São Paulo, domingo, 02 de janeiro de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Mônica Bergamo

bergamo@folhasp.com.br

REGINA FINA

Regina Casé, que estreia hoje como apresentadora do programa de auditório "Esquenta!", diz que chega na "maior humildade" para a tarefa e fala dos 13 quilos que perdeu: "Queria me sentir mais leve"

Paula Giolito/Folhapress
O garoto Matheus fotografa Regina Casé no morro do Cantagalo

Regina Casé, 57 anos, está 13 quilos mais magra. A mudança faz parte de uma nova fase, que sucede o período delicado que viveu com a morte do pai, Geraldo Casé, em 2008, e com o acidente que quase deixou tetraplégico seu marido, Estevão Ciavatta, no mesmo ano.


 

De volta ao batente, ela foi protagonista do especial de Natal "Papai Noel Existe", da TV Globo, e hoje estreia o programa de auditório "Esquenta!", na mesma emissora. O repórter Marcelo Bortoloti acompanhou a primeira manhã de folga da atriz após uma maratona de gravações. O encontro acabou num almoço no alto do morro do Cantagalo, favela que fica na zona sul do Rio.


 

"Qual é a carne desse ensopado?", pergunta Regina a Dona Bica, proprietária da "Biroska da Bica", no topo da favela. A cozinheira responde que é acém. "Está uma delícia, desmanchando no garfo", elogia a atriz. Na mesa, tigelas com arroz, feijão, farofa, carne com batata e salada. Ela come de tudo, repete o prato e toma uma Coca-Cola Zero. "Adoro farofa. Se houvesse só farofa no mundo, eu já ficaria feliz", diz, enfiando a colher no pote.


 

Regina faz uma dieta de desintoxicação. Durante uma semana por mês, deixa de comer carne, doces e gorduras, e se alimenta basicamente de vegetais. Nas outras semanas come normalmente. "Tentei outras coisas, mas foi o que funcionou para mim." Ela não fala quanto chegou a pesar. "Te digo apenas que ganhei uma calça 42 neste Natal e tive de trocar por uma 40, porque ficou larga. Foi meu maior presente."


 

"Emagreci para me sentir mais leve. Eu ralo muito, estou sempre andando para cima e para baixo e, agora, tenho menos peso para carregar." Seu novo "shape" não passa despercebido na rua. "Ficou show de bola", assanha-se um senhor, já de cabelos grisalhos.


 

Ficar sem beber não é um problema. A atriz garante que nunca bebeu nem usou drogas. "Nunca me interessei. Não gosto de sair de mim, não tomo nem Tylenol."


 

O encontro com Regina acontece no Jardim Botânico. De lá, ela segue para a favela do Cantagalo, onde iria conhecer o elevador panorâmico recém-instalado na comunidade e encontrar uma amiga e ex-manicure que mora ali. "Vamos na minha van", convida. Quando o carro aparece, um Kia Carnival preto, o motorista corre para abrir as portas. "Já andei em cada van fedorenta, com o banco caindo, que merecia uma mais confortável."


 

Na entrada do elevador, a aguardam a amiga manicure e os integrantes do Bonde da Madrugada, grupo de dança da comunidade que, sabendo da visita, aproveita para fazer seu comercial. Eles serão dançarinos no auditório do "Esquenta!".


 

O programa foi encomendado pela emissora, que vem perdendo audiência nas tardes de domingo. Entra no ar antes do "Domingão do Faustão", terá uma hora de duração e deverá ficar no ar por três meses. "Eu chego na maior humildade, pedindo a benção para o Chacrinha", diz ela, que não chegou a trocar ideias sobre a atração com Fausto Silva.


 

"Preciso assistir mais TV. Vou fazer um programa num horário e num dia que não estou habituada a ver televisão há muito tempo." Embora o formato de auditório tenha sido uma exigência da emissora, ela afirma que não houve restrição em relação ao conteúdo.


 

O primeiro "Esquenta!" terá participações de Gilberto Gil e Zeca Pagodinho e uma entrevista com o ex-presidente Lula. A conversa foi gravada há algum tempo, quando caminharam juntos por uma favela. "Me impressionou como as pessoas chegam nele com intimidade."


 

Na subida do morro, uma roda de crianças se forma em torno dela. A atriz entra nas casas e cumprimenta a todos. "Me dá um beijo e uma azeitona", diz a um garoto com um saco de azeitonas. Ela é recebida com simpatia, mas há sempre um morador que destoa. "Bom dia, Cássia Kiss", diz um senhor.


 

"Reparou que ninguém me pediu um real? Eles gostam de mim porque gostam." Essa identificação, diz, se deve, por um lado, ao fato de estar há três décadas viajando pelo país e visitando casas de pessoas. Por outro, pela sua identificação com a cultura popular. "Muita gente da elite diz que gosta do povo, mas não gosta do que o povo faz. O sujeito pode ser comunista, mas odeia funk e pagode", fala. "Adoro funk. E não coloco essas coisas no meu programa para ganhar audiência. Gosto mesmo. As pessoas reconhecem isso."


 

Regina reclama que o Ibope não mede a audiência da TV nas favelas. "Se eles medissem aqui, meus programas iriam arrebentar", diz. "As pessoas daqui têm uma cultura diferente de lá debaixo [nos bairros de classe média alta]." (O Ibope diz que só não faz medições em áreas consideradas perigosas e que mantém aparelhos em algumas comunidades).


 

"Sempre gostei da diferença", filosofa. "Se você anda só com pessoas iguais, com o tempo passa a achar que os outros são caídos. Isso está na base de toda violência e até do terrorismo."


 

A atriz não perde a compostura no passeio. Ao seu lado, a amiga e figurinista Cláudia Kopke dá instruções. "Coloca os óculos escuros. Você está muito descabelada." Na mesa da refeição, Regina pede um tempo para a fotógrafa. "Não tira foto agora, não. Estou toda suada."


 

Neste fim de ano, ela pretende ficar longe das festas e dos morros. Vai se isolar com o marido na fazenda que tem em Mangaratiba, litoral sul fluminense. Ali, cria cinco cachorros, uma vaca e um jegue. "Acho bonito. O olho desse animal é lindo."


Texto Anterior: Programação de TV
Próximo Texto: Piratas do horário nobre
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.