São Paulo, terça, 2 de fevereiro de 1999

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CINEMA
Com a missão de alavancar indústria nacional, José Álvaro Moisés assume hoje a Secretaria do Audiovisual
Novo secretário quer aumento da produção

Niels Andreas/Folha Imagem
José Álvaro Moisés, que assume hoje a Secretaria do Audiovisual


CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
da Sucursal de Brasília

O cientista político José Álvaro Moisés assume hoje a Secretaria para o Desenvolvimento do Audiovisual do Ministério da Cultura a fim de dar condições para a indústria cinematográfica nacional conquistar parcelas significativas dos mercados interno e externo.
A conjuntura o favorece. Apesar da crise econômica e graças a "Central do Brasil", o cinema brasileiro está na ordem do dia, valorizado pelos 28 prêmios internacionais que o filme de Walter Salles já ganhou. Se o Oscar também vier, não deverão faltar interessados em investir em cinema.
Mas suas circunstâncias podem atrapalhá-lo. Paulista e sem experiência anterior com o cinema, exceto na condição de apreciador, Moisés já está sendo alvo de ataques visivelmente oriundos de grupos cariocas que controlam a indústria nacional e temem a ação de um "estranho no ninho".
Em entrevista exclusiva à Folha na última sexta-feira, Moisés, que nos últimos quatro anos foi secretário de Apoio à Cultura do Ministério da Cultura, se disse satisfeito com os seus primeiros contatos com representantes da indústria cinematográfica.
Sua meta mais imediata é fazer com que, até 2003, 20% dos filmes exibidos no país sejam produções brasileiras. Nos últimos quatro anos, a média tem sido de 5%.
A estimativa é de que, entre 1995 e 1998, 9 milhões de pessoas tenham assistido a filmes nacionais nos cinemas do Brasil (do total de 80 milhões de ingressos vendidos).
A expectativa de Moisés é que, com o crescimento do número de filmes brasileiros, salas e bilhetes vendidos, 30 milhões de pessoas assistirão a produtos de cinema nacionais daqui a quatro anos.
Para conseguir esse objetivo, ele diz ter duas preocupações. Uma, de caráter imediato, é retomar os investimentos na área, que tiveram queda de 30% em 1998, em relação a 1997.
Moisés vê cinco motivos para a redução registrada no ano passado: três externos ao setor e dois dele próprio. A Copa do Mundo, as eleições e as crises financeiras internacionais de outubro de 1997 e agosto de 1998 foram os motivos externos.
Uma certa saturação do mercado e a demora para a finalização de muitos projetos em andamento foram, na sua opinião, os motivos da própria indústria cinematográfica para o declínio de investimentos registrado em 1998.
² Investidores
Para alavancar o interesse dos investidores pelo cinema, Moisés pretende usar dois instrumentos. O primeiro é uma nova carteira a ser criada no Banco do Brasil e BNDES para produção e exibição de filmes brasileiros.
A preocupação prioritária é a exibição, que não tem acompanhado o crescimento recente do fluxo produtivo.
Nessa linha de crédito, os bancos vão emprestar em condições usuais, mas o Ministério da Cultura vai subsidiar todos os juros.
O segundo instrumento é um "ciclo de conversas" que Moisés pretende ter com dirigentes de empresas estatais, de empresas recentemente privatizadas e com a Federação Brasileira de Bancos para discutir a retomada de investimentos no setor de cinema e na cultura em geral em novos termos.
"A cultura, além de seu valor intrínseco, que eu não pretendo minimizar, tem uma dimensão econômica que ainda não parece suficientemente compreendida", diz.
Segundo pesquisa da Fundação João Pinheiro, cada US$ 1 milhão investidos em cultura geram 160 empregos diretos. Moisés diz que pretende mostrar essa dimensão econômica a empresários para obter mais apoio deles ao cinema.
Na área do mercado externo, Moisés afirma que a cultura brasileira tem uma vantagem comparativa em relação às de outros países que pode torná-la atrativa.
"O Brasil é um país de exclusão social, mas de inclusão cultural. Aqui, o multiculturalismo integra o país, ao contrário dos EUA. A cultura brasileira tem um elemento de solidariedade, que atrai num mundo de divisões", argumenta.
Moisés acha que pode se valer desses aspectos culturais num mercado que considera inexplorado. Pretende juntar os esforços de seu ministério aos do das Relações Exteriores e dos produtores a fim de aumentar o número de mostras de cinema brasileiro no mundo.
Junto com as mostras, ele quer realizar espécies de feiras comerciais para a concretização imediata de negócios de distribuição e exibição de filmes brasileiros no exterior. "No quinto centenário de seu descobrimento, o Brasil vai descobrir o mundo para seu cinema."



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