São Paulo, quarta-feira, 02 de março de 2011

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CRÍTICA INSTRUMENTAL

Disco póstumo inédito expressa lirismo e leveza do estilo do clarinetista Paulo Moura

FABRICIO VIEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Um projeto iniciado por Paulo Moura (1932-2010) há mais de cinco anos acaba de ganhar vida.
Primeiro disco póstumo do mais talentoso clarinetista brasileiro, "Alento" surge com faixas inéditas realizadas em algumas das últimas sessões conduzidas pelo músico, morto em julho do ano passado.
Era 2005 quando Moura convidou o flautista Paulo Martins para realizar algo com ele, nada formal, sem planejamentos prévios.
Até 2009, os músicos se encontraram diversas vezes para experimentar e testar novos sons. E foram nessas reuniões esparsas e descompromissadas que brotaram as faixas de "Alento".
Moura mantinha-se em boa forma destilando uma clarineta macia, reconfortante, sensual até, como pode ser comprovado em "Mulatas e etc.", um dos temas do músico resgatados no álbum.
Das nove composições presentes no trabalho, cinco trazem sua assinatura. "Abertura 3D" inicia o disco com lirismo. Após a entrada conduzida por violoncelo e violino, uma sutil camada percussiva forma a delicada base rítmica sobre a qual sopros e cordas deslizam.
O esquema se mantém em "Road Movie", na qual a clarineta de Moura dialoga mais vivamente com o violino de Daniel Guedes, em uma fluidez discursiva sem espaços para arroubos virtuosísticos ou exibições supérfluas.
Martins, antigo aluno de Moura, agregou ao projeto o pessoal do Teatro do Som, grupo que fundou na década de 1980.
A diversidade instrumental que marca a passagem de um tema a outro, que vai do trio de "Oju Obá" ao septeto de "Abertura 3D", não compromete, contudo, a unidade deste trabalho.
À clarineta e à flauta juntam-se diferentes instrumentos de corda (baixo, violão, violoncelo e violino), percussão, teclado e até uma gaita, trazendo um colorido dinâmico ao disco.
É apenas no final que o tom escorrega um pouco. "Troca de Olhares" e "De Volta a Alexandria" fecham a obra em um nível abaixo do verificado no restante de "Alento". Com seus teclados e sintetizadores, acabam por exalar certo aroma "smooth jazz" desnecessário.

ALENTO

ARTISTA Paulo Moura e Teatro do Som
LANÇAMENTO Biscoito Fino
QUANTO R$ 34, em média
AVALIAÇÃO bom


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