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Vida galerina
Livro da americana Danielle Ganek leva leitor ao mundinho do mercado de arte em NY; a trama é narrada por uma "garota de galeria" parecida com as que trabalham em SP, onde a autora morou
FERNANDA EZABELLA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Um pintor desconhecido
morre no dia de seu primeiro
grande vernissage, em Nova
York, e vira o artista mais cobiçado da cidade. Intrigas e romances têm início a partir do
enigmático retrato feito pelo
agora morto Jeffrey Finelli,
chamado "Lulu Vê Deus e Duvida", nome do livro da estreante Danielle Ganek.
A narradora é a "insider" Mia
McMurray, recepcionista e
braço direito do galerista Simon Pryce. Mia é uma galerina,
como são conhecidas as meninas que dão duro nas sofisticadas galerias de Chelsea, em Nova York. Mas Mia luta contra o
arquétipo de galerina, associado a garotas arrogantes e bem-vestidas, que reviram os olhos
quando alguém ousa pedir a lista de preços. Na verdade, ela
quer ser pintora, mas só o leitor
sabe, já que tem vergonha de
sua falta de talento.
O mergulho no mundinho
"artsy" não deixa de lembrar o
livro-que-virou-filme "O Diabo
Veste Prada" e até mesmo o seriado "Ugly Betty", pelo tom caricatural de alguns personagens. Mas, pensando bem, não
é difícil visualizar pessoas de
verdade, cheias de dinheiro e
extremo mau gosto, burlando a
segurança da feira de Basel
atrás de um bom negócio antes
da abertura oficial.
Ganek faz sua estréia em livros, mas não no mercado de
arte. É casada com um conhecido colecionador de Nova York,
David Ganek, e fez a festa de
lançamento de "Lulu", no ano
passado, em pleno Guggenheim. Também é mais experiente que sua jovem narradora, de 28 anos. Ganek tem 44,
três filhos e foi editora da revista "Mademoiselle".
Ela não poupa citações de artistas famosos e capricha nas
descrições de obras, todas "inéditas", criadas para seus personagens. "Tentei imaginar pinturas que eu mesma gostaria de
ter feito", diz a escritora à Folha em entrevista por e-mail.
Espelho
No livro, o cara do momento,
uma espécie de Damien Hirst, é
o jovem Dane O'Neill, amigo do
finado Finelli. Há também a
musa retratada em "Lulu", a sobrinha de Finelli, que vira amiga de Mia. Já a protagonista
tem uma queda pelo consultor
de artes Zach Roberts; e suas
três amigas galerinas são apelidadas de "as irmãs esquisitas".
"As pessoas das artes, em
particular, apreciam o processo
criativo e sabem o que é um trabalho de ficção. Tenho muitos
amigos do mundo da arte em
Nova York. Eles adoram se ver
no espelho, e acho que gostaram de ver seu mundo retratado de forma divertida", diz a escritora, apreciadora de Richard
Prince e Ed Ruscha.
Ganek contou que já recebeu
propostas para levar "Lulu" ao
cinema, mas nenhuma satisfatória. "É uma comédia de costumes, requer um certo senso
de humor. Ironia não é fácil de
se filmar. [...] Adoraria ter artistas de verdade, leiloeiros e galeristas com papéis, e até mesmo
galerinas!", disse.
A autora é americana e morou em São Paulo até os 11 anos.
Afirmou gostar do trabalho de
Vik Muniz, mas não tem nenhum brasileiro em sua coleção. No momento, ela diz acreditar que a atual recessão econômica pode trazer uma "correção saudável nos preços" do
mercado de arte, embora a "bolha" descrita em seu livro não
deva estourar completamente.
"As pessoas que são verdadeiramente apaixonadas por
arte não vão perder essa paixão.
Não é algo que você liga e desliga tão facilmente", diz. "Mas
acho que essa crise pode, sim,
trazer um pouco de sanidade ao
mercado de arte."
LULU VÊ DEUS E DUVIDA
Autor: Danielle Ganek
Tradução: André Costa
Editora: Rocco
Quanto: R$ 36 (255 págs.)
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