São Paulo, sexta-feira, 02 de março de 2007

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Zoë Heller desaprova Barbara "maligna"

EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL

A jornalista e escritora inglesa Zoë Heller já havia deixado claro que preferia que o roteirista Patrick Marber e o diretor Richard Eyre fizessem um "artefato completamente novo e interessante", em vez de tentar uma adaptação "dita fiel" do seu romance, "Anotações Sobre um Escândalo", lançado originalmente em 2003 na Inglaterra e que foi finalista do Booker Prize, mais importante prêmio literário britânico, no ano seguinte.
"O que quer que eles façam, meu livro continuará a existir como meu livro. Não tenho um sentimento de propriedade sobre o filme", disse a autora à Folha, quando seu livro foi publicado no Brasil, no ano passado. "Patrick Marber tem sido extremamente solícito e encantador ao longo de todo o processo. Nós nos encontramos várias vezes e tivemos conversas muito agradáveis e interessantes sobre o que ele estava fazendo."
Heller, no entanto, que chama a atenção para o fato de pertencer a uma "família de roteiristas", e que não teria estabelecido condições à adaptação, diz agora que tem sido um tanto difícil para ela se "conformar" com a versão de Marber e Eyre para Barbara, personagem vivida no filme por Judi Dench.
"Ela é infinitamente mais maligna e predatória do que a minha Barbara", reclama a escritora, que já se sentia "decepcionada" quando encontrava leitores que não tinham qualquer "simpatia" ou solidariedade com a personagem, cujas atitudes ambíguas provocam a reviravolta na trama.
"Num certo ponto, tem-se uma sensação desconfortável de como a verdade está sendo filtrada pela perspectiva excêntrica de Barbara", ressalta Heller, defendendo as várias facetas da personagem. "Pessoalmente tenho muito carinho por ela. Barbara é uma mulher muito solitária, amarga, rude e bem maluca. Mas que também deveria soar engraçada."

Boas passagens
Nem tudo parece errado, porém, na adaptação que ora chega às telas. Heller acredita que, no fim das contas, a Barbara criada por Marber "realmente funciona". E que os desempenhos de Dench e Cate Blanchett são "enormemente talentosos".
"Eu não diria que elas são completamente fiéis aos personagens que escrevi. Mas são interpretações inteligentes e interessantes. Então estou perfeitamente contente."
Ressalvas feitas, Heller faz também alguns elogios a acréscimos que Marber fez à sua história. A escritora conta que gosta muito de algumas cenas inventadas pelo roteirista:
"Como a briga entre Sheba e o marido depois que ele descobre sua infidelidade, por exemplo. E também a passagem em quem Stephen aparece na casa de Barbara no dia de Natal. São cenas que enriquecem a dramaticidade da trama original."


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