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ANÁLISE
Quadrinistas com voz própria são poucos
ANDRÉ FORASTIERI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O Brasil tem duas turmas de
quadrinistas. Uma faz sucesso
mundial. Só trabalha para editoras americanas, ilustrando
roteiros com super-heróis e similares. Produz muito, ganha
bem, em dólar. São uns 40. O
mais famoso é Ivan Reis, exclusivo da DC Comics.
A segunda turma é mais heterogênea, mais autoral e paradoxalmente mais comercial.
Porque a maioria desses artistas toca paralelamente trabalhos pessoais e "jobs" que paguem as contas. Fazem "storyboard" para agência de publicidade, animação para web, design de camiseta, ilustração de
revista, capa de livro, "toy art".
Suas HQs frequentemente
são de história ou literatura
brasileira, encomendas de editoras que vendem bem para governos e escolas. Publicam em
revistas independentes como
"Front", "Grafitti" e "Peiote".
Livro, só via editoras especializadas. Além de Rafa Coutinho, estão nesse time Rodrigo
Rosa, André Caliman, Fábio
Kitagawa, Gil Tokio, Fábio Cobiaco, Jozz, Fábio Lyra, Guazzelli, Lelis e outros. Boa parte
se reúne no coletivo Quarto
Mundo (www.4mundo.com).
As turmas se organizaram assim porque não há indústria
nacional de HQ.
Editoras não lançam, livrarias não expõem, leitores não
compram. Pouco importa
identificar onde se rompe este
ciclo. O que a novíssima geração de leitores de quadrinhos,
aqui e no mundo inteiro, consome é on-line. Só compram
um produto impresso se for
muito especial. O que se restringe a marcas fortes, impacto
visual fulminante ou buchicho
irresistível.
Esse estado de coisas fez com
que tenhamos muitos ilustradores talentosos e poucos com
voz própria. Artistas que trabalham com muitos meios geralmente não são ótimos em nenhum. Não é fácil contar uma
história com imagens. Gibi se
aprende fazendo. Leva vantagem quem mais produz e reflete. Mas primeiro há que ter
uma boa história para contar.
As duas turmas se confundem agora. Rafael Grampá,
aclamado pelo arrasador "Mesmo Delivery", está desenhando
uma história de Wolverine.
Mais comercial, impossível.
Mas Fábio Bá e Gabriel Moon
estão um passo à frente. "Daytrippers", série autoral em que
assinam roteiro e arte, é publicada nos EUA pelo selo Vertigo. O sucesso abrirá portas para muitos brasileiros.
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