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NOITE
Casas noturnas estabelecem diferenças entre seus queridinhos e outros clientes, que se sentem lesados
Clubes de SP protegem seus VIPs
ADRIANA FERREIRA SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL
NINA LEMOS
COLUNISTA DA FOLHA
A noite paulistana, e de qualquer lugar do mundo, é dividida
entre VIPs e pessoas comuns. A
convivência entre ambos costuma ser pacífica. Mas, vira-mexe,
uma das partes -geralmente a
segunda- sai lesada, e o resultado repercute para além de clubes,
bares e afins.
Um desses entreveros foi parar
na seção de cartas da edição de 18
de novembro do Guia da Folha.
Dois leitores contaram a mesma
história: foram no dia 11/10 ao bar
Berlin, reduto dos modernos na
Barra Funda, e mofaram na fila,
enquanto os seguranças liberavam os amigos da casa.
A resposta de um dos proprietários, Marcelo Schenberg, foi das
mais sinceras: "Há motivos para
tanto, que não dizem respeito a
outros que não ao staff da casa".
Pelo menos seis cartas indignadas com sua resposta chegaram à
Redação desde então. O gerente
administrativo Anselmo Ribeiro,
um dos que escreveu ao Guia,
achou-o "petulante". "Se ele quer
abrir só para os amigos, não deveria divulgar."
Mais diplomático, o outro sócio
do Berlin, Jonas Serodio, explica
que os VIPs são os habitués, que
freqüentam o bar desde que ele
abriu, além de pessoas "que trabalham da noite". "Mas nunca
um VIP toma o lugar de alguém
que está na fila", afirma Serodio.
"Eles não fazem parte da lotação
da casa", explica. "As pessoas não
ficam mais tempo do lado de fora
porque eles entraram. Deixamos
o espaço sempre com uma certa
folga para não ficar insuportável."
Naquele dia, após quase uma
hora procurando o bar, instalado
num lugar de difícil acesso, e mais
outro tanto de espera, Ribeiro foi
ao FunHouse. "Não entrei no Berlin. Achei um desrespeito."
O fato é que, nas principais casas de São Paulo, existe tratamento diferenciado entre pagantes e
VIPs. A Folha foi a quatro clubes
que fazem sucesso na cidade
atualmente: Vegas, D-Edge e Lotus, além do Berlin -que não tinha filas no dia da visita. Em todos, há quem entra direto e quem
fica na porta esperando.
Vegas
Quem sempre vai ser VIP no
Vegas? A hostess da casa, Eliane
Dias, fica em dúvida entre os estilistas Alexandre Herchcovitch e
Dudu Bertholini. Certo é que
qualquer um dos dois não paga
nem pega fila no clube.
Eles entram por uma outra porta, a de saída, que fica à direita da
entrada dos "comuns". É por ali
que passam os portadores do
"dealer", uma espécie de carteirinha de sócio, em formato de ficha
de pôquer. E também os que não
têm "dealer", mas são freqüentadores assíduos, jornalistas, "gente
da moda" e DJs.
"Criamos o "dealer" justamente
para diminuir a fila e a confusão
na porta", explica Facundo Guerra, um dos donos. Hoje, existem
cerca de 200 espalhados por São
Paulo. Quem não tem, mas é considerado VIP, entra sem culpas.
É o caso do estilista Mareu
Nitschke, que chegou sorridente
na noite de sexta. "Não sinto culpa em ser VIP. Ainda mais porque tem vezes que sou mais VIP e
outras que sou menos. Se fico
uma temporada sem desfilar, minha cotação de VIP cai", brinca.
O Vegas é famoso por suas filas
enormes, que se formam quando
a casa está cheia. "Nesses casos,
ninguém entra", diz Guerra.
"Mas, se chegar uma atriz famosa
ou um Alexandre (Herchcovitch),
eles entram. Existem VIPs incondicionais", afirma a hostess.
É por conta desse privilégio que
o produtor musical Fernando
Britto, 33, acha que nunca foi ao
Vegas. "Já fiquei sabendo que lá é
superlotado. Acho muito chato
esse tipo de tratamento", fala.
Freqüentador do clube D-Edge
às sextas, Britto conta que conhece o DJ residente Marcos Morcerf,
mas nem por isso evita a fila.
"Chego cedo porque sei que são
quilométricas. Mas tem gente da
MTV, modelos, que entram direto", diz. "Entendo que o empresário queira celebridades em sua casa, mas é um desrespeito com
quem paga."
Renato Ratier, dono do D-Edge,
afirma que os VIPs são as pessoas
que "abrilhantam a noite". "Eles
se diferenciam pelo que fazem,
como um estilista que está "acontecendo'", explica Ratier.
Além dos que brilham, entram
sem fila também os habitués que
têm um "consumo elevado". "Tenho que dar preferência para essas pessoas", diz Ratier.
É principalmente para elas que
está sendo ampliado o espaço do
clube, que vai ocupar também o
prédio ao lado. "Os VIPs terão
acesso [ao D-Edge] por outra entrada. Não vão pegar fila na entrada nem na saída", conta Ratier.
Mauricinhos underground
Na porta do clube Lotus, centenas de adolescentes ligam para
amigos para saber se seus nomes
estão "na lista", a palavra mais falada na sexta-feira. Se não estiver,
isso significa pagar um ingresso
de R$ 80 ou uma consumação de
R$ 120. "Vou ver se meu nome está na porta. Senão, vou me humilhar com a hostess", planejavam
os amigos Alexandre Pessoa e
Evandro Vicentille. Segundo eles,
fazer isso "até vale a pena pra entrar no clube".
A lista VIP do Lotus é feita por
20 promoters que trabalham recebendo telefonemas e convidando
pessoas que tenham a ver com o
clima da casa. Mas como é o perfil
do freqüentador do Lotus? "É um
mauricinho underground", explica o promoter Max Jason. Na noite de sexta, ele colocou clientes
para dentro, sem que eles precisassem ficar na fila da lista VIP.
"São pessoas que gastam R$ 5.000
em uma noite." Quem é bonito
também tem privilégios. "Claro
que gente bonita entra com mais
facilidade em qualquer clube."
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