São Paulo, terça-feira, 02 de fevereiro de 2010

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ANÁLISE

Quadrinistas com voz própria são poucos

ANDRÉ FORASTIERI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O Brasil tem duas turmas de quadrinistas. Uma faz sucesso mundial. Só trabalha para editoras americanas, ilustrando roteiros com super-heróis e similares. Produz muito, ganha bem, em dólar. São uns 40. O mais famoso é Ivan Reis, exclusivo da DC Comics.
A segunda turma é mais heterogênea, mais autoral e paradoxalmente mais comercial. Porque a maioria desses artistas toca paralelamente trabalhos pessoais e "jobs" que paguem as contas. Fazem "storyboard" para agência de publicidade, animação para web, design de camiseta, ilustração de revista, capa de livro, "toy art".
Suas HQs frequentemente são de história ou literatura brasileira, encomendas de editoras que vendem bem para governos e escolas. Publicam em revistas independentes como "Front", "Grafitti" e "Peiote".
Livro, só via editoras especializadas. Além de Rafa Coutinho, estão nesse time Rodrigo Rosa, André Caliman, Fábio Kitagawa, Gil Tokio, Fábio Cobiaco, Jozz, Fábio Lyra, Guazzelli, Lelis e outros. Boa parte se reúne no coletivo Quarto Mundo (www.4mundo.com). As turmas se organizaram assim porque não há indústria nacional de HQ.
Editoras não lançam, livrarias não expõem, leitores não compram. Pouco importa identificar onde se rompe este ciclo. O que a novíssima geração de leitores de quadrinhos, aqui e no mundo inteiro, consome é on-line. Só compram um produto impresso se for muito especial. O que se restringe a marcas fortes, impacto visual fulminante ou buchicho irresistível.
Esse estado de coisas fez com que tenhamos muitos ilustradores talentosos e poucos com voz própria. Artistas que trabalham com muitos meios geralmente não são ótimos em nenhum. Não é fácil contar uma história com imagens. Gibi se aprende fazendo. Leva vantagem quem mais produz e reflete. Mas primeiro há que ter uma boa história para contar.
As duas turmas se confundem agora. Rafael Grampá, aclamado pelo arrasador "Mesmo Delivery", está desenhando uma história de Wolverine. Mais comercial, impossível. Mas Fábio Bá e Gabriel Moon estão um passo à frente. "Daytrippers", série autoral em que assinam roteiro e arte, é publicada nos EUA pelo selo Vertigo. O sucesso abrirá portas para muitos brasileiros.


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