São Paulo, sexta-feira, 02 de março de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ator de Harry Potter atrai platéia "normal" ao teatro

Em "Equus", Daniel Radcliffe faz ingênuo garoto do interior que vive crise

Peça começa com teatro lotado por um público regular de teatro londrino: muitos adultos e um bom número de turistas


MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DE LONDRES

Adeus bom-mocismo, infantilidade e magia: na recém-estreada "Equus", Daniel Radcliffe tira a roupa de Harry Potter -e todas as outras- para interpretar um adolescente que fuma, fala palavrões e transa.
No papel do problemático Alan Strang, um jovem de 17 anos (como o ator) que é internado sob os cuidados de um psiquiatra após cegar seis cavalos, Radcliffe tenta se descolar do personagem que lhe deu o segundo lugar na lista das mais ricas celebridades adolescentes, segundo a revista "Forbes".
"Queria mostrar que posso fazer outras coisas e que não tenho medo de fazer papéis muito diferentes de Harry", disse Radcliffe ao jornal "Guardian".
Para marcar a passagem de Potter a "Dirty Harry", Radcliffe não mirou baixo, escolhendo um papel ousado que inclui nu frontal, zoofilia e sexo no palco.
O burburinho e a polêmica foram imediatos. Pais temerosos viram a decisão como uma traição ao fã-clube infantil de Potter e ameaçaram boicote aos próximos filmes da série.
"Parte do público pode estar chocada e achar que eu não deveria fazer esse papel, mas isso seria um erro. A pessoa que centraliza as atenções deve ser a que direciona essa atenção", disse Radcliffe.
De qualquer modo, não foi concretizada a expectativa por uma invasão de adolescentes para assistir à peça, que estreou anteontem para uma temporada de quatro meses no Gielgud Theatre, em Londres.
Na pré-estréia que a Folha acompanhou, há uma semana, a maioria da lotada platéia era composta pelo público regular de teatro londrino: adultos, boa parte deles bem mais velhos, e um bom número de turistas.
Em menor número, apesar da censura livre -há um aviso de que "algumas cenas podem não ser adequadas para crianças"-, estavam duplas e trios de adolescentes, interessadas em outros dotes de Radcliffe que não os dramáticos.
O interesse em não apenas ver mas registrar as cenas -que não duram dez minutos- em que o ator aparece nu fez com que o teatro colocasse uma horda de seguranças de olho na platéia, para tentar impedir fotos e filmagens.
Ainda assim, uma busca na internet revela imagens do ator em cena, até mesmo pelado, ainda que em gravações obviamente toscas e curtas.
Além de Radcliffe, a ligação da peça com "Harry Potter" é reforçada pela presença de Richard Griffiths (o tio do mago nos filmes), que faz o papel do dr. Martin Dysart, o psiquiatra que trata o jovem Alan.
Com sua figura larga e magnética e seu papel que centraliza o humor da peça -de resto, um pesado drama psicológico-, Griffiths se destaca.
Radcliffe, assim -já com problemas suficientes para representar Alan, um ingênuo garoto do interior que explode em sua obsessão religiosa e sexual encarnada nos cavalos-, fica em desvantagem.


Texto Anterior: Crítica: Arte fica sujeita a caprichos do mercado em filme
Próximo Texto: Mercado editorial: Suspensa venda de livro sobre Roberto Carlos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.