São Paulo, segunda, 2 de fevereiro de 1998

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Jean-Marc Barr foge do cinema comercial no polêmico 'Os Infiéis'

especial para a Folha, da Suíça

Depois garantir o sucesso de "Imensidão Azul" e a carreira de Luc Besson, Jean-Marc Barr tem evitado o cinema comercial.
Seu filme feito no Egito, "Os Infiéis", envolvendo os perigosos integristas muçulmanos, foi dirigido por uma libanesa.
Grande, corpo atlético, olhar penetrante e misterioso, Jean-Marc Barr conquistou toda uma geração, em "Imensidão Azul".
Enquanto Jean Reno, personagem cativante do mesmo filme, usou o sucesso de "Imensidão Azul" para novos papéis, mesmo comerciais, Jean-Marc Barr preferiu guardar distância do sucesso e escolher novos filmes, sem se deixar atrair pelas tentações econômicas do cinema.
O novo papel de Jean-Marc Barr é outro desafio -ele vive o personagem de um extremista muçulmano integrista, que acaba tendo uma relação homossexual com o diplomata francês, enviado especial do Quai d'Orsay.
Diante do roteiro que mostrava um de seus diplomatas numa relação homossexual com um árabe integrista, a França teve uma reação inesperada -cortou todas as subvenções para o filme "Os Infiéis", rodado pela libanesa Randa Chahal Sabbag, no Egito.
Provocadora, Randa escolheu dois temas explosivos, no Egito de hoje, onde ainda é recente o massacre de turistas em Luxor.
"Eu quis falar do integrismo muçulmano e de homossexualidade, que é praticada no mundo árabe, mas nunca comentada. Para fazer o filme, precisei usar um roteiro falso. O embaixador da França ficou tão chocado quanto os muçulmanos que me fizeram ameaças de morte -me acusou de desfigurar a imagem da França no exterior."
E, como se não bastasse, incluiu no filme alguns segundos de verdadeiras imagens, nas quais dois chefes integristas foram filmados fazendo amor, numa cela.

Folha - Como foi sua contratação para esse novo papel?
Jean-Marc Barr -
Foi a grande oportunidade desse filme, a liberdade de ir ao Egito e de se colocar num clima de amor entre inimigos, numa discussão não só política, mas também humana.
Folha - Ao mesmo tempo, foi corajoso de sua parte, depois de "Imensidão Azul". Não teve receio para sua imagem desse personagem homossexual?
Barr -
Estou pouco ligando para minha imagem. Sou um pedaço de lixo europeu, passei a maior parte da minha vida nos EUA, agora estou na Europa.
Toda essa mediatização de astros que surgem e desaparecem a cada quatro semanas pouco me interessa. Estou mais ligado no que se passa no Leste Europeu, cujos atores não podem ser julgados pelo quanto ganham ou pelas capas de revistas, mas pelo que fazem.
Folha - Não foi brincar com fogo fazer esse filme?
Barr -
O filme foi feito numa área de tabus e proibições. A diretora ousou filmar coisas que nenhum diretor ainda tinha ousado no cinema, como a cena em que um diplomata francês chupa os dedos do integrista.
Mas eu não quis fazer provocação, nem estou a fim de que haja pena de morte contra mim. Por isso, recusei apresentar o filme em Beirute.



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