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Escritor argentino Eloy Martínez morre aos 75
Autor de "Santa Evita" e "O Romance de Perón" sofria de câncer no cérebro
Martínez, que também foi jornalista e professor nos EUA, expressou desejo de ser cremado, o que deve acontecer em Buenos Aires
SILVANA ARANTES
DE BUENOS AIRES
O jornalista e escritor argentino Tomás Eloy Martínez
morreu na noite do último domingo, aos 75 anos, em Buenos
Aires. Eloy Martínez sofria de
câncer, e nos últimos meses
conviveu com o agravamento
do tumor instalado no cérebro,
mas não deixou de trabalhar.
Seu maior sucesso literário é
"Santa Evita", editado em mais
de 30 países. No Brasil, saiu pela Companhia das Letras, com
tradução de Sergio Molina (R$
59,90; 144 págs.).
No livro, Martínez tece a história do corpo embalsamado de
Eva Duarte Perón (1919-1952)
nos anos em que seu paradeiro
era desconhecido -a partir de
1955, após a queda do governo
de Perón, quando os autores da
autodenominada "Revolução
Libertadora" confiscaram o
corpo da mulher do presidente
deposto, até 1971.
Eloy Martínez enxertou na
narrativa de "Santa Evita" uma
parte das longas entrevistas
que realizou com Perón nos
anos 1960 e que eram um de
seus orgulhos.
É famosa entre jornalistas
-que o consideram um mestre- a história de seu début literário, aos 10 anos de idade,
com um conto sobre um garoto
que se esconde num selo postal
para poder viajar pelo mundo.
A ficção foi produto de um castigo dos pais, que o trancaram
num quarto e o proibiram de
ler, depois que ele saiu sem avisar de um espetáculo de circo.
No início da carreira jornalística, Eloy Martínez foi crítico
de cinema do diário "La Nación", do qual atualmente era
colunista -suas colunas eram
publicadas também pelo "New
York Times" e pelo espanhol
"El País". É autor de dez roteiros para cinema -três deles em
parceria com o paraguaio Augusto Roa Bastos.
Numa obra marcadamente
política, destaca-se "A Paixão
Segundo Trelew" (1974), um
relato do massacre de 16 guerrilheiros, repudiado e censurado
pela ditadura.
Com "O Voo da Rainha" (Objetiva, R$ 39,90), recebeu o
Prêmio Alfaguara, uma das
principais distinções a autores
de língua espanhola. Entre as
obras mais recentes estão "O
Cantor de Tango" (Companhia
das Letras, R$ 44,50) e "Purgatório" (Companhia das Letras,
R$ 42), em que revisita o período da ditadura militar (1976-1983) com o reencontro de um
casal 30 anos depois do golpe.
Durante o período em que ele
se exilou da ditadura em Caracas, escreveu "Lugar Comun la
Muerte". Viveu também nos
Estados Unidos, onde lecionou
na Universidade Rutgers, em
Nova Jersey, e dirigiu o programa de estudos latino-americanos da universidade.
Como jornalista, fundou diários, foi correspondente internacional, dirigiu e colaborou
com diversas publicações. É cofundador da Fundação para o
Novo Jornalismo, iniciativa de
Gabriel García Márquez. No
ano passado, recebeu o Prêmio
Ortega y Gasset, em reconhecimento à carreira jornalística.
Nascido em Tucumán, onde
se formou em literatura, o escritor teve sete filhos, de três
diferentes casamentos. Eloy
Martínez expressou o desejo de
que suas cinzas ficassem depositadas no cemitério de Buenos
Aires, onde seu corpo era velado ontem e seria cremado.
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