São Paulo, segunda-feira, 02 de março de 2009

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Burle Marx ganha mostra à altura de sua produção

DO ENVIADO AO RIO

Paisagista, pintor, designer de joias, ceramista, tapeceiro, autor de cenários e figurinos de teatro, músico e ecologista, Roberto Burle Marx (1909-1994) ganha no centenário de seu nascimento uma mostra à altura de todas as suas atividades com "A Permanência do Instável", em cartaz no Paço Imperial do Rio.
Com curadoria de Lauro Cavalcanti, também diretor da instituição, a exposição apresenta a extensa produção de Burle Marx em mais de 335 objetos, de pinturas, gravuras e aquarelas a um jardim suspenso, projetado inicialmente para uma área interna do Museu Nacional de Belas Artes do Rio, primeira imagem que se vê do artista na mostra, junto a cerâmicas dispostas nas paredes externas. Aí se revelam trunfos da exposição -a extensa pesquisa em torno da obra de Burle Marx e a exibição de um trabalho de paisagismo ao vivo, não apenas em documentos.
Ao longo da mostra, que ocupa os dois pavimentos do edifício do Paço, uma linha do tempo apresenta todos os fatos marcantes da vida do homenageado. Mas, disposta no chão, a sinalização cria um efeito desconfortável -o único senão da montagem. Paulista que viveu dois anos na Alemanha (1928/29), onde tomou contato com a produção moderna borbulhante do período da República de Weimar, Burle Marx vai se caracterizar como fiel seguidor do modernismo, especialmente ao conceber seus jardins como construções abstratas, mas vinculado a uma vertente tropical e, portanto, orgânica. Em "A permanência do Instável" isso se torna patente em muitas de suas pinturas e guaches, dispostas no primeiro pavimento, que parecem vistas aéreas de seus jardins, fazendo com que tinta e plantas se transformem num componente único em seu sistema de criação.
Ou mesmo linhas, como se vê em outro ponto alto da mostra, a exibição da maior tapeçaria criada pelo artista, em 1969, para a prefeitura de Santo André, com 26 metros de largura por 3,3 metros de altura. É no segundo pavimento, contudo, que está disposta a parte mais conhecida e reconhecida da obra de Burle Marx: seus paisagismos. Do Parque do Flamengo (1961) e da calçada e jardins da avenida Atlântica (70), ambos no Rio, aos jardins da Pampulha (42), em Belo Horizonte, passando pelo Ibirapuera (53), em São Paulo, e pelos jardins da Unesco (63), em Paris, só para citar alguns dos projetos mais famosos, a curadoria reuniu uma ampla documentação em desenhos, fotos, maquetes e filmes.
É dessas exposições imperdíveis, nas quais se compreende não só uma obra, mas um sistema de pensamento. (FCY)


ROBERTO BURLE MARX 100 ANOS, A PERMANÊNCIA DO INSTÁVEL

Onde: Paço Imperial do Rio de Janeiro (praça 15 de Novembro, 48, centro, tel. 0/xx/21/2533-4407)
Quando: ter. a dom., das 12h às 18h; até 22/3
Quanto: entrada franca
Avaliação: ótimo



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