|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Ator de Harry Potter atrai platéia "normal" ao teatro
Em "Equus", Daniel Radcliffe
faz ingênuo garoto do interior
que vive crise
Peça começa com teatro
lotado por um público
regular de teatro londrino:
muitos adultos e um bom
número de turistas
MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DE LONDRES
Adeus bom-mocismo, infantilidade e magia: na recém-estreada "Equus", Daniel Radcliffe tira a roupa de Harry Potter
-e todas as outras- para interpretar um adolescente que fuma, fala palavrões e transa.
No papel do problemático
Alan Strang, um jovem de 17
anos (como o ator) que é internado sob os cuidados de um
psiquiatra após cegar seis cavalos, Radcliffe tenta se descolar
do personagem que lhe deu o
segundo lugar na lista das mais
ricas celebridades adolescentes, segundo a revista "Forbes".
"Queria mostrar que posso
fazer outras coisas e que não tenho medo de fazer papéis muito diferentes de Harry", disse
Radcliffe ao jornal "Guardian".
Para marcar a passagem de
Potter a "Dirty Harry", Radcliffe não mirou baixo, escolhendo
um papel ousado que inclui nu
frontal, zoofilia e sexo no palco.
O burburinho e a polêmica
foram imediatos. Pais temerosos viram a decisão como uma
traição ao fã-clube infantil de
Potter e ameaçaram boicote
aos próximos filmes da série.
"Parte do público pode estar
chocada e achar que eu não deveria fazer esse papel, mas isso
seria um erro. A pessoa que
centraliza as atenções deve ser
a que direciona essa atenção",
disse Radcliffe.
De qualquer modo, não foi
concretizada a expectativa por
uma invasão de adolescentes
para assistir à peça, que estreou
anteontem para uma temporada de quatro meses no Gielgud
Theatre, em Londres.
Na pré-estréia que a Folha
acompanhou, há uma semana,
a maioria da lotada platéia era
composta pelo público regular
de teatro londrino: adultos, boa
parte deles bem mais velhos, e
um bom número de turistas.
Em menor número, apesar
da censura livre -há um aviso
de que "algumas cenas podem
não ser adequadas para crianças"-, estavam duplas e trios
de adolescentes, interessadas
em outros dotes de Radcliffe
que não os dramáticos.
O interesse em não apenas
ver mas registrar as cenas
-que não duram dez minutos- em que o ator aparece nu
fez com que o teatro colocasse
uma horda de seguranças de
olho na platéia, para tentar impedir fotos e filmagens.
Ainda assim, uma busca na
internet revela imagens do ator
em cena, até mesmo pelado,
ainda que em gravações obviamente toscas e curtas.
Além de Radcliffe, a ligação
da peça com "Harry Potter" é
reforçada pela presença de Richard Griffiths (o tio do mago
nos filmes), que faz o papel do
dr. Martin Dysart, o psiquiatra
que trata o jovem Alan.
Com sua figura larga e magnética e seu papel que centraliza o humor da peça -de resto,
um pesado drama psicológico-, Griffiths se destaca.
Radcliffe, assim -já com
problemas suficientes para representar Alan, um ingênuo
garoto do interior que explode
em sua obsessão religiosa e sexual encarnada nos cavalos-,
fica em desvantagem.
Texto Anterior: Crítica: Arte fica sujeita a caprichos do mercado em filme Próximo Texto: Mercado editorial: Suspensa venda de livro sobre Roberto Carlos Índice
|