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"Benjamim" revela o cinema para Cleo Pires
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
Ver Cleo Pires é como olhar para sua mãe, Glória Pires -uma
das atrizes brasileiras que conquistaram na TV o status de estrela perene-, aos 21 anos. "Também acho que sou muito parecida
com ela. Corpo igual. Mãos iguais.
Digo isso, e ela adora."
Hoje, com a estréia do longa
"Benjamim", baseado no livro
homônimo de Chico Buarque,
Cleo debuta como atriz, profissão
também de seu pai, Fábio Jr., que
ela diz nunca haver cogitado.
"Estava completamente divorciada dessa idéia [de ser atriz].
Nem divorciada, porque nunca a
namorei." Mas diz que "algumas
vezes" gostava de se imaginar nos
filmes que via e gostava, como
"Beleza Roubada" (Bernardo Bertolucci, 1996).
"Ficava pensando como devia
ser legal você viver uma realidade
completamente diferente da sua.
Aí acaba a cena, pronto. Você volta a ser você mesma."
O convite da diretora Monique
Gardenberg para atuar no longa,
no papel duplo da atriz Castana
Beatriz e da corretora de imóveis
Ariela Masé, foi aceito porque a
confiança que a diretora demonstrou em sua capacidade a comoveu. "Achei muito fofo o jeito que
ela falou comigo. Queria que eu
fosse protagonista e nunca tinha
me visto fazer nada."
Antes de filmar, diretora e atriz
ensaiaram cena a cena. Apenas na
fase dos ensaios Cleo conheceu
pessoalmente o ator Paulo José,
intérprete de Benjamim, seu 24º
personagem no cinema, desde o
clássico "O Padre e a Moça" (Joaquim Pedro de Andrade, 1965).
No encontro profissional com a
moça Cleo, Paulo José percebeu
algumas qualidades próprias dos
atores que nascem prontos. "A espontaneidade da Cleo, fazendo
tudo sem o menor esforço, é exatamente o que procuro demonstrar nas palestras sobre interpretação no cinema. Descontração,
simplicidade, boa execução das
ações físicas são qualidades que
ela tem. Mas isso não é tudo. Tem
também essa outra qualidade,
inexplicável, que não se aprende
no colégio nem está nos manuais
-a empatia, a fotogenia, que fazem dela um animal cinematográfico, um olhar que rasga a tela
e paira sobre toda a platéia."
Agora convicta de que quer ser
atriz, Cleo pretende seguir um
curso de interpretação em Los
Angeles, nos Estados Unidos.
"Tenho que estar mais preparada.
Nem sempre vou ter a Monique
do meu lado. Mas existem muitas
outras coisas que eu queria aprender -marcenaria, direito, decoração, tocar guitarra, culinária."
Enquanto a moça se prepara para o começo, o ator, de 67 anos,
segue refletindo sobre os benefícios da longevidade na profissão.
"Uma grande vantagem de nosso ofício é que há ótimos papéis
para todas as idades. Envelhecer
pode ser qualidade. Gosto da cara
que tenho agora. Tenho um orgulho de sobrevivente."
Paulo José tem também outro
orgulho manifesto: "Os atores do
cinema brasileiro são dignos, não
são exibicionistas de feira nem
têm "público-tropismo", essa enfermidade causada pela vaidade".
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