|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Música - Crítica/"Not Too Late"
Norah Jones alfineta Bush, mas sem perder a ternura
CARLOS CALADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A romântica "Thinking
about You", nas rádios
há algumas semanas,
pode enganar os mais apressados. Quase cinco anos depois de
se tornar um fenômeno mundial, com mais de 30 milhões de
álbuns vendidos, Norah Jones
já não é exatamente a mesma
cantora doce com seu mix suave de pop, country, folk, soul e
toques de jazz.
"Not Too Late", seu terceiro
álbum, mantém a essência da
fórmula, apoiando-se no estilo
de arranjos intimistas e acústicos que marcaram os discos anteriores. Mas quem prestar
atenção às letras vai perceber
que a garota tímida e frágil está
amadurecendo. Pela primeira
vez ela assina todas as canções,
nove delas com parceiros.
O álbum começa com "Wish I
Could" (parceria com o baixista
Lee Alexander), uma valsa triste que delineia um caso de
amor abortado pela guerra.
"Ele era meu homem, mas eles
não tomaram cuidado/ O mandaram para bem longe daqui",
lamenta Norah, vestindo as dores da amante de um soldado.
"Sinkin" Soon" (afundando
logo) é uma saborosa surpresa.
Parece uma canção de cabaré,
ao estilo de Kurt Weill, que Norah interpreta com a devida dose de sarcasmo, reforçada por
um burlesco trombone com
surdina. Impossível não se lembrar do furacão Katrina, que
inundou a cidade de New Orleans, dois anos atrás, ao ouvi-la cantar "Fomos arrastados da
margem/ Com um capitão que
é orgulhoso demais para dizer/
Que perdeu o remo".
Quem pensou no presidente
George Bush acertou. Algumas
faixas depois, Norah tira qualquer dúvida sobre o destinatário dos versos. Em "My Dear
Country" (meu querido país),
ela chama de "assustador" o dia
da última eleição americana. E
se refere ao reeleito como
"aquele que odiamos".
Antes que os fãs também se
assustem, pensando que ela
possa virar um misto de Tracy
Chapman e Sinéad O'Connor, é
preciso dizer que "Not Too Late" inclui canções românticas.
"Wake me up", "Rosie's Lullaby" e a faixa-título seguem a
linha dos discos anteriores, embora outras, como "Broken" e
"Sun Doesn't Like You", carreguem certa dose de amargura.
Já para quem se incomoda
com a atitude "boa moça", o
country "Little Room" revela
um viés sensual inédito. "Se
acontecesse um incêndio/ Na
certa nos queimaríamos/ Mas
tudo bem pra mim porque/ Estaríamos mais juntos ainda".
Um pouco mais de fogo também faria bem aos próximos
discos de Norah Jones.
NOT TOO LATE
Artista: Norah Jones
Lançamento: EMI
Quanto: R$ 39, em média
Texto Anterior: Crítica: "Olga" mira no grande público das telenovelas Próximo Texto: CDs Índice
|