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CRÍTICA
Filme gera encanto retardado
FERNANDO DE BARROS E SILVA
EDITOR DE BRASIL
Monique Gardenberg fez
uma opção clara pelo espírito que anima o livro de Chico
Buarque. Evitou transformá-lo
numa obra de impacto e apelo
mais fácil, num produto para exportação, tentações comuns nestes tempos em que a auto-proclamada maioridade do cinema nacional se confunde com um bilhete de ingresso na festa do Oscar.
"Benjamim" resultou num belo
filme. É provável que seja recebido com certa frieza exatamente
pelas qualidades que exibe: a trama amorosa que amarra passado
e presente e Benjamim Zambraia
a Castana Beatriz/Ariela Masé
não se impõe como melodrama
sobre as demais dimensões do
enredo; o retrato do Rio de Janeiro não tem nada de cartão-postal.
"Benjamim" é narrado menos
pelos acontecimentos do que pelos pensamentos atormentados
de Zambraia, preso ao fantasma
de seu passado, que busca redimir
sem ter consciência disso.
O filme, como disse a diretora,
transcorre a um palmo do chão.
A atuação de Paulo José no delicado papel do protagonista é primorosa, talvez o ponto alto da
adaptação. Seu Zambraia é composto de gestos mínimos, vacilantes, exprimem não só sua fragilidade, mas uma espécie de estado
mineral a que está condenado. O
resto de dandismo do personagem o coloca numa relação muito
particular com o tempo e o subtrai do espaço à sua volta.
Também muito positiva é a estréia de Cleo Pires no duplo papel
de Castana/Ariela. É particularmente feliz e sem afetações a mistura entre inocência e arrivismo
que ela obtém interpretando a
corretora de imóveis que traz o
passado de Zambraia à tona.
Gardenberg filma os anos 60
com cores berrantes e imagens
granuladas. A câmera, mais estática, parece compor quadros de
uma época feliz, fantasiosa. Já as
imagens do presente têm cores
menos intensas e cenas mais agitadas. A fotografia de Marcelo
Durst conseguiu nesse contraste
um belo efeito de linguagem. A
trilha, que também opera nesse
duplo registro, é outro destaque.
"Benjamim" não é um filme genial, que arrebate. Mas parece ir se
tornando melhor à medida que
nos distanciamos da sessão. Provoca um encanto retardado, que o
aproxima da boa literatura.
Benjamim
Direção: Monique Gardenberg
Produção: Brasil, 2003
Com: Cleo Pires, Paulo José
Quando: a partir de hoje nos cines
Morumbi, Cinearte, Villa-Lobos e circuito
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