São Paulo, domingo, 01 de novembro de 2009

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33ª MOSTRA DE SP

Argentina narra fantasia de casal gay

"O Menino Peixe", de Lucía Puenzo ("XXY"), conta saga de garotas entre Buenos Aires e vila do Paraguai

FERNANDA EZABELLA
DA REPORTAGEM LOCAL

Mistura de romance, aventura e fantasia, "O Menino Peixe" conta a saga de duas jovens que se envolvem em roubos e assassinatos, numa série de eventos tão burlescos que, no final das contas, o menor de seus problemas é serem namoradas e de classes sociais distintas.
Essa naturalidade para o "diferente" já estava no primeiro longa da diretora argentina Lucía Puenzo, "XXY", destaque da Mostra de São Paulo do ano passado e premiado em festivais mundo afora (como em Cannes), sobre os conflitos de jovem hermafrodita.
"A todo momento eu dizia para as duas atrizes [de "O Menino Peixe'] que isso não era importante, podia ser a história de um homem e uma mulher, tanto faz. Elas deviam viver o romance de maneira bem natural e não fazer disso a questão do filme", diz Puenzo, 32, à Folha, por telefone.
"Foi como em "XXY", quando a gente não mostra Alex [protagonista] sem roupa, que era o que todo mundo queria ver. Não gosto de escandalizar."
Puenzo volta a trabalhar com Inés Efron, 25, atriz de "XXY" e estrela em ascensão na Argentina. Após o filme de Puenzo, ela já rodou outros dez, incluindo longas com Lucrecia Martel ("La Mujer sin Cabeza") e Daniel Burman ("Ninho Vazio").
Em "O Menino Peixe", ela faz a garota de classe média alta Lala, enamorada da doméstica paraguaia La Guayi, que trabalha em sua casa em Buenos Aires. Elas têm planos de morar juntas perto de um lago no Paraguai, mas um assassinato as separa e põe Lala numa viagem de descoberta ao país vizinho.
É aqui que surge o momento fantástico, quando Lala encontra um dos segredos de sua amada, numa cena subaquática realizada com efeitos especiais. A diretora admite que, na mistura de gêneros, foi complicado deixar a sala de edição.
"O mais difícil [de fazer o filme] foi achar uma identidade, um ritmo para a história, nesse encontro de gêneros. O filme navega por tons diferentes, mas acho que isso acabou virando parte de sua identidade."
A fotografia intercala cores frias da casa sombria de Lala de Buenos Aires com cores quentes da vila paraguaia de Ypoá, embora nubladas.

Literatura
"O Menino Peixe" é baseado em seu livro de estreia, lançado no Brasil neste ano pela Gryphus. Puenzo tinha então 23 anos e, desde então, já publicou outros três livros. O quinto, "A Fúria da Lagosta", sobre os filhos de um argentino que leva um banco à falência e foge de casa, sai no final do ano. Em comum, todos falam de jovens.
"É uma idade muito poderosa, quando tomamos decisões que vão nos definir para sempre, não somos mais crianças, nem adultos", diz Puenzo.
Enquanto escreve roteiros para outros diretores e finaliza seu novo livro, Puenzo se prepara para rodar seu terceiro longa em 2010. Ainda sem título, a obra se passará numa cidade deserta na Patagônia.


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