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Tema racial incomoda Obama, diz biógrafo
Segundo o editor da "New Yorker", presidente abordou assunto formalmente e disse que falar disso "não o ajuda'
Para autor, decisões políticas e diferença radical em relação à candidatura ajudaram a derrubar popularidade
Larry Downing - 10.set.10/Reuters
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O presidente Barack Obama durante entrevista sobre tolerância religiosa na Casa Branca, em Washington, em setembro
DA ENVIADA A NOVA YORK
Apesar de o livro "A Ponte" ter como pano de fundo a
questão racial, o biógrafo David Remnick diz que Barack
Obama não se sente confortável falando sobre o tema e
não há como esperar que fale
disso abertamente.
"Obama foi superformal
na entrevista, havia mais
gente na sala", lembra Remnick. "Perguntei sobre raça,
mas só depois ele veio no corredor e disse: "Não me ajuda
em nada falar sobre raça, sobretudo se improviso. Tudo o
que falo é aumentado"."
Remnick, que entrevistou
por e-mail Roberto Mangabeira Unger, professor de
Obama em Harvard, também
é irônico sobre o acadêmico
brasileiro, cujo depoimento é
transcrito em uma página e
meia em "A Ponte". "Ele é
muito enrolado, né?"
(LUCIANA COELHO)
Folha - O que o surpreendeu
depois da posse?
David Remnick - A manutenção de algumas políticas
antiterrorismo, o fato de ele
ser péssimo em formar relações com outros líderes mundiais. Política é muito mais
importante do que personalidade, mas esse distanciamento frio tem peso político.
Na primeira vez que o sr. entrevistou Obama, vocês falaram de raça, algo subjacente
na campanha eleitoral. Como
Obama lida com isso?
Raça não tem sido parte da
política americana sob Obama. Quando surgiu, acidentalmente, foi lamentável, no
incidente com Henry Louis
Gates Jr. [professor de Harvard negro preso por um policial branco quando tentava
entrar em casa, o que Obama
acusaria de estupidez].
Não houve um grande diálogo. Creio que ele sabe que a
melhor coisa a fazer nesse
sentido é ser um bom presidente. A barreira foi quebrada, há um presidente negro.
Durante a campanha, alguns
comentaristas evocaram a
imagem de Obama como uma
figura messiânica. As expectativas foram alimentadas
além das possibilidades?
Há duas grandes razões
para a euforia entre a eleição
e a posse de Obama. Uma é a
saída de George W. Bush. A
outra é que, não muito diferente do Brasil, a divisão
mais dolorosa e persistente
na sociedade sempre foi a racial. E agora se tem um presidente negro. É um milagre.
Então, por algum tempo,
há a sensação de que não foi
uma eleição qualquer. Só
que essa questão da raça só
se consegue uma vez, agora
nem estamos falando disso, e
Bush se foi e acabou. Aí você
acorda no mundo real, com a
situação mais conturbada
que de costume, e tem que
começar a tomar decisões políticas. É aí que sua popularidade sofre um golpe.
Obama tinha a ideia de que
seria assim?
Acho que seus assessores
políticos sabiam perfeitamente que em nenhum caso
dava para a popularidade ficar como estava e sabiam
que ele teria de começar a tomar decisões políticas. E ele
teve de tomá-las ainda mais
rápido, o que acaba descontentando alguns.
Além disso, ele não foi tão
eficiente em comunicar suas
políticas e conquistar empatia como o foi na campanha.
Houve uma diferença radical entre o candidato e o presidente. Como presidente,
viu-se o sujeito de sangue-frio, mas não se viu nada
mais emocional.
O sr. vê chances de ele se reeleger em 2012?
Não gosto de fazer previsões, acho que é a pior forma
de jornalismo. Mas acho que
sim. Se a economia melhorar
um pouquinho e não houver
nenhum desastre, as chances dele são melhores que as
de qualquer um.
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