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COMIDA
Talento renovado
Jovens chefs de cozinha herdam restaurantes prestigiados de São Paulo
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RACHEL BOTELHO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Tradicionais, os restaurantes
existem há décadas, são devidamente aclamados pela crítica e recebem em suas mesas gerações de
comensais. À frente das panelas,
em vez de chefs com larga experiência e ares de mestres do ofício,
estão jovens herdeiros com até 25
anos que cresceram praticamente
dentro da cozinha e injetam novo
fôlego ao negócio da família.
Quando a maioria dos jovens de
classes média e alta ainda se dedica exclusivamente aos estudos,
eles administram equipes com
dezenas de cozinheiros e ajudantes -alguns com mais tempo de
experiência do que eles têm de
idade-, criam novas receitas, introduzem técnicas e evitam que a
cozinha caia na mesmice.
Aos 21 anos, Raphael Durand
Despirite é o caçula dessa turma.
Da terceira geração de proprietários do Marcel, restaurante cinqüentenário famoso por seus suflês, ele freqüenta os bastidores da
casa desde os 14 anos e com 19 já
era o responsável pela cozinha
(leia no quadro abaixo uma receita elaborada pelo chef).
Incentivado pelo avô Jean e pelos cozinheiros, que o viam como
um "mascote", viajou para Paris a
fim de estudar na Escola de Escoffier do Hotel Ritz. A paixão pelo
ofício foi descoberta nessa temporada. "Cozinha é algo que se ama
ou odeia; eu gostei mesmo", conta, seguro de sua escolha.
Na volta, naturalmente, foi direto para o Marcel. "Comecei mudando um prato aqui, outro ali,
algumas técnicas que estavam ultrapassadas."
Uma alteração importante, ressalta, foi a substituição da manteiga e do creme de leite pelo azeite.
"A saída dos pratos também mudou muito. Os suflês dominavam
80% dos pedidos, em média, e
agora são apenas 40%."
Chef há dois anos, Despirite está
adaptado ao posto, mas lembra
que, no início, precisou ser muito
paciente para convencer alguns
funcionários de sua capacidade.
"Sempre fica aquela dúvida: será
que ele sabe mesmo? Afinal, alguns tinham quase 19 anos de experiência, e eu, 19 anos de idade.
Mas a reação positiva dos clientes
fez com que eu ganhasse o pessoal", afirma.
Herdeira no fogão
Outro endereço tradicional da
cidade, aberto em 1987 e consagrado por suas receitas à base de
peixes e frutos do mar, o Amadeus também tem uma jovem
herdeira à frente da cozinha.
Depois de se graduar em hotelaria, Bella Masano, 24, cursou o
prestigiado Cordon Bleu na Europa e voltou pronta a colaborar
com o restaurante dos pais, Ana e
Tadeu.
"Mas logo o nosso chef se aposentou e acabou sobrando para
mim", brinca. O que ela acha da
experiência? "Não deixa de ser
um pouco assustador assumir
tanta responsabilidade tão cedo,
mas, por outro lado, é um grande
desafio."
Segundo ela, sua intenção nunca foi romper com o trabalho que
vinha sendo desenvolvido até então, mas implementar algumas
melhorias. "Os clientes perceberam um maior cuidado com a
apresentação dos pratos e a introdução de pequenos mimos, como
um couvert mais incrementado e
os sorbets que servimos entre os
pratos", afirma Masano, criadora
de uma receita que leva bacalhau
e grão-de-bico.
Talento reconhecido
Com 25 anos, a chef Morena
Leite teve uma história parecida,
mas já é praticamente veterana
perante seus colegas. Desde 1999 à
frente da cozinha do Capim Santo, restaurante aberto por seus
pais em Trancoso, na Bahia, no
ano passado teve seu trabalho reconhecido ao ministrar uma aula
de cozinha brasileira no Cordon
Bleu, onde se formou.
O restaurante teve início na casa
da família, quando Morena ainda
era bebê. Apesar de ter passado a
infância nesse meio, foi somente
aos 15 anos, durante uma viagem
de estudos para a Inglaterra, que
decidiu seguir a carreira.
"Vi que poderia me comunicar
com as pessoas através da gastronomia", diz. Na volta, também foi
direto para a cozinha.
Em 2004, quando o Capim Santo se transferiu para o atual endereço, nos Jardins, em SP, Morena
tornou-se sócia-proprietária da
casa. Hoje, comanda uma equipe
de 70 pessoas, 30 delas na cozinha, mais um bufê para festas.
"Estou feliz com o que eu sou",
diz. "Não faço exatamente como
me ensinaram, porque na França
é tudo padronizado, bem medido,
e eu gosto mesmo é de pôr a mão
na comida."
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