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Crítica/artes plásticas
Exibição de "Penetráveis" amplia visão sobre Oiticica
Ótima exposição no Rio reúne trabalhos que convidam o espectador à interação
FABIO CYPRIANO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
Os "Penetráveis" representam um dos momentos fundamentais
na trajetória de Hélio Oiticica
(1937-1980), quando o artista
passa a criar espaços de convivência que rompem com a relação formal entre arte e observador e pedem presença ativa e
distendida no tempo.
"Hélio Oiticica: Penetráveis",
em cartaz no Centro Municipal
de Arte Hélio Oiticica (Centro
HO), no Rio, com curadoria de
César Oiticica, César Oiticica
Filho e Luciano Figueiredo,
apresenta um conjunto significativo, sem cair no risco de
"museificar" os trabalhos. São
seis penetráveis, mas alguns
contêm outros vários, como
"Éden", que possui seis, como
"Cannabiana", "Lololiana" ou
"Yemanjá".
Criados para serem vivenciados (ou penetrados) pelo espectador, seria uma contradição "institucionalizar" essas
obras de modo que só pudessem ser vistas e não experimentadas. É o que tem ocorrido com outros trabalhos daquele período, caso notório dos
"Bichos", de Lygia Clark, muitas vezes exibidos em vitrines,
como se não fossem objetos para serem manipulados.
Mas no Centro HO, como
queria o autor, não há limites à
participação. Além de apresentar obras que tiveram bastante
visibilidade recentemente, como "Tropicália", ou muito conhecidas, como "Éden" (exposta na Whitechapel Gallery, de
Londres, em 1969, e vista hoje
pelos novos manuais de história da arte como uma espécie de
obra-prima de Oiticica), a exposição surpreende especialmente ao remontar penetráveis até agora praticamente ignorados, que estimulam um
novo olhar sobre o autor.
É o caso, por exemplo, de
"Rhodislandia: contact", de
1971, feito na Universidade de
Rhode Island, que traz um Oiticica mais introspectivo e intimista. O trabalho troca as cores
fortes em superfícies por telas
transparentes e iluminação colorida, além de um piso com pedras e galhos secos, materiais
que tinham relação com o contexto norte-americano.
Mais inesperado ainda é "Rijanviera", de 1979, montado
apenas na galeria Café des Arts,
do Hotel Meridien, do Rio, naquele ano. Composto por uma
estrutura de metal com várias
plataformas por onde circula
água, esse Penetrável só ganha
sentido quando percorrido pelo visitante descalço. Enquanto
em "Tropicália" a referência
era o morro da Mangueira, em
"Rijanviera" é a maré baixa das
praias cariocas. Reconhecida
mas ainda muito incompreendida, quando não simplificada
em demasia, a obra de Oiticica,
com essa mostra, ganha novas
possibilidades de compreensão, em seus diálogos com o
contexto e em seu convite à interação -algo que no virtualismo do século 21 se reveste de
um sentido extra.
HELIO OITICICA: PENETRÁVEIS
Onde: Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica (r. Luís de Camões, 68,
Rio, tel. 0/xx/21/2242-1012)
Quando: de ter. a sex., das 11h às
18h; sáb. e dom., das 11h às 17h;
até 21/6
Quanto: entrada franca
Avaliação: ótimo
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