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Meninos do Brasil
Documentário "Pro Dia Nascer Feliz", de João Jardim, parte
do problema da educação no país para lançar luz sobre as angústias da juventude hoje
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
Apesar de ter como palco seis
escolas, "Pro Dia Nascer Feliz",
que entra hoje em cartaz nos cinemas, é mais do que um documentário sobre educação, fadado a agradar apenas professores ou pedagogos.
Ao optar por deixar os adolescentes discorrerem sobre
seus medos, angústias e esperanças, o diretor João Jardim,
de "Janela da Alma", fez principalmente um longa-metragem
sobre juventude, ou, como ele
define no cartaz de divulgação
da obra, "um filme sobre meninos e meninas que vivem a
pressão de saber quem são".
Justamente por não se restringir ao ambiente pedagógico, "Pro Dia Nascer Feliz" dá
uma importante contribuição
para entender por que o Brasil,
após universalizar o ensino
fundamental no final do século
passado, não consegue fazer da
escola um local de aprendizado.
O documentário começa exibindo uma campanha governamental de 1962 que destaca o
fato de metade dos então 14 milhões de jovens em idade escolar não estudar. Uma manchete
de jornal da época alardeava
que "na cidade sem escolas, jovens escolhem o crime".
Hoje, escolas não faltam nas
cidades, mas a escolha do crime
segue preocupando. Além disso, se antes metade dos jovens
não estudava, agora o problema
é que metade não aprende.
O diagnóstico de que o país
falha na tarefa de garantir qualidade ao ensino já é bastante
conhecido por meio de inúmeras pesquisas e exames.
O que escapa a esses levantamentos é justamente a dimensão que Jardim capta em "Pro
Dia Nascer Feliz": como as relações sociais construídas ali
criam um ambiente que facilita
ou não a aprendizagem.
"O filme tenta jogar um pouco de luz nessa questão de como o jovem se comporta dentro
da escola não apenas em relação ao professor mas também
em relação aos colegas dele e a
esse momento intenso em que
ele vive, num mundo extremamente violento e com poucas
oportunidades", diz Jardim.
Para o diretor, o que predomina nos depoimentos dos alunos de todas as classes sociais é
o medo frente ao presente e a
falta de perspectiva no futuro.
"Essa questão influencia demais as relações na escola. O jovem reage a isso tudo e tenta
extravasar, ora se mostrando
violento, ora deprimido, mas
sempre numa crise de necessidade de afirmação. Tentei produzir imagens que pudessem
transmitir essa claustrofobia
do ambiente escolar."
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