São Paulo, sexta-feira, 02 de fevereiro de 2007

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Música - Crítica/"Not Too Late"

Norah Jones alfineta Bush, mas sem perder a ternura

CARLOS CALADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A romântica "Thinking about You", nas rádios há algumas semanas, pode enganar os mais apressados. Quase cinco anos depois de se tornar um fenômeno mundial, com mais de 30 milhões de álbuns vendidos, Norah Jones já não é exatamente a mesma cantora doce com seu mix suave de pop, country, folk, soul e toques de jazz.
"Not Too Late", seu terceiro álbum, mantém a essência da fórmula, apoiando-se no estilo de arranjos intimistas e acústicos que marcaram os discos anteriores. Mas quem prestar atenção às letras vai perceber que a garota tímida e frágil está amadurecendo. Pela primeira vez ela assina todas as canções, nove delas com parceiros.
O álbum começa com "Wish I Could" (parceria com o baixista Lee Alexander), uma valsa triste que delineia um caso de amor abortado pela guerra.
"Ele era meu homem, mas eles não tomaram cuidado/ O mandaram para bem longe daqui", lamenta Norah, vestindo as dores da amante de um soldado. "Sinkin" Soon" (afundando logo) é uma saborosa surpresa.
Parece uma canção de cabaré, ao estilo de Kurt Weill, que Norah interpreta com a devida dose de sarcasmo, reforçada por um burlesco trombone com surdina. Impossível não se lembrar do furacão Katrina, que inundou a cidade de New Orleans, dois anos atrás, ao ouvi-la cantar "Fomos arrastados da margem/ Com um capitão que é orgulhoso demais para dizer/ Que perdeu o remo".
Quem pensou no presidente George Bush acertou. Algumas faixas depois, Norah tira qualquer dúvida sobre o destinatário dos versos. Em "My Dear Country" (meu querido país), ela chama de "assustador" o dia da última eleição americana. E se refere ao reeleito como "aquele que odiamos".
Antes que os fãs também se assustem, pensando que ela possa virar um misto de Tracy Chapman e Sinéad O'Connor, é preciso dizer que "Not Too Late" inclui canções românticas. "Wake me up", "Rosie's Lullaby" e a faixa-título seguem a linha dos discos anteriores, embora outras, como "Broken" e "Sun Doesn't Like You", carreguem certa dose de amargura.
Já para quem se incomoda com a atitude "boa moça", o country "Little Room" revela um viés sensual inédito. "Se acontecesse um incêndio/ Na certa nos queimaríamos/ Mas tudo bem pra mim porque/ Estaríamos mais juntos ainda". Um pouco mais de fogo também faria bem aos próximos discos de Norah Jones.


NOT TOO LATE    
Artista: Norah Jones
Lançamento: EMI
Quanto: R$ 39, em média


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