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33ª MOSTRA DE SP
Argentina narra fantasia de casal gay
"O Menino Peixe", de Lucía Puenzo ("XXY"), conta saga de garotas entre Buenos Aires e vila do Paraguai
FERNANDA EZABELLA
DA REPORTAGEM LOCAL
Mistura de romance, aventura e fantasia, "O Menino Peixe"
conta a saga de duas jovens que
se envolvem em roubos e assassinatos, numa série de eventos
tão burlescos que, no final das
contas, o menor de seus problemas é serem namoradas e de
classes sociais distintas.
Essa naturalidade para o "diferente" já estava no primeiro
longa da diretora argentina Lucía Puenzo, "XXY", destaque da
Mostra de São Paulo do ano
passado e premiado em festivais mundo afora (como em
Cannes), sobre os conflitos de
jovem hermafrodita.
"A todo momento eu dizia
para as duas atrizes [de "O Menino Peixe'] que isso não era
importante, podia ser a história
de um homem e uma mulher,
tanto faz. Elas deviam viver o
romance de maneira bem natural e não fazer disso a questão
do filme", diz Puenzo, 32, à Folha, por telefone.
"Foi como em "XXY", quando
a gente não mostra Alex [protagonista] sem roupa, que era o
que todo mundo queria ver.
Não gosto de escandalizar."
Puenzo volta a trabalhar com
Inés Efron, 25, atriz de "XXY" e
estrela em ascensão na Argentina. Após o filme de Puenzo,
ela já rodou outros dez, incluindo longas com Lucrecia Martel
("La Mujer sin Cabeza") e Daniel Burman ("Ninho Vazio").
Em "O Menino Peixe", ela faz
a garota de classe média alta
Lala, enamorada da doméstica
paraguaia La Guayi, que trabalha em sua casa em Buenos Aires. Elas têm planos de morar
juntas perto de um lago no Paraguai, mas um assassinato as
separa e põe Lala numa viagem
de descoberta ao país vizinho.
É aqui que surge o momento
fantástico, quando Lala encontra um dos segredos de sua
amada, numa cena subaquática
realizada com efeitos especiais.
A diretora admite que, na mistura de gêneros, foi complicado
deixar a sala de edição.
"O mais difícil [de fazer o filme] foi achar uma identidade,
um ritmo para a história, nesse
encontro de gêneros. O filme
navega por tons diferentes, mas
acho que isso acabou virando
parte de sua identidade."
A fotografia intercala cores
frias da casa sombria de Lala de
Buenos Aires com cores quentes da vila paraguaia de Ypoá,
embora nubladas.
Literatura
"O Menino Peixe" é baseado
em seu livro de estreia, lançado
no Brasil neste ano pela
Gryphus. Puenzo tinha então
23 anos e, desde então, já publicou outros três livros. O quinto,
"A Fúria da Lagosta", sobre os
filhos de um argentino que leva
um banco à falência e foge de
casa, sai no final do ano. Em comum, todos falam de jovens.
"É uma idade muito poderosa, quando tomamos decisões
que vão nos definir para sempre, não somos mais crianças,
nem adultos", diz Puenzo.
Enquanto escreve roteiros
para outros diretores e finaliza
seu novo livro, Puenzo se prepara para rodar seu terceiro
longa em 2010. Ainda sem título, a obra se passará numa cidade deserta na Patagônia.
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