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33ª MOSTRA DE SP
Crítica/"A Guerra dos Filhos da Luz contra os Filhos das Trevas'/"Carmel"
Amos Gitai perde vigor do passado
Em duas novas produções, diretor retoma questões e história israelita com olhar conservador
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Os "travellings" laterais
continuam elegantes.
Mas é possível perguntar se o cinema de Amos Gitai
não terá chegado a um ponto de
saturação em que a precisão de
alguns anos atrás dá lugar, cada
vez mais, à retórica?
Pois assim parecem as coisas
em "A Guerra dos Filhos da Luz
contra os Filhos das Trevas",
adaptação teatral do texto histórico de Flavius Josephus sobre a tomada da Galileia pelos
romanos no ano 70 a.C. Relato
de enorme beleza sobre o momento crucial em que os judeus
perdem sua autonomia, que o
próprio Gitai encenou no Festival de Avignon (França).
Transposta para o cinema, a
mise-en-scène teatral parece
um tanto grandiloquente e as
grandes estruturas de ferro
montadas para a ocasião enfatizam o caráter épico do momento bem menos do que o esforço
da própria direção.
Em "A Guerra dos Filhos..."
encontram-se os mesmos ecos
do passado sobre o presente
que surgem em "Carmel": a trágica história israelita rebate sobre cada gesto, torna-o uma interrogação angustiante. Aqui,
Gitai procede a uma espécie de
colagem em que se encontram
desde a invasão romana (representada de outra maneira que
não a da peça) até os dias atuais.
Lá estão os pais de Amos
(pioneiros do Estado de Israel),
seu filho preparado para a
guerra, o próprio Amos orientando um ator que fará seu papel (de soldado, na guerra de
1973, quando estava num helicóptero acidentado), fotos de
família e de infância, a mãe em
filmes familiares etc.
"Carmel" aproxima a história
pessoal da coletiva e faz o retrato de um Amos Gitai mais sensibilizado pela infausta história
dos judeus desde a perda da autonomia, no século 1º a.C., do
que habitualmente. Mais angustiado, digamos logo (o que
ocorre também na filmagem da
peça teatral). Existe lugar, claro, para os rumos de Israel.
Seus pais mesmo vêm de uma
experiência de esquerda, laica,
bem contraditória com opções
políticas mais recentes.
No entanto, parece se notar
menos espaço para diálogo com
os árabes, ambição de várias
obras passadas do diretor israelense (mas não de "Um Dia Você Compreenderá", exibido na
Mostra de 2008). É uma conversa mais íntima desta vez:
Amos, sua família, seu passado,
seu país, seu povo. A extensão
pode ser grande, mas a natureza do diálogo é a mesma.
Voltando ao início: não é o assunto, nem a natureza do diálogo, nem mesmo as posições políticas o que tende a indicar
uma inflexão conservadora no
trabalho do diretor: são os procedimentos, os "travellings",
em suma, o olhar que parece se
tornar um pouco acostumado
demais ao problema que, com
razão, escolheu como seu. Se
olharmos para seus filmes de
uma ou duas décadas atrás, não
encontramos nos de hoje o
mesmo vigor. Às vezes, é preciso sair de si mesmo com força.
A GUERRA DOS FILHOS DA
LUZ CONTRA OS FILHOS
DAS TREVAS
Quando: hoje, às 17h50, e dia 5, às
20h20, no Unibanco Arteplex
CARMEL
Quando: hoje, às 15h50, no Unibanco Arteplex
Classificação: 14 anos (ambos)
Avaliação: bom (ambos)
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