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Memória fotográfica
Com 500 imagens, retrospectiva aborda crescimento da cidade de São Paulo a partir do século 19
EDER CHIODETTO
EDITOR DE FOTOGRAFIA
Um misto de nostalgia anacrônica com o sentimento de
que algo deu errado a partir de
um determinado ponto, é a sensação que dá ao percorrer a mostra
"São Paulo, 450 Anos: A Imagem
e a Memória da Cidade no Acervo
do Instituto Moreira Salles", em
exibição na galeria do Sesi, no
prédio da Fiesp, em São Paulo.
Trata-se de uma ampla retrospectiva do desenvolvimento da cidade a partir de 1826, quando a
então vila de São Paulo era um lugarejo ocupado por 20 mil pessoas. Esses 178 anos condensados
em cerca de 500 imagens, dispostos em ordem cronológica, perpassam surtos econômicos, revoluções, levas de migrantes e a expansão da malha urbana a partir
de um pequeno núcleo em torno
do Pátio do Colégio.
O grande destaque da parte inicial da mostra é o fotógrafo carioca Militão Augusto de Azevedo
(1837-1905). Nascido dois anos
antes da invenção oficial da fotografia, aos 20 anos se tornou um
dos primeiros fotógrafos profissionais brasileiros preocupados
com registros urbanos.
A partir dos seus originais em
papel albuminado foi possível
montar duas panorâmicas da cidade, em 360 graus, realizadas em
1862. Militão voltaria a fotografar
sistematicamente a cidade em
1887 para realizar seu "Álbum
Comparativo da Cidade de São
Paulo", em que fica visível a transformação impulsionada pelo
avanço econômico.
Antes das imagens feitas por
Militão só existiam os desenhos
feitos em 1826 pelas missões européias que chegavam por essas paragens para reconhecer a independência do Brasil, como os belos desenhos da série "Povo de
São Paulo", do inglês Charles
Landseer (1799-1879), que mostram os traços e as indumentárias
dos paulistanos na época.
Ao avançar na linha do tempo,
sabiamente proposta pela curadoria, o visitante se entrega aos
poucos a uma espécie de jogo especular no qual o passado longínquo emerge como uma espécie de
contraprova do paraíso perdido,
como imagens de uma tourada
em plena praça da República, em
1902, de Edgard Egydio de Souza
ou uma regata no belo e tranqüilo
rio Tietê, em 1905, feita por Guilherme Gaensly.
O segmento que mostra a cidade após a década de 30 levanta
discussões acaloradas entre os visitantes idosos que, contrariando
a fleuma paulistana, conversam
entre eles e com quem tiver opiniões a dar sobre a localização
exata de prédios e ruas.
A evolução da linguagem fotográfica através dos tempos é notória também. Do documento até
uma leitura particular e subjetiva
como nas imagens da série "Noturnos", de Cássio Vasconcellos,
nas quais o autor praticamente
abandona a idéia de documentação e busca sua própria cidade
dentro da balbúrdia que se transformou a metrópole do século 21.
São o que atestam as imagens
aéreas de Gal Oppido ao fechar a
mostra num retorno ao ponto onde se encontram as aquarelas das
primeiras expedições de 1826.
São Paulo, 450 Anos
Onde: Centro Cultural Fiesp - galeria de
arte do Sesi (av. Paulista, 1.313, tel. 0/xx/
11/3146-7406)
Quando: de ter. a sáb., das 10h às 20h; e
dom., das 10h às 19h, até 27/6
Quanto: entrada franca
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