São Paulo, segunda, 2 de fevereiro de 1998

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TEATRO
Construção em Valenciennes, orçada em US$ 20 milhões, pretende ser 'pólo cultural'
Baiana assina projeto de teatro francês

de Paris

A região norte da França escolheu por unanimidade uma arquiteta brasileira para construir um projeto ambicioso de teatro.
O projeto da baiana Lucinei Caroso Neiva, 37, em sociedade com seu marido, o francês Emmanuel Blamont, 41, foi aprovado pelos 18 jurados de concurso realizado em Valenciennes.
O teatro, batizado de Phenix, foi inaugurado na semana passada, com a apresentação da comédia "As Preciosas Ridículas", de Molière.
Pólo cultural
Ninguém diria que a cidade, Valenciennes, que tem 41 mil habitantes, poderia acolher um projeto tão ambicioso, não fosse o passado cultural do local.
"É uma cidade da Idade Média, com uma forte tradição de teatro desde o século 16", explica Neiva. O certo é que, no século 18, o teatro de Valenciennes estava entre os quatro mais importantes de toda a França.
Em maio de 1940, em plena Segunda Guerra Mundial, uma bomba lançada pelos alemães destruiu o teatro e parte da cidade.
O nome Phenix, para um local reconstruído após um incêndio, não poderia ser mais apropriado. Tal como seu colega Fenice, em Veneza, que pegou fogo há alguns anos, o Phenix faz alusão ao pássaro que, segundo a mitologia egípcia, renasce das cinzas.
A duas horas de trem de Paris, Valenciennes tem ligação direta com a capital e com outras cidade internacionais, por ser situada quase na fronteira com a Bélgica.
"Queremos descentralizar o circuito cultural da França e criar um novo pólo", disse o prefeito da cidade, Jean-Louis Borloo.
Ao todo, o projeto custou US$ 20 milhões. Para justificar sua ambição de se tornar um centro cultural da Europa, o teatro recebeu 33% de seu financiamento da Comunidade Européia.
São quase 8.580 metros quadrados de área, com uma altura de 32 metros. O complexo cultural tem, além da sala principal de teatro, com 800 lugares, um estúdio, que comporta 200 lugares e está localizado de frente para o anfiteatro.
No subsolo, há um espaço para exposições e, no primeiro andar, uma sala para aulas e conferências.
Vermelho e preto
O teatro tem ares de navio, com suas formas arredondadas, algumas janelas redondas e escadas estilizadas.
Por dentro, é todo vermelho e, no chão, preto. Para a arquiteta, o projeto deveria simbolizar o renascimento econômico, social e cultural da região: "Além de representar as cinzas do antigo teatro, o solo negro representa o carvão, principal produto da cidade", explica Neiva. O vermelho é tradicionalmente a cor do teatro à italiana.
Padrinho famoso
Neiva desembarcou na França em 86, com a intenção de estudar design. Seu primeiro emprego na capital francesa foi no escritório do designer Phillip Starck.
"Dei-me conta muito rapidamente que, se eu quisesse morar na França, tinha de aprender francês", brinca Neiva, para justificar sua entrada no escritório de Jean Nouvel.
Blamont começou a trabalhar com o famoso arquiteto francês Jean Nouvel em 78, tornando-se sócio em 85.
Nouvel é responsável pelos projetos dos arrojados edifícios do Instituto do Mundo Árabe e da Fundação Cartier, entre outros.
Junto com Nouvel, Emmanuel Blamont ganhou o "esquadro de prata" de 93, prêmio anual dado ao melhor edifício construído, graças à concepção do Ópera de Lyon. (MC)


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