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Zoë Heller desaprova Barbara "maligna"
EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL
A jornalista e escritora inglesa Zoë Heller já havia deixado
claro que preferia que o roteirista Patrick Marber e o diretor
Richard Eyre fizessem um "artefato completamente novo e
interessante", em vez de tentar
uma adaptação "dita fiel" do
seu romance, "Anotações Sobre um Escândalo", lançado
originalmente em 2003 na Inglaterra e que foi finalista do
Booker Prize, mais importante
prêmio literário britânico, no
ano seguinte.
"O que quer que eles façam,
meu livro continuará a existir
como meu livro. Não tenho um
sentimento de propriedade sobre o filme", disse a autora à
Folha, quando seu livro foi publicado no Brasil, no ano passado. "Patrick Marber tem sido
extremamente solícito e encantador ao longo de todo o
processo. Nós nos encontramos várias vezes e tivemos conversas muito agradáveis e interessantes sobre o que ele estava
fazendo."
Heller, no entanto, que chama a atenção para o fato de pertencer a uma "família de roteiristas", e que não teria estabelecido condições à adaptação, diz
agora que tem sido um tanto difícil para ela se "conformar"
com a versão de Marber e Eyre
para Barbara, personagem vivida no filme por Judi Dench.
"Ela é infinitamente mais
maligna e predatória do que a
minha Barbara", reclama a escritora, que já se sentia "decepcionada" quando encontrava
leitores que não tinham qualquer "simpatia" ou solidariedade com a personagem, cujas atitudes ambíguas provocam a reviravolta na trama.
"Num certo ponto, tem-se
uma sensação desconfortável
de como a verdade está sendo
filtrada pela perspectiva excêntrica de Barbara", ressalta Heller, defendendo as várias facetas da personagem. "Pessoalmente tenho muito carinho por
ela. Barbara é uma mulher muito solitária, amarga, rude e bem
maluca. Mas que também deveria soar engraçada."
Boas passagens
Nem tudo parece errado, porém, na adaptação que ora chega às telas. Heller acredita que,
no fim das contas, a Barbara
criada por Marber "realmente
funciona". E que os desempenhos de Dench e Cate Blanchett são "enormemente talentosos".
"Eu não diria que elas são
completamente fiéis aos personagens que escrevi. Mas são interpretações inteligentes e interessantes. Então estou perfeitamente contente."
Ressalvas feitas, Heller faz
também alguns elogios a acréscimos que Marber fez à sua história. A escritora conta que gosta muito de algumas cenas inventadas pelo roteirista:
"Como a briga entre Sheba e
o marido depois que ele descobre sua infidelidade, por exemplo. E também a passagem em
quem Stephen aparece na casa
de Barbara no dia de Natal. São
cenas que enriquecem a dramaticidade da trama original."
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