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EXPOSIÇÃO
Shaheen Merali, curador da instituição em Berlim, seleciona obras contemporâneas para megamostra em 2006
Casa das Culturas investiga arte nacional
LUCRECIA ZAPPI
FREE-LANCE PARA A FOLHA
A Casa das Culturas do Mundo,
em Berlim, prepara para 2006
uma mostra do que há de mais representativo da arte contemporânea brasileira. A ambiciosa investida germânica trouxe em dezembro Shaheen Merali, o novo curador da Casa das Culturas do Mundo, cargo que já foi ocupado por
Alfons Hug, e a consultora brasileira e curadora independente Teresa de Arruda, que mora na Alemanha há 15 anos.
O projeto ainda sem nome já
mobilizou 500 mil euros, doados
pela companhia de loteria alemã e
pelo Senado berlinense, um dos
patrocinadores mais constantes
da Casa das Culturas. Além da exposição prevista para 2006, já no
próximo ano uma série de palestras, exibições de filmes e workshops relacionados à cultura brasileira devem aquecer Berlim.
Mesmo sem idéia do que seria o
fio condutor dessa arte que veio
"investigar", Merali diz ter tido,
durante esse primeiro contato
com o Brasil, uma sensação de
isolamento, de quase um confinamento entre as redes de cidades.
E essas experiências artísticas
no território urbano se tornam
freqüentemente contraditórias
quando vistas a partir de um amplo território nacional. "O Brasil é
tão grande que se tornou quase
uma barreira para as pessoas. No
momento, as cenas e linguagens
de arte são locais. Você está marcado pelo local de nascimento, o
que pesa muito na hora da criação", diz Merali.
"As formas que já eram feias ficaram ainda mais. E os artistas
notam que não há um fio direto
de comunicação entre o que as
pessoas querem e como a cidade
de fato emerge."
Nesse contexto a obra do artista
Marcelo Cidade cativou o estrangeiro. "Ele foi a uma das ruas da
cidade e tirou ladrilhos do piso e
os recolocou na galeria. Há referências de formas de destruição
do mobiliário das ruas sem que
ninguém se dê conta disso ou tenha controle sobre isso."
Merali diz acreditar que o Brasil
vive nesse momento num período de entressafra. De um lado, segundo ele, há as obras dos já consagrados, como Lygia Clark, Hélio Oiticica, Cildo Meireles e Tunga, que devem entrar na mostra.
Por outro, há um entusiasmo de
lançar novas vozes individuais,
apontado também pelo curador
como uma "necessidade mercadológica", o que, segundo Merali,
é muito complicado: "Arte não é
algo que você aprende numa academia de arte, se forma e sai fazendo. Toma muito tempo para
amadurecer".
Estereótipos brasileiros à parte,
Merali diz que as diferentes influências culturais do Brasil são
muito importantes, "porque preservam a herança, a linguagem e a
memória, incluindo todo o processo colonial. Eu penso que o
Brasil é muito importante, em
muitas maneiras, para o mundo.
A projeção é muito latina, latino-européia, eu diria. São Paulo, por
exemplo, tem essa espécie de fusão, mas reflete um tipo de design
e uma estética européia".
"Na arte os curadores mediam a
sensibilidade do artista e o apetite
do colecionador. De muitas maneiras é o que eu estou fazendo
aqui, estou na zona de pára-choque entre os dois pólos, além de
tentar criar uma conversação entre o que acontece aqui, no Brasil,
e lá, em Berlim", diz Merali, ótimo
exemplar do "olhar estrangeiro":
filho de indianos, nasceu na Tanzânia, mora em Berlim, mas se
considera britânico, porque, afinal, "30 anos na Inglaterra deixam
sua marca", afirma ele, sorrindo.
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