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MORUMBIFASHION BRASIL
Roupas preciosas
Walter Rodrigues e Villaventura fazem de cada peça uma jóia única
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ERIKA PALOMINO
Colunista da Folha
Walter Rodrigues e Lino Villaventura fizeram os melhores desfiles de anteontem, o último dia
do MorumbiFashion Brasil, o
evento que lançou a moda para o
outono-inverno 2000, em São
Paulo. Em ponto de amadurecimento profissional, os dois criadores, cada qual com seu estilo,
apresentam na passarela o resultado de pesquisa, convicções, tentativas, erros e acertos ao longo
dos últimos anos. Sinceridade e
originalidade são denominadores
comuns.
De Walter Rodrigues, estilista
há 17 anos, pode-se dizer que ele
lavou a alma daqueles que gostam
e acompanham seu trabalho. E esta coleção naturalmente seria especial: é a primeira depois da viagem a seu país-fetiche: o Japão.
Também é a primeira em sua nova idade: 40 anos.
Pois foi assim, renovado, despido e desafiado que o estilista
olhou para as formas orientais.
Desenvolveu no Brasil tecidos que
lembram os japoneses, inventando novos e atualizados quimonos.
Não desses feito fantasia, mas trajes contemporâneos, modernos
mesmo, apenas com "perfume"
de quimono.
O primeiro segmento do desfile
traz esse material (batizado Shibori, com gominhos de matelassê) em amarelo; saias e blusas que
brincam inteligentemente com os
volumes dos quimonos. Mangas-luvas usadas como recurso de edição amarram e rejuvenescem.
Malhas pretas cortadas a laser
desenham com o recorte estampas feitas de pequenas flores. Até
simples ciclistas ganham movimento atrás, e a edição do desfile
evolui para os trajes quase futuristas em vinil preto, que preservam
sua elegância inspirada no estilista espanhol Cristobal Balenciaga,
em clima "Blade Runner".
Entram finalmente os vestidos
amarelos em georgette, desses
que vamos ver em muitas festas
por aí. Com incrível trabalho de
corte, eles ganham caudas e drapeados laterais, com poético movimento. A forma dos vestidos se
desdobra em blusas chiques, usadas com calças retas ou maxipantalonas de georgette cor de pele
(com visual quase náilon) ou em
calças de sílica, brilhosas. O macacão de Ana Carolina Ilek, com decotes e cavas quadradas, encerra o
desfile e sintetiza a nova simplicidade de Walter Rodrigues.
Lino Villaventura está diferente.
Introspectivo, denso. As peças são
pedras preciosas, cada uma contendo história própria e um passado de textura, desfiado, enrugado. A mão do criador, estilista há
18 anos, aparece em todas elas.
De um lado, a coleção explode
em cores e bordados, como na
elaborada calça reta supertrabalhada. Os melhores looks são os
monocromáticos, em sobreposições que desafiam a identificação,
vermelhos, cinzas, verde-oliva.
Entre as estampas, destacam-se as
de pássaros (as de insetos nem
precisava ter), tudo melhor quando bordado. O jeans ganhou resultados incríveis, especialmente
nos vestidos, com saia presa por
zíper, ou no longo justo ao corpo
em cima, arrastando no chão.
Depois, homens (de silhueta
ainda mais enxuta) e mulheres
são agora seres atormentados,
quase góticos. É o melhor momento, com os vestidos pretos,
enrugados, como o de Marina
Dias, ou o corseletado, de Daniela
Crispim. Talytha fecha o desfile, a
única no vestido branco, redenção, pérola e preciosidade.
Avaliação: Walter Rodrigues
Lino Villaventura
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