São Paulo, segunda-feira, 01 de novembro de 2010

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Filmes nacionais seduzem empresas

Nova aposta tem ligação com crise do cinema independente mundial e com políticas de apoio a distribuidoras

Empresário brasileiro passa a ter vantagens financeiras no lançamento de títulos produzidos no país

DA ENVIADA A FLORIANÓPOLIS

Dentre as muitas marcas batidas por "Tropa de Elite 2", há uma que carrega, em si, uma das grandes contradições do cinema brasileiro: vão sempre parar nos cofres das subsidiárias de Hollywood os cifrões gerados pelos sucessos nacionais.
Filmes como "Se Eu Fosse Você" e "Dois Filhos de Francisco" foram postos no mercado com o logotipo de grupos como Sony e Fox.
A razão para tal fenômeno tem origem num mecanismo de incentivo fiscal: o Artigo 3º da Lei do Audiovisual.
O "artigo 3º" -tratado assim, com intimidade, pelo mercado de cinema brasileiro- permite que as empresas estrangeiras apliquem em produções nacionais parte do imposto que deve ser pago no momento da remessa de lucros para o exterior.
E foi assim, com financiamento público, que as majors passaram a se associar aos filmes brasileiros.
Mas o que parecia louvável foi se tornando excessivo e, então, a Agência Nacional de Cinema (Ancine) resolveu criar políticas capazes de estimular certas peças a se moverem nesse jogo.
Essa política, que começou a ser desenhada em 2005, deu origem, primeiro, ao Prêmio Adicional de Renda, que beneficia as distribuidoras brasileiras.
A partir de 2006, o BNDES passou a investir em Funcines (fundos de investimento voltados ao audiovisual) e priorizou os que fossem focados em distribuição.
Por fim, veio o Fundo Setorial do Audiovisual, que inclui duas linhas de apoio à distribuição e disponibilizou R$ 10 milhões em 2009 e R$ 22,4 milhões neste ano.
Somados todos os recursos, a Ancine colocou, em distribuição, cerca de R$ 30 milhões em 2010. Em 2004, não havia um só tostão público nesse segmento da chamada cadeia do cinema.

FOCO NACIONAL
"Conseguimos atrair todas as distribuidoras independentes para o filme brasileiro", diz Manoel Rangel, presidente da Ancine. "Algumas empresas passaram a ter o filme brasileiro como seu produto principal. Já as majors sempre terão como prioridade o produto da matriz."
Bruno Wainer, o primeiro a apostar nos nacionais, com a Downtown ("Chico Xavier"), diz, sem desconsiderar a importância dos estímulos, que a mudança de rumo foi determinada, também, pelo contexto mundial.
"O mercado independente mundial está em crise. O cinema brasileiro passou a ser alternativa para as empresas que trabalhavam com independentes estrangeiros."
Abrão Scherer, da Imagem, diz que não. Segundo ele, a aposta tem mais a ver com o potencial do cinema brasileiro do que com a falta de opções estrangeiras.
(ANA PAULA SOUSA)


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