São Paulo, Quarta-feira, 02 de Fevereiro de 2000


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MORUMBIFASHION BRASIL
Roupas preciosas


Walter Rodrigues e Villaventura fazem de cada peça uma jóia única


ERIKA PALOMINO
Colunista da Folha


Walter Rodrigues e Lino Villaventura fizeram os melhores desfiles de anteontem, o último dia do MorumbiFashion Brasil, o evento que lançou a moda para o outono-inverno 2000, em São Paulo. Em ponto de amadurecimento profissional, os dois criadores, cada qual com seu estilo, apresentam na passarela o resultado de pesquisa, convicções, tentativas, erros e acertos ao longo dos últimos anos. Sinceridade e originalidade são denominadores comuns.
De Walter Rodrigues, estilista há 17 anos, pode-se dizer que ele lavou a alma daqueles que gostam e acompanham seu trabalho. E esta coleção naturalmente seria especial: é a primeira depois da viagem a seu país-fetiche: o Japão. Também é a primeira em sua nova idade: 40 anos.
Pois foi assim, renovado, despido e desafiado que o estilista olhou para as formas orientais. Desenvolveu no Brasil tecidos que lembram os japoneses, inventando novos e atualizados quimonos. Não desses feito fantasia, mas trajes contemporâneos, modernos mesmo, apenas com "perfume" de quimono.
O primeiro segmento do desfile traz esse material (batizado Shibori, com gominhos de matelassê) em amarelo; saias e blusas que brincam inteligentemente com os volumes dos quimonos. Mangas-luvas usadas como recurso de edição amarram e rejuvenescem.
Malhas pretas cortadas a laser desenham com o recorte estampas feitas de pequenas flores. Até simples ciclistas ganham movimento atrás, e a edição do desfile evolui para os trajes quase futuristas em vinil preto, que preservam sua elegância inspirada no estilista espanhol Cristobal Balenciaga, em clima "Blade Runner".
Entram finalmente os vestidos amarelos em georgette, desses que vamos ver em muitas festas por aí. Com incrível trabalho de corte, eles ganham caudas e drapeados laterais, com poético movimento. A forma dos vestidos se desdobra em blusas chiques, usadas com calças retas ou maxipantalonas de georgette cor de pele (com visual quase náilon) ou em calças de sílica, brilhosas. O macacão de Ana Carolina Ilek, com decotes e cavas quadradas, encerra o desfile e sintetiza a nova simplicidade de Walter Rodrigues.
Lino Villaventura está diferente. Introspectivo, denso. As peças são pedras preciosas, cada uma contendo história própria e um passado de textura, desfiado, enrugado. A mão do criador, estilista há 18 anos, aparece em todas elas.
De um lado, a coleção explode em cores e bordados, como na elaborada calça reta supertrabalhada. Os melhores looks são os monocromáticos, em sobreposições que desafiam a identificação, vermelhos, cinzas, verde-oliva. Entre as estampas, destacam-se as de pássaros (as de insetos nem precisava ter), tudo melhor quando bordado. O jeans ganhou resultados incríveis, especialmente nos vestidos, com saia presa por zíper, ou no longo justo ao corpo em cima, arrastando no chão.
Depois, homens (de silhueta ainda mais enxuta) e mulheres são agora seres atormentados, quase góticos. É o melhor momento, com os vestidos pretos, enrugados, como o de Marina Dias, ou o corseletado, de Daniela Crispim. Talytha fecha o desfile, a única no vestido branco, redenção, pérola e preciosidade.


Avaliação: Walter Rodrigues     

Lino Villaventura    


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