São Paulo, sexta-feira, 02 de fevereiro de 2007

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Meninos do Brasil

Documentário "Pro Dia Nascer Feliz", de João Jardim, parte do problema da educação no país para lançar luz sobre as angústias da juventude hoje

ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

Apesar de ter como palco seis escolas, "Pro Dia Nascer Feliz", que entra hoje em cartaz nos cinemas, é mais do que um documentário sobre educação, fadado a agradar apenas professores ou pedagogos.
Ao optar por deixar os adolescentes discorrerem sobre seus medos, angústias e esperanças, o diretor João Jardim, de "Janela da Alma", fez principalmente um longa-metragem sobre juventude, ou, como ele define no cartaz de divulgação da obra, "um filme sobre meninos e meninas que vivem a pressão de saber quem são".
Justamente por não se restringir ao ambiente pedagógico, "Pro Dia Nascer Feliz" dá uma importante contribuição para entender por que o Brasil, após universalizar o ensino fundamental no final do século passado, não consegue fazer da escola um local de aprendizado.
O documentário começa exibindo uma campanha governamental de 1962 que destaca o fato de metade dos então 14 milhões de jovens em idade escolar não estudar. Uma manchete de jornal da época alardeava que "na cidade sem escolas, jovens escolhem o crime".
Hoje, escolas não faltam nas cidades, mas a escolha do crime segue preocupando. Além disso, se antes metade dos jovens não estudava, agora o problema é que metade não aprende.
O diagnóstico de que o país falha na tarefa de garantir qualidade ao ensino já é bastante conhecido por meio de inúmeras pesquisas e exames.
O que escapa a esses levantamentos é justamente a dimensão que Jardim capta em "Pro Dia Nascer Feliz": como as relações sociais construídas ali criam um ambiente que facilita ou não a aprendizagem.
"O filme tenta jogar um pouco de luz nessa questão de como o jovem se comporta dentro da escola não apenas em relação ao professor mas também em relação aos colegas dele e a esse momento intenso em que ele vive, num mundo extremamente violento e com poucas oportunidades", diz Jardim.
Para o diretor, o que predomina nos depoimentos dos alunos de todas as classes sociais é o medo frente ao presente e a falta de perspectiva no futuro.
"Essa questão influencia demais as relações na escola. O jovem reage a isso tudo e tenta extravasar, ora se mostrando violento, ora deprimido, mas sempre numa crise de necessidade de afirmação. Tentei produzir imagens que pudessem transmitir essa claustrofobia do ambiente escolar."


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