São Paulo, segunda, 2 de fevereiro de 1998

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O PÚBLICO
Do gramado, show foi programa de auditório

PATRICIA DECIA
da Reportagem Local

Quando o globo espelhado surgiu do meio do gelo seco e se abriu no Morumbi, sexta-feira à noite, a jogadora de vôlei Ana Paula -que estava grudada ao palco B- não aguentou: "Lindoooo!!! Maravilhosooo!!!"
Momentos de quase histeria como esse foram repetidos incontáveis vezes por todo o estádio durante as duas apresentações do U2 em São Paulo. Por trás deles, fãs que se comportavam como se estivessem num programa de auditório -cujo ápice era a corrida de uma delas para os braços do ídolo.
A maioria dessas garotas, porém, não faz o tipo de quem frequenta as gravações do "Domingão do Faustão" ou do programa de Gugu Liberato.
Na verdade, o público paulistano do U2 era formado por jovens adultos -de quase 20 a menos de 30- que podem ser chamados de bem-nascidos para os padrões brasileiros. Afinal de contas, não é exatamente fácil pagar R$ 50 por um ingresso.
Até a polícia reparou, e o comandante das operações no local afirmou que, devido ao "público seletivo" que compareceu ao evento, havia poucas ocorrências.
A falta de bebida alcoólica no gramado pareceu provocar poucas reclamações, e muita gente bradava contra o cheiro dos cigarros de maconha. "Se esses caras querem fumar, porque não fazem isso em casa! É insuportável", dizia um rapaz ao amigo enquanto acendia seu charuto.
Um pouco mais discretos, os homens da platéia se contentavam em cantar todas as letras, soltar comentários do tipo "é demais" e levantar nos ombros suas namoradas e acompanhantes.
Alguns deles, no entanto, ficaram indignados em um momento. Parecia estar tudo perfeito, no lugar, até que Bono beijou o guitarrista The Edge na boca. Aí o corinho gritando "bicha" e "veado" foi inevitável. Talvez na arquibancada tenha sido diferente.



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