São Paulo, sábado, 01 de novembro de 2008

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Vida galerina

Livro da americana Danielle Ganek leva leitor ao mundinho do mercado de arte em NY; a trama é narrada por uma "garota de galeria" parecida com as que trabalham em SP, onde a autora morou

FERNANDA EZABELLA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Um pintor desconhecido morre no dia de seu primeiro grande vernissage, em Nova York, e vira o artista mais cobiçado da cidade. Intrigas e romances têm início a partir do enigmático retrato feito pelo agora morto Jeffrey Finelli, chamado "Lulu Vê Deus e Duvida", nome do livro da estreante Danielle Ganek.
A narradora é a "insider" Mia McMurray, recepcionista e braço direito do galerista Simon Pryce. Mia é uma galerina, como são conhecidas as meninas que dão duro nas sofisticadas galerias de Chelsea, em Nova York. Mas Mia luta contra o arquétipo de galerina, associado a garotas arrogantes e bem-vestidas, que reviram os olhos quando alguém ousa pedir a lista de preços. Na verdade, ela quer ser pintora, mas só o leitor sabe, já que tem vergonha de sua falta de talento.
O mergulho no mundinho "artsy" não deixa de lembrar o livro-que-virou-filme "O Diabo Veste Prada" e até mesmo o seriado "Ugly Betty", pelo tom caricatural de alguns personagens. Mas, pensando bem, não é difícil visualizar pessoas de verdade, cheias de dinheiro e extremo mau gosto, burlando a segurança da feira de Basel atrás de um bom negócio antes da abertura oficial.
Ganek faz sua estréia em livros, mas não no mercado de arte. É casada com um conhecido colecionador de Nova York, David Ganek, e fez a festa de lançamento de "Lulu", no ano passado, em pleno Guggenheim. Também é mais experiente que sua jovem narradora, de 28 anos. Ganek tem 44, três filhos e foi editora da revista "Mademoiselle".
Ela não poupa citações de artistas famosos e capricha nas descrições de obras, todas "inéditas", criadas para seus personagens. "Tentei imaginar pinturas que eu mesma gostaria de ter feito", diz a escritora à Folha em entrevista por e-mail.

Espelho
No livro, o cara do momento, uma espécie de Damien Hirst, é o jovem Dane O'Neill, amigo do finado Finelli. Há também a musa retratada em "Lulu", a sobrinha de Finelli, que vira amiga de Mia. Já a protagonista tem uma queda pelo consultor de artes Zach Roberts; e suas três amigas galerinas são apelidadas de "as irmãs esquisitas".
"As pessoas das artes, em particular, apreciam o processo criativo e sabem o que é um trabalho de ficção. Tenho muitos amigos do mundo da arte em Nova York. Eles adoram se ver no espelho, e acho que gostaram de ver seu mundo retratado de forma divertida", diz a escritora, apreciadora de Richard Prince e Ed Ruscha.
Ganek contou que já recebeu propostas para levar "Lulu" ao cinema, mas nenhuma satisfatória. "É uma comédia de costumes, requer um certo senso de humor. Ironia não é fácil de se filmar. [...] Adoraria ter artistas de verdade, leiloeiros e galeristas com papéis, e até mesmo galerinas!", disse.
A autora é americana e morou em São Paulo até os 11 anos.
Afirmou gostar do trabalho de Vik Muniz, mas não tem nenhum brasileiro em sua coleção. No momento, ela diz acreditar que a atual recessão econômica pode trazer uma "correção saudável nos preços" do mercado de arte, embora a "bolha" descrita em seu livro não deva estourar completamente. "As pessoas que são verdadeiramente apaixonadas por arte não vão perder essa paixão.
Não é algo que você liga e desliga tão facilmente", diz. "Mas acho que essa crise pode, sim, trazer um pouco de sanidade ao mercado de arte."

LULU VÊ DEUS E DUVIDA
Autor: Danielle Ganek
Tradução: André Costa
Editora: Rocco
Quanto: R$ 36 (255 págs.)



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