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Crítica/"Mídia e Violência"
Compilação discute como o jornalismo diário trata a violência
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Poucos temas na literatura científica a respeito
dos meios de comunicação de massa foram tão explorados como o da sua relação
com a violência.
Nos países ricos, onde a pesquisa sobre esses temas é mais
avançada, a motivação principal sempre foi tentar comprovar vínculos entre a mídia e o
comportamento agressivo de
boa parte de sua sociedade.
Infelizmente, para os que
gostariam de utilizar a TV, o cinema, o rádio, as revistas e os
jornais como conveniente bode
expiatório de males muito mais
complexos, nunca se conseguiu
demonstrar causalidade entre
conteúdo violento nos veículos
de comunicação e atos de violência praticados por indivíduos que o consumissem.
Em nações da periferia do capitalismo, como o Brasil, também é comum tentar atribuir à
mídia algum tipo de responsabilidade pelos seus próprios
problemas com a violência, tais
como altos índices de criminalidade urbana e sentimento generalizado de insegurança pública.
Ora imputa-se aos meios de
comunicação de massa o vício
de exagerar os fatos com uma
cobertura sensacionalista, ora
de tratar do tema superficialmente sem perseguir as verdadeiras raízes dos males; às vezes eles são acusados de glamourizar o crime e, assim, torná-lo mais atraente, às vezes de
defender soluções cruéis e desumanas para combatê-lo.
Infelizmente, como nestes
países os recursos para a pesquisa científica são escassos,
em geral essas presunções generalizam-se entre vastas audiências de acordo com suas
preferências ideológicas sem
que sejam corroboradas por
evidências empíricas.
Análise e entrevistas
Neste sentido, é bem-vinda a
edição de "Mídia e Violência",
compilação de um trabalho de
análise de conteúdo de jornais
diários e de dezenas de entrevistas com jornalistas e especialistas em segurança pública
feito pelo Centro de Estudos de
Segurança e Cidadania da Universidade Candido Mendes.
Não chega a ser um projeto
de grande fôlego acadêmico. Limita-se ao universo do jornalismo diário, não se aprofunda em
explorar eventuais relações de
causa e efeito, não faz pesquisa
de campo.
Mas é um raro esforço de ao
menos sistematizar o conhecimento acumulado sobre o assunto, analisar com um pouco
de calma a produção jornalística do passado recente e do presente, propor sugestões para
que ela melhore de qualidade.
Parece haver um consenso de
que a cobertura dos temas associados à violência, criminalidade e segurança pública na
imprensa brasileira tem melhorado ao longo das últimas
décadas. É muito provável que
sim.
Mas para essa afirmação poder ser feita com mais segurança, é necessário tentar estabelecer parâmetros minimamente
objetivos e embasados em critérios de alguma forma validados com rigor científico.
"Mídia e Violência" não chega a tanto. Afirma que a maioria
dos jornais e emissoras de TV
vem se valendo menos de "recursos sensacionalistas e noções apelativas", sem, no entanto, constatar esse fenômeno
de modo definitivo (com alguma comparação história quantitativa, por exemplo).
A própria correlação entre
sensacionalismo e má qualidade é discutível. Alguns jornais
tablóides britânicos, por exemplo, são sensacionalistas e excelentes em termos de técnica
jornalística. Pode-se achar que
eles são de mau gosto, mas gosto não se discute.
O livro considera o fechamento do jornal "Notícias Populares" um "fator emblemático dessa tendência" [de melhor
qualidade], embora seja muito
mais provável que o "NP" (ele
próprio em algumas épocas um
bom jornal do seu gênero) tenha fechado porque fatores socioeconômicos reduziram muito a demanda pública por esse
tipo de imprensa.
Independentemente de
eventuais discordâncias pontuais, há em "Mídia e Violência" material rico para debates
muito úteis sobre jornalismo e
criminalidade no Brasil e seu
maior mérito é estimular tal
discussão.
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA é livre-docente e doutor em jornalismo pela USP e mestre
em comunicação pela Universidade do Estado de
Michigan (EUA). É autor, entre outros livros, de
"Mil Dias - Seis Mil Dias Depois" (Publifolha).
MÍDIA E VIOLÊNCIA - NOVAS TENDÊNCIAS NA COBERTURA DE CRIMINALIDADE E SEGURANÇA NO BRASIL
Autoras: Silvia Ramos e Anabela Paiva
Edição: Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC)
Informações: O livro é distribuído gratuitamente para pesquisadores e instituições ligadas ao tema.
Informações podem ser obtidas pelo tel. 0/xx/21/
2531-2033 ou através do site www.ucamsesec.com.br
Avaliação: bom
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