização de uma
canção como "Canta, Canta
Mais", por exemplo, poderia
julgar essa música nos seus termos. Nada mais ali, a rigor, é
uma canção: tudo são temas
instrumentais, livremente tratados pelo orquestrador, para
usufruto do pianista.
Era uma noite, aliás, de grandes orquestradores, com destaque óbvio para o gênio modernista francês (um virtuose do tempo, também), mas interesse
ainda maior, a essa altura, para
os nossos dois gênios da raça. A
Osusp vem fazendo a integral
dos "Choros" de Guarnieri, comemorando seu centenário. É
missão mesmo de uma orquestra dessa natureza e qualidade.
Deve ter deixado feliz a solista
da estréia, em 1951, Mariuccia
Iacovino -presente na platéia,
espevitada aos 94 anos.
Nem tudo correu como poderia nas "Bachianas", especialmente nas cordas. Mas a
força da música, afinal, estava
lá: sopros muito bons, metais
arrebentando. E quem pode reclamar de um concerto generoso assim, com a platéia cheia de
alunos de escola e outros marinheiros de primeira viagem?
No deserto da música sinfônica
universitária, a Osusp segue
sendo uma heróica exceção.
OSUSP - ELISA FUKUDA, FÁBIO
CARAMURU, CARLOS MORENO
Avaliação: bom
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