São Paulo, segunda, 2 de fevereiro de 1998

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Filho do mestre do claro-escuro fala sobre a carreira do diretor
Gabriel Figueroa Jr. preserva obra do pai, morto em abril

ADRIANE GRAU
de San Francisco

Mestre do claro-escuro, o diretor de fotografia Gabriel Figueroa excedeu sua técnica ao captar com dramaticidade única a paisagem do México.
Suas imagens enriquecem obras-primas como "The Night of the Iguana", de John Huston, "The Fugitive", de John Ford e "Nazarin", de Luiz Bunuel.
Ao morrer, em 27 de abril, ele acumulava 20 prêmios internacionais nos mais importantes festivais de cinema. Em outubro foi criado o primeiro prêmio que leva seu nome.
O Gabi foi entregue durante o 1º Festival Internacional de Cinema Latino de Los Angeles. Quem subiu ao palco para receber o tributo foi seu filho Gabriel Figueroa Jr., 45. Ele é um fotógrafo envolvido durante os últimos dez anos na preservação do trabalho do pai. Como único filho homem, ele era autorizado a acompanhar as filmagens.

Folha - Há planos de unir sob alguma fundação o trabalho de Gabriel Figueroa?
Gabriel Figueroa Jr. -
Os originais pertencem aos estúdios mexicanos e estão sendo vendidos a colecionadores particulares fora do país.
Tentei impedir as vendas, mas a lei não ajuda. Os produtores não têm dinheiro para manter os negativos de nitrato de prata que se destroem rapidamente.
Folha - Como ele reagia à falta de divulgação de seus filmes?
Figueroa Jr. -
Ele era muito apaixonado por seu trabalho e ficava enlouquecido quando assistia a uma cópia que não fazia justiça a seus originais.
Mantinha uma pequena coleção de dez cópias em 16 mm que assistia de vez em quando.
Folha - Como é o trabalho de restauração que você está executando?
Figueroa Jr. -
Recebi uma bolsa de estudo do governo mexicano de US$ 25 mil para restaurar fotogramas de seus filmes. Quando ele estava filmando, ia ao laboratório diariamente para checar os testes de luz que eram tiras de filme transformadas em cópias positivas.
Temos um arquivo de 9.000 tiras de contato. O dinheiro só é suficiente para restaurar cem imagens e preservar outras mil.
Eu estou guardando algumas em imagens digitais. Antes de morrer ele selecionou pessoalmente suas imagens favoritas.
Folha - Qual sua memória preferida de quando acompanhava seu pai nas filmagens?
Figueroa Jr. -
"Macario", de 1966, tem tudo. História, edição, atuação, direção. A história é fantástica. A cena onde Macario encontra a morte numa caverna.
Na grota estão as almas de todas as pessoas vivas, representadas por velas. Então você entrava e tinha esta visão de milhares de velas acesas. Não haviam computadores nem efeitos especiais.



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