São Paulo, quinta-feira, 01 de dezembro de 2005

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NOITE

Casas noturnas estabelecem diferenças entre seus queridinhos e outros clientes, que se sentem lesados

Clubes de SP protegem seus VIPs

ADRIANA FERREIRA SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL

NINA LEMOS
COLUNISTA DA FOLHA

A noite paulistana, e de qualquer lugar do mundo, é dividida entre VIPs e pessoas comuns. A convivência entre ambos costuma ser pacífica. Mas, vira-mexe, uma das partes -geralmente a segunda- sai lesada, e o resultado repercute para além de clubes, bares e afins.
Um desses entreveros foi parar na seção de cartas da edição de 18 de novembro do Guia da Folha. Dois leitores contaram a mesma história: foram no dia 11/10 ao bar Berlin, reduto dos modernos na Barra Funda, e mofaram na fila, enquanto os seguranças liberavam os amigos da casa.
A resposta de um dos proprietários, Marcelo Schenberg, foi das mais sinceras: "Há motivos para tanto, que não dizem respeito a outros que não ao staff da casa".
Pelo menos seis cartas indignadas com sua resposta chegaram à Redação desde então. O gerente administrativo Anselmo Ribeiro, um dos que escreveu ao Guia, achou-o "petulante". "Se ele quer abrir só para os amigos, não deveria divulgar."
Mais diplomático, o outro sócio do Berlin, Jonas Serodio, explica que os VIPs são os habitués, que freqüentam o bar desde que ele abriu, além de pessoas "que trabalham da noite". "Mas nunca um VIP toma o lugar de alguém que está na fila", afirma Serodio. "Eles não fazem parte da lotação da casa", explica. "As pessoas não ficam mais tempo do lado de fora porque eles entraram. Deixamos o espaço sempre com uma certa folga para não ficar insuportável."
Naquele dia, após quase uma hora procurando o bar, instalado num lugar de difícil acesso, e mais outro tanto de espera, Ribeiro foi ao FunHouse. "Não entrei no Berlin. Achei um desrespeito."
O fato é que, nas principais casas de São Paulo, existe tratamento diferenciado entre pagantes e VIPs. A Folha foi a quatro clubes que fazem sucesso na cidade atualmente: Vegas, D-Edge e Lotus, além do Berlin -que não tinha filas no dia da visita. Em todos, há quem entra direto e quem fica na porta esperando.

Vegas
Quem sempre vai ser VIP no Vegas? A hostess da casa, Eliane Dias, fica em dúvida entre os estilistas Alexandre Herchcovitch e Dudu Bertholini. Certo é que qualquer um dos dois não paga nem pega fila no clube.
Eles entram por uma outra porta, a de saída, que fica à direita da entrada dos "comuns". É por ali que passam os portadores do "dealer", uma espécie de carteirinha de sócio, em formato de ficha de pôquer. E também os que não têm "dealer", mas são freqüentadores assíduos, jornalistas, "gente da moda" e DJs.
"Criamos o "dealer" justamente para diminuir a fila e a confusão na porta", explica Facundo Guerra, um dos donos. Hoje, existem cerca de 200 espalhados por São Paulo. Quem não tem, mas é considerado VIP, entra sem culpas.
É o caso do estilista Mareu Nitschke, que chegou sorridente na noite de sexta. "Não sinto culpa em ser VIP. Ainda mais porque tem vezes que sou mais VIP e outras que sou menos. Se fico uma temporada sem desfilar, minha cotação de VIP cai", brinca.
O Vegas é famoso por suas filas enormes, que se formam quando a casa está cheia. "Nesses casos, ninguém entra", diz Guerra. "Mas, se chegar uma atriz famosa ou um Alexandre (Herchcovitch), eles entram. Existem VIPs incondicionais", afirma a hostess.
É por conta desse privilégio que o produtor musical Fernando Britto, 33, acha que nunca foi ao Vegas. "Já fiquei sabendo que lá é superlotado. Acho muito chato esse tipo de tratamento", fala.
Freqüentador do clube D-Edge às sextas, Britto conta que conhece o DJ residente Marcos Morcerf, mas nem por isso evita a fila. "Chego cedo porque sei que são quilométricas. Mas tem gente da MTV, modelos, que entram direto", diz. "Entendo que o empresário queira celebridades em sua casa, mas é um desrespeito com quem paga."
Renato Ratier, dono do D-Edge, afirma que os VIPs são as pessoas que "abrilhantam a noite". "Eles se diferenciam pelo que fazem, como um estilista que está "acontecendo'", explica Ratier.
Além dos que brilham, entram sem fila também os habitués que têm um "consumo elevado". "Tenho que dar preferência para essas pessoas", diz Ratier.
É principalmente para elas que está sendo ampliado o espaço do clube, que vai ocupar também o prédio ao lado. "Os VIPs terão acesso [ao D-Edge] por outra entrada. Não vão pegar fila na entrada nem na saída", conta Ratier.

Mauricinhos underground
Na porta do clube Lotus, centenas de adolescentes ligam para amigos para saber se seus nomes estão "na lista", a palavra mais falada na sexta-feira. Se não estiver, isso significa pagar um ingresso de R$ 80 ou uma consumação de R$ 120. "Vou ver se meu nome está na porta. Senão, vou me humilhar com a hostess", planejavam os amigos Alexandre Pessoa e Evandro Vicentille. Segundo eles, fazer isso "até vale a pena pra entrar no clube".
A lista VIP do Lotus é feita por 20 promoters que trabalham recebendo telefonemas e convidando pessoas que tenham a ver com o clima da casa. Mas como é o perfil do freqüentador do Lotus? "É um mauricinho underground", explica o promoter Max Jason. Na noite de sexta, ele colocou clientes para dentro, sem que eles precisassem ficar na fila da lista VIP. "São pessoas que gastam R$ 5.000 em uma noite." Quem é bonito também tem privilégios. "Claro que gente bonita entra com mais facilidade em qualquer clube."


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