São Paulo, quarta-feira, 01 de dezembro de 2010

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Tema racial incomoda Obama, diz biógrafo

Segundo o editor da "New Yorker", presidente abordou assunto formalmente e disse que falar disso "não o ajuda'

Para autor, decisões políticas e diferença radical em relação à candidatura ajudaram a derrubar popularidade

Larry Downing - 10.set.10/Reuters
O presidente Barack Obama durante entrevista sobre tolerância religiosa na Casa Branca, em Washington, em setembro

DA ENVIADA A NOVA YORK

Apesar de o livro "A Ponte" ter como pano de fundo a questão racial, o biógrafo David Remnick diz que Barack Obama não se sente confortável falando sobre o tema e não há como esperar que fale disso abertamente.
"Obama foi superformal na entrevista, havia mais gente na sala", lembra Remnick. "Perguntei sobre raça, mas só depois ele veio no corredor e disse: "Não me ajuda em nada falar sobre raça, sobretudo se improviso. Tudo o que falo é aumentado"."
Remnick, que entrevistou por e-mail Roberto Mangabeira Unger, professor de Obama em Harvard, também é irônico sobre o acadêmico brasileiro, cujo depoimento é transcrito em uma página e meia em "A Ponte". "Ele é muito enrolado, né?"
(LUCIANA COELHO)

 

Folha - O que o surpreendeu depois da posse?
David Remnick -
A manutenção de algumas políticas antiterrorismo, o fato de ele ser péssimo em formar relações com outros líderes mundiais. Política é muito mais importante do que personalidade, mas esse distanciamento frio tem peso político.

Na primeira vez que o sr. entrevistou Obama, vocês falaram de raça, algo subjacente na campanha eleitoral. Como Obama lida com isso?
Raça não tem sido parte da política americana sob Obama. Quando surgiu, acidentalmente, foi lamentável, no incidente com Henry Louis Gates Jr. [professor de Harvard negro preso por um policial branco quando tentava entrar em casa, o que Obama acusaria de estupidez].
Não houve um grande diálogo. Creio que ele sabe que a melhor coisa a fazer nesse sentido é ser um bom presidente. A barreira foi quebrada, há um presidente negro.

Durante a campanha, alguns comentaristas evocaram a imagem de Obama como uma figura messiânica. As expectativas foram alimentadas além das possibilidades?
Há duas grandes razões para a euforia entre a eleição e a posse de Obama. Uma é a saída de George W. Bush. A outra é que, não muito diferente do Brasil, a divisão mais dolorosa e persistente na sociedade sempre foi a racial. E agora se tem um presidente negro. É um milagre.
Então, por algum tempo, há a sensação de que não foi uma eleição qualquer. Só que essa questão da raça só se consegue uma vez, agora nem estamos falando disso, e Bush se foi e acabou. Aí você acorda no mundo real, com a situação mais conturbada que de costume, e tem que começar a tomar decisões políticas. É aí que sua popularidade sofre um golpe.

Obama tinha a ideia de que seria assim?
Acho que seus assessores políticos sabiam perfeitamente que em nenhum caso dava para a popularidade ficar como estava e sabiam que ele teria de começar a tomar decisões políticas. E ele teve de tomá-las ainda mais rápido, o que acaba descontentando alguns.
Além disso, ele não foi tão eficiente em comunicar suas políticas e conquistar empatia como o foi na campanha.
Houve uma diferença radical entre o candidato e o presidente. Como presidente, viu-se o sujeito de sangue-frio, mas não se viu nada mais emocional.

O sr. vê chances de ele se reeleger em 2012?
Não gosto de fazer previsões, acho que é a pior forma de jornalismo. Mas acho que sim. Se a economia melhorar um pouquinho e não houver nenhum desastre, as chances dele são melhores que as de qualquer um.


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